Em todo o tempo... (Lc 21,25-28.34-36)
Neste 1º Domingo
do Advento, a Igreja se veste de roxo e, recolhida, prepara-se para o Natal.
Mas este Evangelho nada tem de bucólico, não fala de presépios, nem
carneirinhos, nem idílicos pastores. Com certo espanto, ouvimos falar do Juízo
Final...
Quando será a segunda Vinda do Senhor?
Ninguém sabe, só o Pai. E quando devemos rezar e vigiar? Hoje e em todo o
tempo. Por isso mesmo, a Igreja abre o ano litúrgico com uma visão prévia do
regresso de Jesus Cristo. Deste modo, nos lembramos de que sua primeira vinda –
o Natal – é inseparável da segunda – o Juízo Final.
É assim que Urs
von Balthasar comenta este Evangelho: “A Escritura nos diz sem cessar: com a
Encarnação de Cristo começa o fim dos tempos. Deus pronuncia sua última palavra
(cf. Hb 1,2), só resta agora ver se os homens querem escutá-la ou não. A última
palavra que, no Natal, vem sobre a terra “para a queda e o reerguimento de
muitos” (cf. Lc 2,34), é “mais incisiva que uma espada de dois gumes... ela
pode julgar os sentimentos e os pensamentos do coração... tudo está nu e
descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Hb 4,12ss).
O Verbo encarnado
de Deus é crise, divisão: ele vem para a salvação do mundo; mas aquele que “me
rejeita e não recebe minhas palavras tem seu juiz: a palavra que eu fiz ouvir,
é ela que o julgará no último dia” (Jo 12,47). Aquilo que consideramos como um
grande intervalo entre o Natal e o Juízo Final não é outra coisa, senão o tempo
que nos é deixado para a decisão. Muitos dirão ‘sim’, mas é como se, no decurso
de tempo concedido, o ‘não’ o dominasse.
É significativo
que, no primeiro pedido de informação sobre o Salvador desejado por toda a
Primeira Aliança, ‘Jerusalém inteira se alarma’ (Mt 2,3) e que, já no terceiro
dia após o Natal, tenhamos de celebrar a festa dos santos inocentes.
Igualmente, desde o início de sua atividade pública, a morte de Jesus já esteja
decidida (cf. Mc 3,6).
Ele veio a este
mundo para trazer, não a paz, mas a espada (Mt 10,34). O Natal não é uma festa
da gentileza, mas da impotência do amor de Deus, que só através da morte irá
manifestar sua onipotência. Por todo o tempo em que estamos postos à prova,
impõe-se um permanente ‘vigiai e orai’”.
A vida do pagão
pode ser um profundo sono, dopado pela ambição e pelos prazeres do mundo, mas o
cristão orienta sua existência para o Senhor que dará o “acabamento” à obra
iniciada em nós “no dia de Jesus Cristo” (cf. Fl 1,6).
Orai sem cessar: “Ficarei
de guarda para perceber o que Deus me vai falar...” (Hab 2,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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