Elias já veio... (Mt 17,10-13)
A tradição
judaica, mantida pelos escribas, entendia a profecia de Malaquias (cf. Ml 3,23)
como um “regresso” do profeta Elias (que não morrera, mas fora arrebatado ao
céu – cf. 2Rs 2,11) para anunciar a vinda do Messias prometido. O povo hebreu
estava acostumado a receber mensageiros de Deus que falavam em seu nome, como
os profetas da Primeira Aliança, aliás, habitualmente rejeitados e perseguidos.
Nesta passagem, ao
afirmar que “Elias já veio”, Jesus se refere à missão de João Batista –
autêntica dobradiça entre as duas lâminas da Escritura: os dois Testamentos.
João seria o último dos profetas a preparar os caminhos do Senhor. E cumpriu
sua tarefa até a própria morte.
Assim, Jesus chama
a atenção para a aparente “inutilidade” da vinda de João Batista, já que ele
“veio e não o reconheceram; pelo contrário, fizeram com ele tudo o que
quiseram” (Mt 17,12).
Aqui, estamos
diante de uma constante na história dos homens: Deus envia seus profetas e
estes são sistematicamente repelidos. Os falsos profetas sempre receberão
acolhida e aplausos, pois costumam dizer exatamente o que a opinião pública
deseja ouvir. Já os profetas, fiéis à mensagem recebida do Senhor, ao apontarem
os crimes da sociedade e os abusos dos poderosos, acabam lançados ao fundo da
cisterna (como Jeremias) ou jurados de morte (como Elias).
Na Primeira
Aliança, os profetas eram chamados “nabi” (aquele que fala) ou “ro’eh” (aquele
que vê). Triste missão a dos profetas: falar para quem não quer ouvir (“para
que ouvindo, não ouçam...” Mt 13,13) e ver o que a sociedade se recusa a
enxergar (“porventura também nós somos cegos?” Jo 9,40).
Desde Elias até
João Batista, manifesta-se com evidência a dupla missão do profeta: anunciar e
denunciar. Desde Jesus Cristo, também a Igreja é portadora de idêntica missão,
o que lhe vale a sistemática inimizade dos poderosos que pretendem escravizar o
homem e odeiam seus defensores. Ao defender a vida e denunciar o aborto legal,
a Igreja faz profecia. Ao defender a família e denunciar os excessos do ateísmo
de Estado, a Igreja atualiza a missão dos profetas.
Todo leigo
batizado é herdeiro da missão profética de Jesus. E seu silêncio diante dos
crimes dos poderosos equivale a uma apostasia.
Orai sem cessar: “É
por causa de Sião que eu não me calo!” (Is 62,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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