Que devemos fazer? (Lc 3,10-18)
Todo aquele que
deseja sinceramente começar uma vida nova deve assumir “deveres” diante de Deus
e diante do próximo. É grande a ilusão daqueles que veem a religião como um
conjunto de técnicas para pôr a divindade a seu serviço e dela arrancar
proteção, favores e privilégios.
Um coração sincero, sem gorduras (cf. Sl
16,10 – BJ), que não está entupido de sebo (cf. Sl 119,70), abre-se prontamente
à pregação da Boa Nova, com a consciência de que existe algo a fazer. Daí a
pergunta que os ouvintes fazem a João Batista: “Que devemos fazer?” Não é mera
coincidência que se trate exatamente da pergunta feita por aqueles que ouviram
de Pedro (cf. At 2,37) o primeiro sermão da história da Igreja.
“Nas respostas que
João dá àqueles que estão dispostos à penitência – comenta Hans Urs von
Balthasar – manifesta-se que o mandamento radical do amor de Jesus já estava
perfeitamente preparado na Antiga Aliança, e até podia aparecer com clareza a
toda consciência não pervertida.
Este mandamento
impõe uma partilha fraternal quando meu próximo não tem os meios necessários para
se vestir e se alimentar suficientemente. Ele impõe a justiça na cobrança dos
impostos e de outras taxas. E obriga – o que pode ser difícil para os soldados
– a respeitar os limites no uso da força: nem roubo, nem exações, nem exigência
de um soldo mais elevado.
Aquilo que João
nos pede pode ser justificado a partir dos profetas, e por isso João não deve
ser confundido com o Messias que virá. Este, diante de quem o Batista se
humilha, traz um meio de purificação completamente diferente: o Espírito Santo,
que nos mostrará os pecados a partir de Deus, e que pode consumi-los com seu
fogo.
O Espírito também
nos colocará diante da decisão definitiva entre o ‘sim’ e o ‘não’, entre o grão
e a palha. Com tais advertências, prendendo-se ao fim último da preparação, o
Batista é ‘o maior entre os nascidos de mulher’ (cf. Lc 7,28), e já percebendo
o começo do novo. E talvez seja exatamente sua profunda humildade que o faz
ultrapassar a fronteira: ele é o ‘amigo do esposo’ (cf. Jo 3,29), cujo batismo
é retomado por Jesus e preenchido de um novo conteúdo.”
A exigência de
transformação inerente à aproximação do Senhor levou os apóstolos a insistirem no
convite à alegria que gera em nós a ação transformadora do Espírito:
“Alegrai-vos! O Senhor está próximo!” (Fl 4,7)
Orai sem cessar: “Ide
a ele cantando de alegria!”
(Sl 100,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário