quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sois como túmulos... (Lc 11,42-46)
            Entre os preceitos da Antiga Aliança, figurava este alerta: quem tocasse em um túmulo estaria ritualmente impuro pelo período de sete dias (cf. Nm 19,16), devendo submeter-se a estrito ritual de purificação. Por isso mesmo, os túmulos eram caiados, para que a brancura da cal chamasse a atenção dos distraídos.
            Jesus se vale desta imagem para denunciar a duplicidade dos fariseus, que se esmeravam no cumprimento de pequenos detalhes preceituais, mas deixavam de cumprir mandamentos essenciais, como o amor ao próximo. Exteriormente, uma aparência de pureza; internamente, completa corrupção. Ou seja, uma “religião” feita de máscaras...
            Sempre houve este risco de valorizar o culto e as atitudes exteriores em detrimento de uma interioridade sincera. A viúva rica doava os vitrais para a igreja, mas fazia questão de que seu nome fosse gravado no vidro. O fazendeiro avisou que não daria mais garrotes para o leilão, porque seu nome não fora citado na hora dos lances. Vamos para a missa de domingo com roupa limpinha, mas continuamos a ver as novelas de TV com seu desfile de pornografia, violência, traições e desprezo pela virtude...
            Esta deformação da vida cristã merece o mesmo rótulo que Jesus aplicou aos fariseus de seu tempo: hipocrisia. Em lugar de uma humilde submissão à vontade de Deus, expressa nos mandamentos e no magistério da Igreja, acha-se uma forma de aparentar um ar de religiosidade, enquanto o coração permanece rebelde, apegado ao próprio eu, movido apenas por interesses pessoais.
            Sem dúvida, o servidor de Deus recusa a ostentação e o luxo, abre mão do supérfluo, acolhe os necessitados, gasta tempo e dinheiro com os outros. Que pensar de evangelizadores e “ministérios” de música que só se apresentam sob a condição de polpuda remuneração?
            Em nosso tempo, o risco de duplicidade é ainda maior: com a exposição pelos meios de comunicação os evangelizadores se arriscam a viver como simples animadores de TV, artistas de palco, tornando-se ídolos de uma plateia que os “consome”.
            Jesus de Nazaré – que não tinha onde repousar a cabeça (cf. Mt 8,20) – continua sendo nosso modelo extremo de fidelidade à missão que o Pai lhe confiara, sem se preocupar com os agrados e os aplausos da multidão.
Orai sem cessar: “Não são os mortos que louvam o Senhor!” (Sl 115,17)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário