Pôs uma criança no meio deles... (Mc 9,30-37)
As coisas não eram nada fáceis
para Jesus... Cercado de inimigos, ele acabara de anunciar - pela segunda vez!
– a Paixão cruenta que estava à sua espera, e seus discípulos, como se fossem
surdos, caminham discutindo qual deles seria o maioral quando o Mestre
implantasse o seu Reino... O Mestre fala de sua prisão e morte e os seguidores
ainda sonham com cargos e poderes, posição de destaque e eventuais honrarias.
É quando Jesus pega uma
criancinha que estava ali por perto e a abraça, apertando-a contra a alva
túnica sem costuras tecida por sua Mãe. Qual terá sido a sua intenção? Apenas
um gesto de carinho? Um derramamento emocional? Deixamos a resposta com o monge
beneditino François C.- Trévedy:
“Jesus nos convida a
assemelhar-nos às criancinhas por causa da semelhança de suas capacidades de
silêncio, de maravilhamento, de abandono e de brincadeira com aquelas que abrem
o acesso ao Reino. Ele nos impele a crescer na direção de que as crianças, na
graça mitigada de sua condição contingente, são apenas os indicadores.”
Bem entendido, alerta o mesmo
Autor, a criança de que Jesus nos fala não é o homem imperfeito, nem sua
miniatura, nem sua pré-história, mas o seu cerne; não o seu anterior, mas seu
íntimo: aquele centro sob a casca que, por toda a sua vida, ela vai percebendo
e trata de fazer crescer.
É assim que Jesus toma uma
criancinha e a coloca bem no meio dos discípulos como uma profecia de valor
escatológico, pois aponta para o futuro a ser alcançado. O adulto pensa que já
está pronto. O ancião sente que está murchando. Mas a criança olha para o
futuro, pois há um ponto a ser atingido, uma dimensão a ser conquistada.
A doutrina do Evangelho de Jesus
é uma escola de “crescimento”: sementes que vão brotando, grãos que se
multiplicam, ramos que se estendem para o céu. Nada parecido como tronos para
pessoas assentadas e realizadas. Por isso Jesus aponta para a criança, esse mistério
oculto aos olhos do mundo, tal como o Reino de Deus.
Não admira que Nicodemos, o
fariseu adulto, ficasse perplexo com a ideia de “nascer de novo” (cf. Jo 3,4).
Por certo, ele se julgava homem feito, pronto, acabado, quando o Reino exige o
impulso vital da criança, sua prontidão, sua elasticidade.
Corremos o risco de ficar
petrificados, mumificados, incapazes de crescer na graça...
Orai
sem cessar: “Israel era ainda criança, e já eu o amava!”
(Os 11,1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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