quinta-feira, 18 de outubro de 2018

PALAVRA DE VIDA

Cordeiros no meio de lobos... (Lc 10,1-9)
            O lobo é um animal carnívoro. Um predador. Movido pelo instinto feroz, ataca e destrói. O cordeiro é um herbívoro. Seu traço dominante é a mansidão. De espírito gregário, vive em grupo, pacificamente.
            Jesus Cristo não podia ter escolhido melhor imagem para significar a missão daqueles que foram encarregados de anunciar a paz. O Messias - que Isaías descreveu profeticamente como o cordeiro que se deixa conduzir ao matadouro, ovelha muda que se deixa tosquiar (cf. Is 53) - não podia tornar-se um brutal chefe de quadrilha ou um general à frente de uma milícia de conquistadores. O anúncio da Boa Nova não é campanha de conquista, mas proposta de paz.
            A sociedade humana não parece ter compreendido bem as intenções de Jesus. Nossas bandeiras e brasões mostram águias e leões, aves de rapina e outros símbolos de força, poder e destruição. A polícia brasileira, que deveria ser por vocação uma organização que se aproximasse do povo para prestar serviços, adota emblemas com caveiras, serpentes e punhais, inspirando medo e repulsa. Nós, Igreja, não podemos ser assim...
            Aliás, a própria história da Igreja e sua incontável legião de mártires confirma que Jesus tinha toda razão ao falar de cordeiros entre lobos. Presas entre predadores. Desde a lapidação de Estêvão e a execução do apóstolo Tiago (cf. At 7,58; 12,2), um rio de sangue correu dos corpos dos cristãos perseguidos e torturados. E era com notável alegria que eles se abandonavam aos carrascos, pedindo a Deus que não lhes imputasse tal crime.
            Depois disso, como poderíamos assumir uma posição vitimista, infantil, e chorar lágrimas de esguicho porque a Igreja e seus membros sofrem calúnias e perseguição? Isto nos espanta? Ora, o próprio Senhor nos avisou que seria assim. Jesus Cristo nunca nos prometeu rosas, mas foi o primeiro a aceitar os espinhos...
            Um de nossos símbolos litúrgicos é o Cordeiro imolado, que ergue o estandarte da vitória. Mas ele traz as marcas de sua Paixão, pois não há ressurreição sem morte. Pena que nossa visão da morte de Jesus no Calvário deixe na sombra sua força, sua coragem, sua ousadia! É bem mais fácil sacar da espada e cortar orelhas... Difícil é seguir sempre adiante, como Cristo, para cumprir a nossa missão...
Orai sem cessar: “Minha cidadela é Deus, o Deus que me é fiel!” (Sl 59,18)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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