segunda-feira, 31 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 E serás feliz... (Lc 14,12-14)
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            Desconcertante esse Mestre! Duras as suas palavras! Ele insiste em trafegar na contramão do mundo. A cada passo, seu Evangelho denuncia sem disfarces o nosso paganismo...

            Agora, vem Jesus com uma nova “receita de felicidade”: dar a quem não pode retribuir, emprestar a quem não pode pagar, acumular um crédito que só se salda além da morte...
            Ora, amado Mestre, quem disse que estamos assim tão preocupados com o “outro mundo”? Quem lhe garante que ainda cremos nessas realidades espirituais? A turma está de olho, mesmo, é no pão-nosso-de-cada-dia! Gastamos todo o tempo e todo o sangue para “faturar”, poupar, acumular, fazer render. Os pobres nos incomodam com todo esse pedinchório: chegamos a mudar de calçada para escapar daquelas mãos vazias! Erguemos altos muros para mantê-los à distância.
            E vem o amado Mestre a nos dizer que a felicidade é de outra natureza? Quer dizer, então, que um bom pé-de-meia não garantirá nossa felicidade? Uns bons amigos no Governo não facilitarão a nossa vida? Umas companhias alegres e descompromissadas não farão mais divertidas as nossas noitadas? Um título de sócio patrimonial não nos trará a paz interior?
            Bem, lá no íntimo, sabemos que o Mestre tem razão. Mas quem disse que nós fazemos questão de encarar a verdade? Estamos tão acostumados a mentir. Tão afeitos a participar da vida social como de um baile de máscaras! “Adivinhe quem sou?
            Mas só o Mestre sabe quem somos. Ele sabe também quem podemos vir a ser. Sabe que por trás de um Agostinho gozador se esconde um santo em potencial. Por baixo de um Saulo odioso se oculta um Paulo apaixonado. Ele sabe...
            Aliás, por falar em pobres, não somos também nós mendigos de amor? Não somos coxos, estropiados, errando em círculos pelo deserto da vida? Não somos cegos andarilhos que perderam o rumo do próprio lar? Não estamos famintos de um alimento que dure para sempre?
            Por isso mesmo, é a nós que o Senhor convida: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor!” Bendita a fome que nos leva à sua mesa! Bendita a pobreza que nos faz seus convidados!
Orai sem cessar: “Preparas uma mesa para mim...” (Sl 23,5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 30 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Restituir o quádruplo! (Lc 19,1-10)
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            Em pleno banquete, cercado de gente conhecida, Zaqueu se toca com a presença de Jesus em sua casa e manifesta publicamente a decisão de restituir os valores que arrecadara em excesso, de modo fraudulento. Estamos diante de um caso de “reparação”.

            Quando nós nos confessamos e recebemos uma “penitência” do sacerdote, o sentido profundo dessa prática é exatamente a reparação do mal causado por nossos pecados. Arrependidos de nossos vícios e crimes, pedimos (e recebemos!) o perdão de Deus, mas ainda estamos obrigados a reparar o mal que cometemos.
            Assim nos ensina o “Catecismo da Igreja Católica” (nº 2487): “Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo que seu autor tenha sido perdoado. Quando se torna impossível reparar um erro publicamente, deve-se fazê-lo em segredo; se aquele que sofreu o prejuízo não pode ser diretamente indenizado, deve-se dar-lhe satisfação moralmente, em nome da caridade. Esse dever de reparação se refere também às faltas cometidas contra a reputação de outrem. Essa reparação, moral e às vezes material, será avaliada na proporção do dano causado e obriga em consciência.”
            O gesto de reparação é a prova cabal de um coração contrito e arrependido. Tanto que Jesus não consegue evitar o comentário final: “Hoje, a salvação entrou nesta casa!”
            Quando os órgãos de imprensa lançam lama sobre a reputação de gente inocente, raramente tentam reparar os erros cometidos. A manchete de lama vem na primeira página; o “erramos” vem no miolo do jornal, em letrinhas bem pequenas. Nós não podemos ser assim.
            Conta-se que uma mulher procurou por Santo Afonso de Ligório para se confessar. Seu pecado de estimação era a calúnia. O Santo teria deixado a confissão interrompida, ordenando que a penitente fosse a casa, pegasse uma galinha e voltasse até a igreja, depenando a pobrezinha. Já de volta ao confessionário, recebeu a penitência: recolher todas aquelas penas que viera jogando ao longo das ruas. A infeliz disse: - “Mas isto é impossível! O vento já espalhou todas elas...” E o Santo: “Assim também não há como recolher todas as calúnias que você tem feito contra os outros...”

Orai sem cessar: “Feliz o homem cujo pecado foi absolvido!” (Sl 32, 1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 29 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 No último lugar... (Lc 14,1.7-11)
Resultado de imagem para (Lc 14,1.7-11)            A lição de Jesus não poderia ser mais clara: o Reino de Deus é franqueado aos últimos. O último lugar da fila é a garantia da entrada pela porta estreita. Nada parecido com nossa mentalidade de produção e eficiência...

            Na verdade, para sermos exatos, o último lugar está definitivamente vedado a todos nós, porque ele já foi ocupado antes: e é Jesus que o ocupa para sempre, observava Charles de Foucauld. Ao abrir mão de suas divinas regalias, assumindo nossa carne mortal, baixando ao nível de um escravo, sofrendo as ignomínias da Paixão, Jesus se fez o último de todos.
            Nas palavras de André Louf, “a vida e a morte de Jesus foram desempenhadas no último lugar. Desde seu nascimento, passando por seu batismo e a tríplice tentação, até sua morte, Jesus assume a contramão de toda pompa messiânica com a qual os judeus de seu tempo podiam sonhar, para mergulhar em um rebaixamento onde sua glória só é visível aos que creem”.
            Prossegue o mesmo autor: “A Igreja que caminha amorosamente aqui em baixo, sobre as pegadas de seu Esposo, não ambiciona por outro lugar neste mundo, a não ser o lugar ocupado e pregado por Jesus: o último. Da mesma forma, o discípulo de Jesus. Seus sucessos aqui em baixo, quantificáveis em ordem de grandeza, são apenas provisórios e aparentes.
            O verdadeiro triunfo do discípulo não está na medida deste tempo, nem de sua história. Ele está além, no Reino, e só poderá ser verificado quando for aberta a porta estreita, e o último lugar recebido com exultação e ação de graças, ao lado de Jesus.
            É assim que a Igreja, e nela todo fiel, permanece pacificamente inquieta por esse último lugar que lhe cabe aqui em baixo. Ela espera por ele e, quando o experimenta, ali se demora e a ele se apega pra valer. Ali, pelo menos, ela está certa de estar com Jesus, de permanecer em seu amor e de agir poderosamente para que o mundo aqui de baixo passe para o Reino.
            É aos pobres e estropiados, aos coxos e aos cegos que Jesus se dirige - ele acaba de nos lembrar isto. A todos aqueles que são verdadeiramente os últimos, os que não têm como exercer sua caridade para com ele e, por este motivo, são os primeiros em seu Amor.”
            Devia ser fácil de entender, não? Quem nada tem para dar, está pronto para receber...
Orai sem cessar: “O Senhor eleva os humildes...” (Sl 147,6)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 E escolheu doze... (Lc 6,12-19)
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           Ao escolher o primeiro grupo dos Doze, Jesus Cristo tem em mente o germe de sua Igreja: aquele “corpo” que dará continuidade à sua própria missão, levando a Boa Nova a todas as nações. Mas não o faz por um impulso pessoal: a noite passada em vigília de oração manifesta que Jesus consulta o Pai e em tudo busca o cumprimento de sua vontade.

            Heterogêneo, este seu grupo! Alguns têm nome hebraico (Shimon, Levi, Yaakov), outros trazem o nome grego (André, Filipe, Bartolomeu). Um prévio sinal da universalidade da Igreja. Diversas são as profissões: quatro pescadores, um cobrador de impostos, dois guerrilheiros. Por que foram escolhidos? Por que foram preteridos os sábios de Atenas e os generais de Roma? Segredo de Deus...
            Uma vez chamados, deixam tudo com notável prontidão. O telônio de Mateus/Levi abandonado na praça. A barca de Pedro esquecida na areia. Famílias, sonhos, projetos – tudo considerado como perda (cf. Fl 3,7) por causa de Cristo.
São Doze como eram doze as tribos de Israel. Se a Igreja de Cristo é o novo Israel, deviam ser Doze os Apóstolos. E desde o início a Igreja de Jesus se configura como uma Igreja Apostólica. Dois mil anos depois, ainda somos os continuadores da obra dos Doze. Cada bispo de nossa Igreja foi sagrado por outro bispo anterior, com raízes muito bem firmadas em um daqueles Apóstolos: o Pedro de Roma, o João de Éfeso, o Tomé das Índias, o Tiago de Compostela.
A este respeito, ensina o Concílio Vaticano II: “Estes Apóstolos [Jesus] instituiu-os à maneira de colégio ou grupo estável, ao qual prepôs Pedro escolhido entre os mesmos (cf. Jo 21,15-17). Enviou-os primeiro aos filhos de Israel e depois a todos os povos, para que, partícipes do Seu poder, fizessem discípulos Seus todos os povos, santificando-os e governando-os (cf. Mt 28,16-20; Mc 16,15; Lc 24,45-48; Jo 20,21-23), propagando desta forma a Igreja; e guiados pelo Senhor a apascentassem como ministros, todos os dias, até a consumação dos séculos (cf. Mt 28,20).” (Lumen Gentium, 19.)
Nossa obediência aos sucessores dos Apóstolos confirma nossa ligação a Jesus Cristo, enxertados como ramos na Videira verdadeira, em comunhão de mentes e corações. A eles, Jesus garantiu: “Quem vos ouve, é a mim que ouve, e quem vos rejeita, é a mim que rejeita.” (Lc 10,16.)
Orai sem cessar: “Como são amáveis as vossas moradas, Senhor!” (Sl 84,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

Debaixo das asas... (Lc 13,31-35)
Resultado de imagem para (Lc 13,31-35)            Este é um Evangelho pungente, a revelar-nos a profunda sensibilidade humana do Filho de Deus que nascera de Mulher. Jesus antevê a ruína e a desolação que virão sobre a Cidade Santa e lamenta sua recusa em acolher o Enviado do Pai.

            Mais uma vez, Jesus vem utilizar imagens simples, coisas do cotidiano, para expressar sua visão das coisas. Desta vez, para expressar seus cuidados com o povo de Israel, o seu afeto por Jerusalém, ele se compara a uma galinha que chocou seus pintainhos e, zelosa e atenta, envolve-os na proteção de suas asas.
            A imagem das asas divinas estendidas sobre o Povo Escolhido reaparece aqui e ali na Escritura Sagrada. O “Cântico de Moisés” (Dt 32) fala da atitude de Deus para com seu povo: “Qual águia que desperta a ninhada, esvoaçando sobre os filhotes, também o Senhor estendeu suas asas e o apanhou, e sobre suas penas o carregou”.
            O salmista retoma a mesma imagem: “Os homens se refugiam à sombra de tuas asas”. (Sl 36,8b) E ainda: “Vou morar na tua tenda para sempre, à sombra de tuas asas encontrar abrigo!” (Sl 61,5) E o profeta o repete: “Mas para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas!” (Ml 3,20)
            Jesus não fala de águias nem de outras aves nobres, conhecidas pela força, pela agressividade. Humilde e manso, Jesus prefere a figura das galinhas, mães excelentes, notáveis protetoras. É a sua maneira de manifestar ternura e aconchego. De sugerir aproximação a todos nós.
            Lev Gillet publicou um pequeno livro – “Amour sans Limites” - em que ele imagina Jesus Cristo que se dirige ao leitor com palavras da mais terna intimidade. E ele nos convida: “Meu filho, no começo existiu – e existe sempre – um Coração, um Coração que não cessou de bater pelos homens, de pulsar por ti. Queres dar-me teu coração?”
            E se adianta ainda mais: “Dá-me teu coração. Meu filho, é o universo inteiro que assim grita para ti. É todo o sofrimento humano, toda a humana abertura de boa vontade, todos os espasmos humanos que têm necessidade de que tu compreendas e intercedas, por mais indigno que sejas. Não ouves este grito?”
Orai sem cessar: “Senhor, eu me abrigo à sombra de tuas asas!” (Sl 57,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

Abre-nos, Senhor! (Lc 13,22-30)
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            É preciso admitir: não temos a chave do Reino de Deus. Se o Senhor não abrir a porta para nós, acabaremos do lado de fora, “onde há pranto e ranger de dentes”. Não se merece o céu. Não pode ser comprado com boas obras. Nem adquirido em suaves prestações semanais, com a missa dominical. Jamais arrombaremos o portão celeste ensinando nas praças ou comendo com o Mestre. Em poucas palavras, só “entraremos” no céu por um ato de misericórdia divina.

            No entanto, está bem claro que nós precisamos cooperar com a misericórdia, fazendo uma “forcinha”, pois a tal porta é bem estreita, adverte Jesus. Em outra parábola, contada para servir de alerta aos ricos, Jesus disse que tal entrada podia ser comparada à proeza de um camelo que passasse pelo buraco de uma agulha. Notável esforço para um bicho tão pesado, corcovado, desajeitado!
            Quando perguntam ao Mestre se ‘são poucos os que entram’, ele parece se esquivar da questão. Não obstante, em várias passagens do Evangelho, está muito claro que Deus quer a salvação de todos. “Quando eu for erguido, atrairei todos a mim.” (Jo 12,32.) Entretanto, Jesus não ilude a ninguém a respeito do caminho estreito... Bem podemos nos iludir se escolhemos as estradas largas deste mundo, feitas de comodismos e preferências, prazeres e lazeres, acumulações e poderes – tudo no plural! Ao contrário, nossos amigos, os santos, já nos apontaram a trilha na direção oposta: trabalho e disciplina, serviço aos pequeninos, amor ao próximo, obediência a Deus.
            Mas, acima de tudo, que brote de nossos coração um brado continuado: “Abre-nos, Senhor!” Afinal, o desejo do céu já é um começo do céu... O próprio Senhor nos mandou pedir, pois é a um Pai que nos dirigimos: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.” (Mt 7,7-8.)
            O céu deve ser desejado, como a alma apaixonada de S. João da Cruz:
            “Mostra tua presença!
            Mate-me a tua vista e formosura;
            Olha que esta doença
            De amor jamais se cura,
            A não ser com a presença e com a figura.” (Canção XI)

Orai sem cessar: “Quando irei contemplar a Face de Deus?” (Sl 42,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Como um grão de mostarda... (Lc 13,18-21)
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           Padre Lev Gillet, arquimandrita da Igreja Ortodoxa na Inglaterra, vem nos alertar para o risco de reduzir esta pequena parábola a um aforisma banal: “tudo o que é grande começa pequeno”. Ele vê um sentido bem mais profundo, que pode escapar às nossas leituras apressadas. Sua preocupação o leva a dialogar com Jesus:

            “Mestre, tu não disseste que a mostarda é uma planta pequena que se torna uma grande planta. Tu disseste que ela se torna maior que os arbustos, que ela se torna uma árvore. ‘Uma árvore’ quer dizer uma estrutura que, na concepção e na língua comum (senão na estrita verdade botânica), é completamente diferente de uma planta.
            E não apenas ‘uma árvore’, mas uma árvore tal que ‘as aves do céu vêm habitar em seus galhos’ (Mt 13,32). De modo algum transformaste a mostarda em uma verdura. Aquilo para que chamaste a nossa atenção é a semente da mostarda: a semente – um grão, um germe, um simples ponto de partida, um começo.
            O germe e a árvore... Ora, esta semente de mostarda, tu não disseste que ela é ‘uma pequena’ semente. Tu disseste que ela é ‘a menor de todas as sementes’. Empregaste o superlativo. E eis aí, Senhor, tua lógica, a lógica de teu Evangelho, a lógica dos contrastes e dos extremos.
            Assim, não nos exortas simplesmente a nos fazermos ‘pequenos’ para nos tornarmos ‘grandes’ diante de teu Pai. Tu nos exortas a acolher em nós a sementinha ‘menor’, a nos lançarmos em um abismo de humildade. E então, o grão de mostarda pode, em nós, tornar-se uma ‘árvore’.
            E não basta dizer que a pequenez é a condição para a grandeza. É da extrema pequenez que sairá a extrema grandeza.
            Esta parábola, Senhor, esclarece poderosamente o teu pensamento. Este se move entre os extremos. Ele não se detém nas posições intermediárias. Em ti, não há meias-tintas. Existe um sim que é sim, e um não que é não. Tu nos forças a optar entre a luz e as trevas. Tu nos provocas para as aspirações e as decisões que tendem a um máximo.
            Isto é o que colocas diante de nós: o mais difícil, o mais alto, o melhor...”
            Ai! A nossa mediocridade! “Cuidado com o exagero! Deus não pede tanto assim!” E que poderia pedir o Amor? Apenas... tudo...
Orai sem cessar: “O Deus da paz vos santifique em tudo!” (1Ts 5,23)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Estás livre! (Lc 13,10-17)
Resultado de imagem para (Lc 13,10-17)           Quando chamamos a Jesus de “Redentor”, estamos reconhecendo a sua missão de quebrar os elos da corrente, isto é, seu trabalho de Libertador – termo tão querido pelos teólogos da América Latina. Redentor é aquele que “redime”, ou seja, “recompra” e resgata o escravo na praça do mercado, rompendo os grilhões das correntes que o prendiam e escravizavam.
            Quando o próprio Jesus especifica sua missão neste mundo, nunca falta uma referência à redenção ou libertação. Assim, em seu primeiro “sermão”, na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18ss), ele disse:
            “O Espírito do Senhor repousa sobre mim,
            porque me ungiu e me enviou
            para anunciar a boa nova aos pobres,
            para sarar os contritos de coração,
            para anunciar aos cativos a redenção,
            aos cegos a restauração da vista,
            para pôr em liberdade os cativos,
            para publicar o ano da graça do Senhor.”
            Neste Evangelho, comparece à sinagoga dos judeus uma mulher enferma há 18 anos. O número 18 permite leitura simbólica: 6 representa o imperfeito, o inacabado (em oposição a 7, a perfeição). Ora 18 é igual a 6 x 3 (o imperfeito levado ao superlativo). Com a presença de Jesus, o “perfeito”, é chegada a hora de “completar” a experiência daquela mulher, libertando-a de seu mal.
            Há protestos indiretos contra o Mestre de Nazaré, pois “trabalhara” no sábado, ao realizar a cura. Jesus traz à luz a hipocrisia de seus acusadores, estabelecendo um áspero contraste entre a mulher e as bestas (o boi e o jumento). Se até os animais irracionais merecem certos cuidados em pleno sábado, por que uma “filha de Abraão” deveria ser impedida de recobrar a saúde em nome do repouso sabático?
            Fica uma lição evidente para nós: o amor se sobrepõe às normas e aos estatutos. Em nome das regras, pode esconder-se nossa preguiça e nosso comodismo. E a caridade urge. Não pode esperar. Jesus certamente pensa nisso quando recorda as palavras de Deus, por meio do profeta: “Eu quero a misericórdia, não o sacrifício.”
            Ainda estamos sem pressa?
Orai sem cessar: “Consolai, consolai meu povo!” (Is 40,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 23 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Mantendo-se à distância... (Lc 18,9-14)
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           Pode parecer estranho, nestes nossos tempos de tantas intimidades e de sem-cerimônias de nosso cristianismo moderno, que Jesus venha elogiar um homem que “se mantinha à distância”. A moda reinante é bem outra: fala-se muito em viver na intimidade divina, em tratar a Deus como um amigo, trocando definitivamente o “vós” pelo “tu”...

            Pode ser muito bonito, mas não deixa de encerrar um perigo oculto. Afinal, entre a criatura pecadora e o Deus Três vezes Santo, há um notável abismo! E não é preciso muita teologia para saber que esse abismo é nosso pecado. A Igreja sabe disso e – claro - inicia todas as suas celebrações por um Ato Penitencial! Não precisam dizer-nos com Quem estamos falando... Nós sabemos quem somos nós, que estamos falando: meros pecadores! E isto devia bastar...
            Neste Evangelho sempre incômodo, o fariseu empina o nariz e faz questão de ignorar sua própria condição: em sua empáfia, prefere apresentar a Deus os próprios méritos, fazendo uma comparação otimista com “aquele cara lá atrás”. Só faltou o insolente apresentar ao Senhor Yahweh uma fatura por serviços prestados!!!
            Ao contrário, o publicano – um marginal sócio-político-religioso na Palestina romana – olha para o chão, bate no peito e resume sua oração a um tímido recurso à misericórdia de seu Deus: “Tem compaixão do pecador que eu sou!” A ênfase não recai absolutamente nos méritos do fiel, mas na infinita misericórdia de Deus. E, natural, a miséria fará cócegas na misericórdia...
            Nas palavras do teólogo Urs von Balthasar, o publicano só encontra em si mesmo o pecado, um vazio de Deus que, em sua prece, se muda em um vazio para Deus. “Todo aquele que toma como objetivo último sua própria perfeição, jamais encontrará a Deus; mas quem tem a humildade de deixar a perfeição de Deus tornar-se ativa em seu próprio vazio – não passivamente, mas trabalhando com o talento que recebeu -, este será aos olhos de Deus um ‘justificado’.”
            Se nós chegamos à presença de Deus com o papo inflado por nossos projetos inspirados, nossas realizações e supostas virtudes, já não teremos espaço algum para a habitação divina.
            Deus anda à procura de corações vazios. Ali é que Ele encontra espaço e faz a sua tenda.
Orai sem cessar: “Meu coração e minha carne gritam ao Deus vivo!” (Sl 84,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 22 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Corta-a! (Lc 13,1-9)
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           Cortar uma árvore é uma atitude radical. O dono da vinha parece violento. Parece que se cansou da esperança. Como conciliar esta parábola com a noção de um Deus misericordioso ao infinito?

            Joachim Jeremias, exegeta alemão, nos ajuda a compreendê-la em seu contexto original. Começa por lembrar que a figueira faz sombra sobre a parreira, impedindo que as uvas amadureçam. Logo, o dono da vinha devia gostar muito de figos, do contrário não teria plantado a figueira. Além disso, já esperava por frutos há muito tempo. Segundo a lei do Levítico (19,23ss), os frutos produzidos por uma árvore nova nos três primeiros anos de colheita eram considerados “incircuncisos”, isto é, impróprios para a alimentação. No quarto ano, os frutos colhidos eram oferecidos a Deus como primícias do pomar, em um gesto cultual: “Deus primeiro!” Só a partir do quinto ano é que o produto das frutíferas podia ser colhido como alimento humano.
            Ora, já havia três anos que o dono da terra procurava por figos e não os achava. Façamos a soma: 3+1+3 = 7!!! São sete anos de esterilidade! Sete anos de decepção. E no mundo bíblico o número 7 significa a plenitude, a totalidade, isto é, todo o tempo...
            Agora, fica mais fácil entender a mensagem desta parábola: TODO O TEMPO, Deus espera por nós e pelos frutos do Espírito em nossa vida. Mas esse tempo há de acabar, é limitado, tem um fim. Chegado o fim, não haverá outro recurso a não ser cortar a figueira...
            Assim sendo, não podemos acusar a Deus – representado na figura do dono da vinha – de impaciente ou sem misericórdia. Ao contrário, nada mais justo que esperar pelos frutos de seu “investimento” em nossa vida. Em Isaías 5, o profeta nos dá o “canto de amor” a respeito da vinha (Israel), que se recusara a dar frutos: depois de cavar a terra, limpá-la das pedras e plantar cepas escolhidas, o “dono” ainda a cercou, ergueu uma torre e construiu um lagar, pois esperava fabricar o seu vinho. No tempo da colheita, a uva não prestava, só dava vinagre. Que fazer?
            Sua cerca será arrancada e os javalis a pisarão. Nela crescerão apenas cardos e espinhos. Nem mesmo a chuva há de regá-la... A vinha predileta não correspondera ao amor...
            E nós? Estamos correspondendo ao Amor que foi investido em nós?
Orai sem cessar: “Graças a mim é que produzes fruto...” (Os 14,8b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Até o último centavo! (Lc 12,54-59)
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           É mais fácil predizer as alterações climáticas que discernir os “sinais dos tempos”. Se sopra o Austro, fará calor. Se há nuvens negras, logo choverá. Mas e os outros sinais? Os contemporâneos de Jesus conheciam muito bem as profecias antigas, que anunciavam o Messias e os sinais que iriam acompanhá-lo. Na sinagoga de Nazaré, Jesus fez uma lista deles (cf. Lc 4,18-19). Quando os discípulos de João foram enviados a Jesus, voltaram com um recado que citava os mesmos sinais (cf. Mt 11,4): “Cegos veem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam e pobres são evangelizados.”

            Jesus ainda lhes daria um “sinal”: o sinal de Jonas, aludindo à sua própria ressurreição. Após três dias no fundo do oceano, lugar dos mortos, devorado por um grande peixe, o profeta foi devolvido à vida. Também Jesus ressuscitaria ao terceiro dia. Mas todos os sinais seriam inúteis, pois não foram reconhecidos...
            Todos esses milagres – suficientes para demonstrar a divindade de Jesus, que serenou a tempestade, mudou água em vinho, chamou Lázaro de volta à vida... – não bastaram para os homens do Templo e os poderosos de Israel. Corações fechados, conspiraram contra Jesus e o levaram à morte. Hoje, a situação permanece a mesma. Muitos se fecham ao anúncio da Boa Nova e à mensagem do amor de Deus. Em maio de 2005, estive na Universidade de Viçosa, MG, para uma palestra sobre Fé e Razão. Entre os presentes, havia um grupo de estudantes que se dedicam a aprofundar-se no ateísmo. Pretendem, mesmo, que se possa viver um “ateísmo científico”, como se Deus estivesse ao alcance de telescópios e microscópios...
            O Concílio ensina: “Sem dúvida, não estão imunes de culpa todos aqueles que procuram voluntariamente expulsar Deus do seu coração e evitar os problemas religiosos, não seguindo o ditame da própria consciência; mas os próprios crentes, muitas vezes, têm responsabilidade neste ponto. Com efeito, o ateísmo, considerado no seu conjunto, não é um fenômeno ordinário, antes resulta de várias causas, entre as quais se conta também a reação crítica contra as religiões e, nalguns países, principalmente contra a religião cristã.” (GS, 19.)
            Se os cristãos fossem mais humildes e prestativos, mais caridosos e mais simples, certamente iriam favorecer o reconhecimento de Jesus como nosso Salvador. Somos todos responsáveis. Se ignoramos os sinais de Deus, acabaremos em dificuldades, pois seremos cobrados até o último centavo...
Orai sem cessar: “O meu socorro virá do Senhor!” (Sl 121,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.