A paz seria como um rio... (Is 48,17-19)
Esta
passagem do profeta Isaías traz uma lamentação do próprio Deus ao ver que Israel,
seu povo de predileção, desperdiça as oportunidades de chegar à paz e à
felicidade: “Quem dera tivesses levado a sério as minhas ordens!”
Partimos
do princípio de que Deus é bom, inacessível ao mal, inteiramente dedicado a
promover o nosso bem. Assim sendo, aquilo que poderia ser visto como simples
proibição da parte dele, é, na verdade, um gesto de amor. Por exemplo, o 5º
mandamento: “Não matarás!” E aquilo que poderia ser tomado como mero conselho,
é, no fundo, um itinerário de paz. Por exemplo, o 4º mandamento: “Honra teu pai
e tua mãe!”
Quando
um filho se sente amado, ele se esforça por ser obediente, pois entende que sua
atitude é uma resposta amorosa ao amor recebido. Se, ao contrário, não
experimenta o amor dos pais, facilmente assumirá uma atitude de rebeldia, vendo
nas ordens, conselhos ou admoestações dos pais uma espécie de escravidão.
A
história de Israel, no Antigo Testamento, é a narrativa de um povo que foi
objeto de todas as preferências divinas e, apesar disso, foi repetindo ao longo
do tempo uma série de desvios e quebras da Aliança, incluindo a busca de
autodeterminação, a idolatria e a corrupção dos costumes.
Daí
o lamento de Deus, pela boca de Isaías, ao mostrar todos os dons desperdiçados
pela desobediência: uma paz sem limites, a descendência numerosa, filhos
incontáveis como grãos de areia.
Não
seria o caso de aplicar a experiência de Israel à nossa própria sociedade, que
abre mão dos valores do Evangelho para idolatrar o dinheiro e o lucro, o poder
e o sucesso? E, em consequência, vê os pobres explorados, os fracos
marginalizados, as crianças transformadas em mão de obra semiescrava?
Ou, quem sabe,
aplicá-la à nossa experiência pessoal, quando nós permitimos que nossa mente
fosse “catequizada” pelos valores do mundo pagão? Não foi assim que passamos a
zombar da virgindade? Não foi assim que começamos a rir da “infantilidade” dos
honestos? Não foi assim que adotamos aqueles métodos e procedimentos
“pragmáticos” e utilitaristas, segundo os quais os meios justificam os fins e
“é preciso levar vantagem em tudo”, certo?
Quando
o Evangelho fala de “conversão”, sugere que voltemos a Deus... E assim
encontraremos a paz...
Orai sem cessar: “Quem
ama tua lei, Senhor, tem muita paz.” (Sl 119,165)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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