No dia festivo da Sagrada Família, a
Igreja chama nossa atenção para um fato que poderia passar despercebido: Jesus,
o Filho de Deus que se encarnou, precisou de um “ninho” de proteção, a casa de
José e de Maria. Foi ali que Jesus encontrou as condições de crescimento
integral, pois, segundo São Lucas, ele “crescia em estatura, sabedoria e
graça”, isto é, no corpo, na mente e no espírito.
domingo, 31 de dezembro de 2017
sábado, 30 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
E o menino foi
crescendo... (Lc
2,36-40)
Veio o Natal mais uma vez. Fomos até
o presépio e vimos o Menino na manjedoura. Que lindo! Mas não podemos ceder à
tentação de fixá-lo na condição de bebê, no colo da Mãe. O Menino precisa
crescer...
E ele crescia, diz o Evangelho.
Crescia de modo integral: em estatura, sabedoria e graça. Crescimento somático,
psíquico e pneumático. Se cresce apenas o corpo, mas não a mente, algo vai mal.
Se cresce a mente, mas não cresce o espírito, ainda vai mal. É uma pena ver
atletas que não sabem pensar. Ver pensadores que não sabem rezar. Não foi um
crescimento integral...
Devíamos dedicar mais tempo a
meditar sobre esse Deus-que-cresce. “No estábulo de Belém - comenta François
Trévedy – e, depois, na oficina de Nazaré, o Deus feito homem, o Deus aprendiz
de homem é primeiramente aprendiz do tempo: ele se tece, ele se trama
longamente, lentamente, na obscuridade, ou antes se deixa tecer por outras mãos
às quais se confia.
O pequeno Jesus – o imenso Jesus não
é, no fundo, nem de cera, nem de gesso, nem de terracota; ele é de carne
modelada na primavera (Marie-Noël). Ele é de Pai e de Mãe e de Espírito,
cúmplices, e sua carne comum é sua única auréola.”
Como nós temos sido incapazes de
apresentar a nossos filhos o modelo oferecido por Jesus que cresce! Que bela
colheita humana teriam nossas famílias depois de semear “Jesus-que-cresce” nos
olhos e no coração de nossas crianças!
Vazios desse modelo, nossos filhos
adotam outros modelos: o atleta vencedor, o artista de sucesso, a atriz
sedutora, o político poderoso – pobres ídolos com pés de barro, que ruirão na
primeira crise e mergulharão seus “seguidores” na decepção.
Voltando a F. Trévedy, “não
nanifiquemos o Natal, pois o Menino se eleva ao Infinito. Não negligenciemos o
Natal nem subestimemos sua dimensão e sua gravidade, pois o Infinito é e
permanece Criança, em profundidades que lhe são proporcionais. Esse Menino
singular é imensamente criança, e é como tal que ele cresce, e é como tal que
ele é chamado a crescer em cada um de nós e no mundo, isto é, chamado a nos
invadir. A nós e ao mundo.”
Que desastre! Reduzir o humano ao
nível da planície, quando os astros esperam por nós...
Orai
sem cessar: “O Senhor dará força a seu povo!” (Sl 29,11)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Será consagrado ao Senhor...
(Lc 2,22-35)
O povo da
Aliança sabia que era pertença de Deus. Aos seus ouvidos, ecoava sempre a voz
do Senhor: “Eu serei o vosso Deus, e
vós sereis o meu povo.” (Ez 36, 28.)
Por isso mesmo, a idolatria era comparada à prostituição: a esposa quebrar a
aliança com o esposo e entregar seu coração a outro homem.
A noção de
ser “consagrado” inclui a experiência de ser “separado para” Deus e de
“exclusividade” a seu serviço, sem concessões a outro senhor. A Nova Aliança,
claro, iria aprofundar e sublimar ainda mais essa relação com a experiência da
“filiação”, quando o amor filial elevasse os fiéis a altitudes até então
impensadas...
No entanto,
desde os tempos da Primeira Aliança, Deus se apresentava como o Esposo fiel que
não desiste jamais do amor da esposa (cf. Is 62, 3-5; Os 2, 16ss), apesar de
suas infidelidades. O povo de Israel sabia que era diferente das outras nações
politeístas, pois tinha um único esposo, o Senhor Yahweh.
Na plenitude
dos tempos, o Filho de Deus nasce de Mulher e, quarenta dias após o parto, é
apresentado no Templo e consagrado a Deus. Fazia parte do ritual um “resgate”
simbólico, quando um animal (novilho, cordeiro, para os ricos; um par de rolas
ou dois pombinhos, para os pobres) era sacrificado em troca do primogênito.
A liturgia
nos recorda que Jesus Cristo foi o primeiro homem cuja vida significou uma
“con-sagração” total a Deus, sem nada reservar para si mesmo. Veio para fazer a
vontade do Pai (cf. Hb 10, 7-9) e apenas fazia aquilo que ouvia de seu Pai (cf.
Jo 5, 19ss).
Desde os
primeiros tempos da Igreja, a perfeita imitação de Jesus Cristo atraiu
numerosos fiéis à “vida consagrada”. Como ensinou João Paulo II, “a vida
consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo
Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito. Através da
profissão dos conselhos evangélicos, os
traços característicos de Jesus – virgem, pobre e obediente – adquirem uma típica e permanente
‘visibilidade’ no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele
mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena
realização nos céus.” (Vita Consecrata,
1.)
E nós?
Estamos levando a sério a consagração realizada em nosso batismo cristão?
Orai sem
cessar: “Procuro
aquele que eu amo.” (Ct 3,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
É Raquel a
chorar seus filhos! (Mt 2,13-18)
Nesta página terrível do Evangelho,
vem à luz o lado mais sombrio da pessoa humana: o ódio sem limites, o medo
insuperável, a crueldade além da imaginação – tudo isto resumido em um só
indivíduo, o Rei Herodes. Tentando eliminar o Menino que nascera, virtual
competidor pelo trono da Judeia, pois fora anunciado como rei, Herodes não hesita
em mandar assassinar todas as crianças da região que poderiam estar na mesma
faixa etária de Jesus.
Alguns “doutores” duvidam da
veracidade histórica do fato narrado, mas eu me recuso a crer que o evangelista
Mateus registrasse cena tão crua, se não estivesse convencido de sua
autenticidade. Aliás, a dificuldade humana em olhar de frente o sofrimento
extremado é, já, proverbial; preferimos fingir que não aconteceu ou tentamos
apagar os registros históricos. Algo semelhante ao que aconteceu quando se pedia
a demissão do Papa, pois não suportavam mais contemplar o seu esforço
sobre-humano no cumprimento da missão.
Na excelente Bíblia de Navarra, uma
nota de rodapé comenta este episódio: “Ramá foi a cidade em que Nabucodonosor,
Rei da Babilônia, reuniu os prisioneiros israelitas. Por estar situada na tribo
de Benjamin, Jeremias põe na boca de Raquel, mãe de Benjamin e de José, as
lamentações pelos filhos de Israel.” No Evangelho, o pranto de Raquel é
aplicado à situação das mães que tiveram seus filhos mortos a mando de Herodes.
Guardadas as proporções, o mesmo
medo de Cristo que provocou a morte dos “Santos Inocentes” - os primeiros
mártires “por causa de Cristo” – ainda permanece latente em nosso mundo. É
numerosa a multidão das pessoas que têm medo de Jesus. Não medo de castigos ou
vinganças, mas medo de suas exigências, medo de seus princípios e valores, medo
de ter que fazer algum tipo de esforço ou sacrifício para acolher a Boa Nova.
E mais: medo de que os filhos se
deixem seduzir por Cristo e sigam uma vocação consagrada; medo de uma pregação
exigente; medo de ter prejuízos por causa da mensagem cristã. Esse medo leva a
críticas, a acusações de radicalismo, a tentativas de edulcorar e amaciar o
conteúdo real do Evangelho.
Permanece viva a tentativa de domesticar
Jesus Cristo, adaptando-o a nossas comodidades e apegos pessoais. E se Ele
começar a incomodar muito, não tenham dúvida de que surgirão novos Herodes bem
à nossa frente...
Orai
sem cessar: “Não esqueças para sempre, Senhor,
a
vida de teus pobres!” (Sl 74,19b)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
A pedra
tinha sido retirada... (Jo
20,2-28)
Com a morte de Jesus no Calvário,
uma noite escura descera sobre todos. Não era aquele o desfecho – apesar do
tríplice aviso de Jesus! – que os discípulos viviam esperando. Sepultado o Mestre,
rolada a pedra, Jesus parecia fora de seu alcance...
Mas no domingo de manhã – “quando
ainda estava escuro” – Maria Madalena se antecipa a todos e vê que a pedra
tinha sido retirada. O túmulo estava aberto. Mas o Evangelista não nos diz se
ela olhou lá dentro. Diz apenas que ela saiu correndo e foi a Simão Pedro.
Pedro e João iniciam uma corrida até
o jardim onde o corpo de Jesus fora depositado. Uma prova de atletismo em plena
madrugada. Enquanto correm, pensamentos e emoções nublam ainda mais as suas
almas, já ensombrecidas pelo drama do Calvário. Eles mesmos não conseguem
imaginar o que espera por eles. Não fazem ideia do que poderão ver...
Quando Pedro e João chegam ao
sepulcro, de fato a pedra fora rolada pelo anjo (cf. Mt 28,2) e era possível acessar
o interior da gruta. Como observa André Scrima, tinha sido removido o último
obstáculo para a “visão”. O Mestre não está ali, conforme se lê na inscrição
atual da Basílica do Santo Sepulcro: “Non est hic”.
As bandagens que tinham envolvido o
corpo de Jesus permanecem ali, no solo. São tiras de linho, embebidas em 30 kg
de mirra líquida e aloés em pó (cf. Mt 19,39), piedosa oferenda de Nicodemos.
Já no terceiro dia após o sepultamento, o envoltório consolidado mostra-se como
um casulo. Mas não há nada em seu interior. Sem desmanchar as bandagens que o
envolviam, o Senhor venceu a morte e ressuscitou.
Em seu Evangelho, João registra em
duas palavras o impacto que o invadiu: “viu e creu”! As bandagens e o sudário
falavam por si. Se o corpo tivesse sido roubado, como espalharam os adversários
de Cristo (cf. Mt 28,13), não seria possível manter intactas as faixas de linho
do embalsamamento. É este “casulo” que aparece nos ícones orientais da
ressurreição, testemunhando aquilo que a mente humana não chega a compreender.
Ainda hoje, porém, permanece para
muitos a pedra da incredulidade, impedindo que os olhos da alma cheguem à visão
do Ressuscitado. Aferrados à razão cega, não farão a experiência de João: ver e
crer...
Orai
sem cessar: “Vistes aquele a quem ama a minha
alma?”
(Ct 3,3)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Perseverar
até o fim... (Mt
10,17-22)
O Evangelho fala de uma torre que
foi iniciada, mas não foi concluída (Lc 14,28-30), expondo o construtor à
zombaria do povo. A imagem se aplica a tantos que tiveram uma experiência de
Deus e iniciaram uma caminhada espiritual, mas acabaram desanimando diante dos
obstáculos e abandonaram a fé.
Ora, as dificuldades que Deus
permite deviam ser exatamente as ferramentas capazes de aprimorar a nossa fé.
Como diz Olivier Clément, “o itinerário conhece ‘noites’ que não são apenas
despojamento do sensível e do inteligível, mas provações de angústia e
desespero. É então que importa cair não no nada, mas aos pés do Crucificado que
desceu ao inferno. E identificar-se com Cristo agonizante, que diz, ao mesmo
tempo: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’ e ‘Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito’”.
“Estas provações – observa Clément –
são o cadinho da humildade, o êxodo no deserto da fé única. Cada uma delas
introduz em uma ‘consolação’ – isto é, uma presença experimentada do
Consolador, do Espírito Santo – tanto maior quando o homem a recebe no mais
pleno desnudamento.”
Eis a lição do Papa Francisco: “Não se
pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido,
por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O
conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a
mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder
contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma
coisa procurar construir o mundo com o seu Evangelho em vez de o fazer
unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito
mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa”.
“É por isso que evangelizamos –
prossegue o Papa. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser
discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha
com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa
não O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde
o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e
paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada,
não convence ninguém.” (Evangelii Gaudium,
266)
Orai
sem cessar: “Senhor, a tua mão direita me
sustenta!” (Sl 63,9)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Não havia
lugar para eles... (Lc 2,1-14)
Uma família pobre em trânsito. O
homem que vem até Belém, obedecendo à ordem de César, para ser recenseado entre
os membros do clã de Davi. A jovem mulher está nos últimos dias de sua
gravidez. O bebê ignorado que vai nascer é... o Filho de Deus...
E não há lugar para eles. A
hospedaria está realmente lotada. O grande afluxo de viajantes ocupou todos os
lugares. Entretanto, seria mesmo uma atitude falsa e farisaica de nossa parte lamentar
que não tenha havido um lugar para eles, se também nós ainda não abrimos um
espaço para o Menino em nosso coração...
Sempre foi assim. Desde Belém até
Washington, Jesus Cristo sempre se mostra um tanto apartado do mundo, um tanto
deslocado no universo dos poderes e dos ganhos materiais. Afinal – ele mesmo
garante – o seu reino não é deste mundo.
O verdadeiro “lugar” que Jesus
espera encontrar é completamente outro: o coração dos homens. Talvez, um espaço
nas famílias. Quem sabe, um cantinho nas oficinas. Seria pedir demais: uma
pequena brecha nas estruturas sociais e econômicas?
Os pastores de Belém, malcheirosos e
despenteados, acharam um lugar para Jesus. Ao convite dos anjos, acorreram com
seus cães e seus cajados. Por isso mesmo, mereceram ouvir o coral celeste que
oferecia paz à terra dos homens.
“É ali que estão a hora de Deus e o
lugar de Deus sobre a terra. Ali onde a terra se descentra em relação a si
mesma, para abrir-se sobre um cantinho de céu, na exultação e no louvor, e na
paz de um amor ao qual, enfim, ela consente abandonar-se.”
Estas são palavras do monge cisterciense
André Louf, que ainda acrescenta: “A noite de Natal descentra também a nós.
Importa que, nesta noite, nos deixemos transformar pelo Menino que vem, para
não sermos encontrados em outra parte, no momento em que Deus vem participar o
seu Amor: aqui mesmo, onde um passado de 20 séculos se faz presente, onde a
terra e o céu se tocam em uma noite: no Céu, glória a Deus; na terra, paz aos
homens que Ele ama”.
Orai
sem cessar: “O Verbo se fez carne e acampou entre
nós.”
(Jo 1,14)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
domingo, 24 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Virá sobre
ti o Espírito Santo... (Lc
1,26-38)
O Evangelho de hoje nos faz
presentes ao momento sublime da Encarnação do Verbo de Deus. Narra o encontro
do céu e da terra, o diálogo entre Deus e a Humanidade, representados pelo
Arcanjo Gabriel e pela Virgem Maria. Diante da pergunta de Maria, o anjo acena
com a intervenção direta do Espírito de Deus na vida dela, enquanto agente
divino na Encarnação.
Transcrevo
para você estas palavras de meu livro “Sonetos do
Agradecido” (Ed. O Lutador, BH):
“Quando Maria ouve de Gabriel estas
palavras, não pode deixar de evocar a nuvem do Êxodo, que cobria de luz o
caminho dos hebreus e, mais tarde, encheria todo o espaço interior da Tenda de
Reunião, tornando-a impenetrável. E a Virgem sabe que é chamada a resumir em
sua pessoa todo Sião, e dar – em nome da assembleia das 12 tribos – um primeiro
SIM, pleno e cabal, diante da Vontade de Yahweh.
Escolhida para esse momento ‘desde
antes da fundação do mundo’ (CIC. 492), revestida (e in-vestida) de uma
santidade ímpar, Maria é capaz dessa adesão total aos planos de Deus. Afinal,
‘os Padres da tradição oriental chama a Mãe de Deus a toda
santa (Panhagia), celebram-na como ‘imune de toda
mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo, formada como nova
criatura’. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao
longo de toda a sua vida’. (CIC, 493.)
O Espírito de Deus se mostra em todo
o seu dinamismo em cada momento-chave da história da salvação. Muitos ícones,
para representar esta ‘atividade pneumática’, traçam do alto (da nuvem) uma
parábola luminosa que recai sobre a personagem agraciada, como no caso da
‘Natividade’: na sombra da gruta, o raio luminoso recai sobre a cabeça do
Infante, no colo de Maria.
Assim, a revelação feita por Jesus a
respeito de sua própria pessoa (cf. Lc 4,18-22, na sinagoga de Nazaré) enquanto
ungida pelo Espírito Santo, diz respeito a uma realidade que remonta ao
instante da Anunciação. Diante do assentimento da Virgem, ‘o Espírito Santo é
enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele
que é ‘o Senhor que dá a Vida’, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do
Pai em uma humanidade proveniente da sua’. (CIC, 485.)
Tudo porque Maria disse SIM.”
Orai
sem cessar: “Se enviais o vosso Espírito,
renovais a face da terra!” (Sl 104,30)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
sábado, 23 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Quem virá
a ser este menino? (Lc
1,57-66)
O nascimento de João Batista foi
cercado de prodígios. Pais idosos, mãe estéril. O acontecimento fugia às
possibilidades humanas. Natural que todos ficassem intrigados a respeito de seu
futuro, de sua missão neste mundo.
Ora, a mesma expectativa envolvida
por respeitosa veneração deveríamos alimentar em relação a cada filho que Deus
nos entrega. Cada vida nova corresponde a uma vocação única e pessoal. Cada
criança abortada deixa na humanidade uma lacuna que nada e ninguém pode
preencher. E se a pessoa a quem Deus encarregaria da cura do câncer foi
abortada, impedida de nascer?...
Quando os pais se debruçam sobre o
pequeno berço, onde ressona o bebê recém-nascido, estão diante de um grande
mistério que ultrapassa nossa capacidade de compreensão: o grande milagre
repetiu-se mais uma vez. Deus chamou mais um ser humano à existência. Deveriam,
pois, interrogar-se: Qual será a sua missão?
A compreensão – ainda que parcial –
deste sublime mistério muda por inteiro nossa atitude diante da vida humana.
Jamais usaremos embriões como matéria-prima de pesquisa depois de compreender
que aquele ser-em-processo é portador de tarefas intransferíveis, essenciais
para o futuro do gênero humano. Jamais aprovaremos o aborto como um “direito”
da mulher grávida. Amada, querida, sonhada por Deus, a nova pessoa traz em si
algo de sagrado, que a torna intocável em seus direitos e nos impede de usá-la,
comprá-la, escravizá-la.
A alternativa é a “síndrome de
Herodes” – aquele louco que pretendia matar o Menino Jesus e, para tal fim, não
hesitou em assassinar centenas de recém-nascidos. Esta doença ainda se espalha
em nossa sociedade, chegando até a ser adotada por governantes como tática de
controle demográfico.
O cristão que não luta pela vida dá
seu aval ao ódio do Rei Herodes. Torna-se cúmplice dos inimigos de Deus.
Contribui para que a humanidade fique mais pobre e desamparada.
Ao contrário, são colaboradores de
Deus aqueles que cuidam da infância desvalida, os que se dedicam à educação da
juventude, os que pesquisam para curar as doenças e produzir mais alimentos.
Todo o trabalho humano, lembrava o Papa João Paulo II. É uma participação na
obra da Criação.
Nosso Deus é um Deus da vida. Jamais
ficará neutro diante dos servidores da morte.
Orai
sem cessar: “O Senhor decidiu abençoar: é a vida
para sempre!” (Sl 133,3)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Conforme
prometera... (Lc
1,46-56)
Em seu cântico de louvor e ação de
graças – o “Magnificat” – a Virgem Maria realça a fidelidade de Deus
manifestada na história dos homens: o Menino que ia nascer, e que já começava a
ser formado em seu ventre imaculado, primeiro sacrário da História, era o
cumprimento das antigas promessas do Senhor a seu povo.
A promessa de enviar um
“descendente” da Mulher (cf. Gn 3,15) que pisaria a cabeça da serpente. A
promessa de conceder uma “descendência” a Davi (cf. 2Sm 7,12). A promessa de um
filho-Deus conosco, isto é, enxertado na carne dos humanos (cf. Is 7,14). A
promessa de um poderoso Governante para Israel, que deveria nascer na humilde e
pequena Bet-lehem Efrata
(cf. Mq 5,1ss).
Com a Nova Aliança, desde a
Anunciação saltamos do tempo das promessas para seu cumprimento na “plenitude
dos tempos”. Tudo o que foi dito e prometido aos patriarcas e profetas, tudo o
que foi tipificado em Abel (o inocente sacrificado), em Isaac (o filho como
oferenda), em José (o irmão entregue por moedas), no Servo sofredor de Isaías
(cujas chagas nos salvam) – tudo isto se cumpre na Pessoa de Jesus, o Filho de
Deus, o Filho de Maria.
Referindo-se ao dom do Espírito
Santo, que Deus prometera desde a Primeira Aliança, promessa que Jesus renovara
mais de uma vez, o Apóstolo Pedro afirma em seu primeiro sermão após
Pentecostes: “Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os
que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus.” (At 2,39.)
Desde a manhã de Pentecostes, os
apóstolos sabiam que eram testemunhas da fidelidade de Deus, do cumprimento das
antigas promessas. Foram capazes, então, de reler o Antigo Testamento à luz dos
fatos novos que estavam vivendo, conforme no-lo demonstra a leitura alegórica
dos Padres da Igreja que chegou até nós.
A Virgem Maria, ao cantar o
“Magnificat”, é a Filha de Sião que guardara no coração as antigas promessas.
Em outros termos, Maria resume em sua pessoa todo o povo de Israel, a quem Deus
fizera as promessas de salvação a serem cumpridas nos tempos do Messias.
Em nossa vida, temos assumido as
promessas de Deus para seu povo? Nossa vida permite que Deus cumpra suas
promessas de salvação?
Orai
sem cessar: “Cantarei eternamente as bondades do
Senhor!” (Sl 89,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Saltou de
alegria... (Lc
1,39-45)
São Lucas registra que a simples
aproximação de Maria, já portadora do Filho de Deus em seu ventre sagrado, foi
suficiente para que João Batista, ainda em sua vida pré-natal, reagisse com
alegria. Estamos diante de uma verdade que parece esquecida: a experiência
cristã é fonte de profunda alegria.
Ao relatar a descoberta de Deus e
sua conversão ao cristianismo, o escritor inglês C. S. Lewis intitulou seu
livro “Surprised by Joy”, (surpreendido pela alegria). No livro dos Atos
dos Apóstolos, logo após Pentecostes, São Lucas registra: “Partiam o pão nas
casas e tomavam a comida com alegria e singeleza.” (At 4,46.) Anotou também o
efeito da pregação de Filipe em Samaria: “Por este motivo, naquela cidade
reinava grande alegria.” (At 8,8.)
Ora, pode ser que nossas reuniões,
celebrações, e mesmo o “clima” geral de nossa vida como cristãos não estejam
irradiando a mesma alegria. De fora, o pagão pode ter a impressão de que somos
um povo triste, sem ânimo e vibração. E assim, afastamos as pessoas de Jesus,
que tinha intenção completamente diferente: “A vossa tristeza há de se
transformar em alegria”. (Jo 16,20b.) “E o vosso coração se alegrará e ninguém
vos tirará a vossa alegria”. (Jo 16,22.) “Pedi e recebereis, para que a vossa
alegria seja completa.” (Jo 16,24.)
É clássico o refrão: “Um santo
triste é um triste santo.” Na verdade, quem conviveu com pessoas santas, sabe
que elas são alegres, irradiantes, mesmo que sua alegria não lembre a
alacridade das maritacas, mas seja antes uma espécie de letícia, a alegria
serena, mas profunda, de quem vive mergulhado na paz de Deus, mesmo entalado em
um mundo de problemas.
Na verdade, a alegria é fruto do
Espírito Santo (cf. Gl 5,22), ao lado da paz, da paciência e da brandura. Quem
se volta para Deus e busca seu perdão, vê-se livre de sentimentos negativos que
já pareciam constituir na pessoa uma segunda natureza. Ao contrário, a vida
vivida “na carne” leva à tristeza, à depressão e a impulsos de autodestruição,
como obscura colheita do pecado.
Marthe Robin, a fundadora dos
“Foyers de Charité”, mesmo imobilizada em um pequeno divã por mais de 50 anos,
alimentada exclusivamente por uma comunhão semanal, notabilizou-se por uma
alegria infantil que contagiava a todos que faziam contato com ela. Mais ainda:
Marthe assumia em sua oração a tristeza e as cruzes de seus visitantes, que
saíam dali libertos e transfigurados.
Que tipo de cristão queremos ser?
Orai
sem cessar: “Transformaste meu luto em dança!” (Sl
39[29],12)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
O nome de
Jesus... (Lc
1,26-38)
Na Bíblia, o nome está ligado à
missão. Ao receber a missão divina, a pessoa recebe um nome novo. Assim, Abrão
passa a ser chamado Abraão [pai de uma multidão], conforme a promessa de Deus
de lhe dar uma descendência incontável, apesar de casado com Sara idosa e
estéril. Igualmente, Jacó, após o combate noturno com Deus, é rebatizado de
Israel: “Que Deus se mostre forte”.
Na Anunciação, o Anjo Gabriel
informa à Virgem Maria que seu filho será chamado Jesus (Ye-shua, “Javé salva”). Em seu nome está
explicitada sua missão: salvar os homens. Por analogia, podemos dizer que, caso
Gabriel fosse enviado a uma jovem de língua portuguesa, o nome do filho seria
“Salvador”.
Na Igreja do Oriente, desenvolveu-se
a tradição que conhecemos pelo nome de “Oração de Jesus”, praticada em
mosteiros, como os do Monte Athos e do Monte Sinai, mas também pelos fiéis
leigos. No Ocidente, São Bernardo de Claraval e S. Bernardino de Sena também
propagaram este “método” de rezar.
O conhecido relato do “peregrino russo”
registra como um andarilho aprendeu com um monge a repetir indefinidamente o
nome santo de Jesus, em uma fórmula curta, à maneira de jaculatória: “Senhor
Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!” Na prática, podemos
reduzi-la a poucas palavras, repetidas no ritmo da respiração, repassando, ou
não, as contas de um rosário: “Senhor Jesus” ou, apenas, “Jesus”.
Não se trata de nenhum procedimento
“mágico”, mas um processo de saturação que nos coloca em crescente intimidade
com o Senhor, ao mesmo tempo que nos une em comunhão com todos aqueles que oram
da mesma maneira, em todo o mundo. Em qualquer ambiente – lar, escola,
trabalho, em viagem – esta oração é possível e frutuosa, reconduzindo o coração
do orante à presença (tantas vezes esquecida!) de nosso Salvador.
Nome e pessoa são inseparáveis.
Rezar “em nome de Jesus” é rezar em sua Pessoa. No livro dos Atos dos
Apóstolos, encontramos sinais dessa prática: “... estende a tua mão para que
sejam operadas curas, sinais e prodígios pelo Nome de teu santo servo Jesus”.
(At 4,29-30.) E ainda: “... o temor invadiu a todos e celebravam a grandeza do
Nome do Senhor Jesus.” (At 19,17.)
E Jesus anunciara: “Em meu Nome,
expulsarão demônios, falarão novas línguas, pegarão serpentes com as mãos e, se
beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; imporão as mãos aos
enfermos e estes serão curados”.
Orai
sem cessar: “Ó Deus, salva-me pelo teu Nome!” (Sl
54,3)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Será cheio
do Espírito Santo... (Lc
1,5-25)
No Evangelho de hoje, estamos diante
de uma “anunciação”. O mensageiro divino manifesta ao sacerdote Zacarias, bem
junto do altar, que lhe seria dado um filho em plena velhice. Entre outros
traços desse menino, diz o Anjo que ele será “cheio do Espírito Santo”.
Como em toda vida humana, o
nascimento de João corresponde a uma vocação necessária. Deus “precisa” de
alguém que prepare o povo para a vinda do Messias. João foi o escolhido. Mas o
esforço humano, habilidades e dedicação são insuficientes para o cumprimento de
nossa missão. Por isso mesmo, o menino será dotado da plenitude do Espírito de
Deus. É com tal dinamismo que ele exercerá o seu papel na história dos homens.
A mesma expressão aparece após
Pentecostes, em várias situações registradas nos Atos dos Apóstolos, seja na
vida de Pedro (At 4,8), de Estevão (At 7,55), de Paulo (At 9,17; 13,9), de
Barnabé (At 11,24) ou dos discípulos em geral (At 2,4; 4,31; 6,3; 13,52). A
cooperação entre o Espírito e a Igreja (cf. At 9,31) permite a expansão do
Evangelho e o crescimento da Igreja de Cristo. A Igreja primitiva tinha a
consciência de que não realizava tarefa humana, mas agia impelida pelo Espírito
de Deus, sem o qual se veria incapaz para a missão.
Na Carta aos Romanos, Paulo insiste
nessa evidência: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o
espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o
Espírito de Cristo, este não é dele.” (Rm 8, 9.) Nemmesmo a oração – que pode
parecer tarefa bem fácil – conseguiremos levar adiante sem esta mesma
sustentação: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não
sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo
intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que perscruta os corações
sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus.” (Rm
8,26-27.)
Em nossos tempos, é comum o engano
de iniciar projetos – mesmo dentro da Igreja – quando se conta apenas com as
forças e recursos humanos. Como resultado, muita agitação, muito cansaço,
muitos fracassos. Os santos, ao contrário, mesmo sem dinheiro e sem o apoio dos
poderosos, ergueram obras admiráveis para servir em especial aos pequeninos
deste mundo.
E nós? Com quem estamos contando
para cumprir a nossa missão?
Orai
sem cessar: “É o espírito de Deus no homem e um
sopro
do
Todo-poderoso que torna inteligente.” (Jó 32,8)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Despertando do sono... (Mt 1,18-24)
Quando Maria de Nazaré voltou de Ain
Karim, onde assistira a Isabel em uma gravidez de risco, pois a mãe de João
Batista tinha idade avançada, certamente já se percebia que a noiva de José
estava grávida...
Entre os hebreus, o noivado era coisa
séria. Tanto que, se o noivo morria, a noiva passava a se vestir como as demais
viúvas e com elas convivia. Uma noiva adúltera era apedrejada após a denúncia
feita pelo noivo. Não admira que José, o justo, sem poder conciliar a evidência
de gravidez com a íntima certeza de que sua noiva era pura e fiel, pensasse em
se afastar dela, em silêncio (isto é, sem a acusar!), certamente por intuir que
o dedo de Deus estava naquela história...
É quando ocorre a “Anunciação do anjo
a José”. Uma experiência profunda, ligada ao inconsciente (esse sabidinho!...),
tantas vezes usado por Deus para iluminar nosso caminho. E a mensagem do Anjo é
clara: “Não temas! É obra do Espírito de Deus...”
Despertando do sono, José põe em
prática aquilo que “ouvira” com o ouvido do coração e toma por esposa a noiva
grávida de Deus. Pode parecer um detalhe insignificante. Penso que não. Na
prática, não basta ouvir a voz de Deus. É preciso “despertar do sono”. Enquanto
cochilamos, não entramos em ação conforme manda a voz de Deus.
Não é à toa que, em suas cartas, o
apóstolo Paulo tantas vezes insista no mesmo imperativo: “Eis a hora de despertar
do vosso sono: hoje, com efeito, a salvação está mais próxima de nós do que no
momento em que abraçamos a fé. A noite está adiantada, o dia está bem próximo”
(Rm 13,11-12a) “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti
o Cristo resplandecerá.” (Ef 5,14)
O Advento, todo o tempo, representa
um insistente convite a sair do marasmo, a despertar da sonolência e ficar de
olhos acesos para o Cristo que vem. Rotinas sem alma, anestesias da TV,
relacionamentos mornos – tudo isto é incompatível com a expectativa da iminente
chegada do Senhor. Se o velhinho de vermelho não nos distrair do essencial,
quem sabe estaremos acordados quando o Menino chegar...
Como assegura a Antífona de Laudes,
“o Senhor vai chegar sem demora; trará à luz o oculto nas trevas, vai
revelar-se a todos os povos. Aleluia.”
Orai sem cessar: “Jamais deixarei que meus olhos se fechem!” (Sl
132,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
domingo, 17 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Dar testemunho da Luz... (Jo 1,6-8.19-28)
João Batista, o
precursor de Jesus, veio ao mundo com uma missão específica: apontar para o
Cordeiro de Deus, o Cristo Senhor. Identificá-lo como o Messias esperado. E de
fato, logo após reconhecer Jesus, às margens do Jordão, o Batizador é preso por
Herodes e sai de cena para sempre.
A figura de João
Batista tem sido habitualmente des-figurada, quando o veem como um lobo
ululante a proferir maldições e ameaças. Ora – comenta o Ir. Éphraim, fundador
das Beatitudes -, um homem que se alimenta de mel só pode proferir doçuras...
Aquele que deve apontar o Cordeiro não pode uivar como um coiote do deserto,
mas deve ser impregnado da mesma suavidade.
Nada disto, no
entanto, impede que João [em hebraico, “Deus me fez graça” – reconhece Isabel!]
realize sua tarefa: dar testemunho da Luz. Luz que é um dos nomes de Cristo:
“Eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5). É assim que João prepara as veredas do
Salvador e, ao mesmo tempo, ensina que o evangelizador deve desempenhar o mesmo
papel: abrir caminho para o Salvador.
O trabalho educativo
dos pais é este: apontar para a luz. Insistentemente, sem cansaço, orientar os
filhos. (Note que o verbo “orientar” liga-se ao Oriente, o lado de onde nasce o
Sol!) Claro, isto supõe que os pais estejam “orientados” e sua vida seja
mergulhada na luz pascal de Cristo. Que os próprios pais não caminhem nas
trevas do erro e nos atalhos do mundo pagão. Os filhos têm direito a ver a luz
de Cristo refletida na face e nos gestos de seus pais...
A legião de jovens que
perambulam pela noite, sem rumo e direção, denuncia as trevas de seus lares.
Ali, os pais não se reúnem para rezar, não buscam a graça dos sacramentos, não
se alimentam com a Palavra de Deus. Sem a luz diurna que emana do Ressuscitado,
resta aos jovens o luar sombrio do néon, a luz negra das casas noturnas, as
sombras dos becos e dos corações.
Pobres filhos! Pobres
pais! Cegos e guias de cegos! Fecharam os olhos à Fonte de Luz e vagueiam sem
norte, sem ter aonde ir... A droga letal e o sexo sem amor são amargas
compensações para quem não descobriu a Vida...
Mas, lá no fundo da
noite, ainda brilha uma chama: é a Luz de Cristo, acesa na Vigília Pascal, a
irradiar cintilações para todos os quadrantes. E nós, cristóforos [portadores
de Cristo], temos a missão do Batista: testemunhar ao mundo que a Luz ainda
brilha e quer iluminar todos os desvãos da sociedade.
Quando o faremos?
Orai sem cessar: “Em tua luz vemos a
luz!” (Sl 36[35],10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
sábado, 16 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
O Filho do Homem há de padecer... (Mt 17,10-13)
Este Evangelho deixa
claro que Jesus Cristo não foi surpreendido por sua Paixão. Sabia muito bem o
que esperava por ele. Sua Paixão e Morte não foram acidentes de percurso.
Afinal, o martírio de João Batista, como recusa de sua mensagem profética, já
alertara a Jesus acerca de seu próprio fim.
Nos Evangelhos, Jesus anuncia por
três vezes que a cruz estava à sua espera... Em uma delas, o Mestre teve de
repreender asperamente a Simão Pedro, que se manifestava contrário a tal
rebaixamento, assumindo o papel de Satã, o adversário. Não foi com passiva
resignação que Cristo carregou sua cruz, mas abraçou-a com uma atitude ativa e
amorosa, pois sabia dos frutos de salvação que brotariam da rocha do Calvário.
Por isso mesmo, é
fundamental para nós que os sofrimentos de Cristo sejam traduzidos como sinal
de seu amor por nós, sem nada que lembre masoquismo ou inútil flagelação. Mais
que infamante instrumento de tortura, a Cruz sinaliza que Deus nos ama com amor
sem limites.
Talvez ajude a leitura de meu
soneto “Exclamações”:
Pensar que meus pecados e meu crime
Transpassaram no Gólgota os teus braços!
E mesmo tropeçando, os membros lassos,
Carregas tua Cruz que me redime!
Pensar que teu Amor jamais se
exime
Da culpa semeada por meus
passos!...
E contemplando a dor de meus
fracassos,
Levas também o fardo que me
oprime!...
Pensar que és a Vítima inocente,
O Cordeiro que morre pela gente
Para que a Vida, em nós, supere a Morte!...
Pensar que, na amplidão do céu sem
brilho,
O Pai entrega à morte o próprio
Filho!...
Onde encontrar, Jesus, amor tão
forte?!
Orai sem cessar: “O Senhor me esconde no
segredo de sua tenda
e
me levanta sobre um rochedo.” (Sl 27[26],5b)
Texto e soneto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova
Aliança.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Semelhante a crianças... (Mt 11,16-19)
Na Bíblia, a mesma
imagem pode ter valor positivo ou negativo. É o caso do “fermento” – em geral,
com valor negativo (Ex 12,15; Mt 16,6), conotando corrupção e pecado, mas
também usado por Jesus como imagem do Reino de Deus que cresce em silêncio, sem
sinais exteriores (cf. Mt 13,33).
No Evangelho de hoje,
são as crianças – que Jesus apontara como ideal a ser imitado (cf. Mc 10,15; Lc
10,21) – a imagem dos discípulos imaturos que vivem entre queixas e
reclamações, tal como os judeus do tempo de Jesus, que recusavam ao mesmo tempo
o Batista, por sua vida sóbria e ascética, e a Jesus de Nazaré, por gostar de
uma boa mesa e de um bom vinho.
Ainda hoje, nas
paróquias e comunidades, há muitas “crianças” eternamente insatisfeitas.
Criticam o padre que celebra a missa muito depressa, mas reclamam do outro que
faz a missa comprida. Fazem críticas se o padre não prega, manifestam seu desagrado
se a homilia se estende. Se o coordenador é exigente, brotam queixas; se ele é
democrático, cobram mais rigidez. Crianças insatisfeitas...
Os santos não são
assim. Os santos são muito realistas. Partem da realidade que lhes é dada e se
dedicam de alma e coração a cumprir a missão inadiável. Eles não pensam na
Igreja ou em sua comunidade como um lugar onde se recebem favores e regalias.
Sabem que sua tarefa consiste em imitar a Jesus, que lavou os pés de seus
apóstolos. Mesmo que sejam elevados a posições de mando, eles entendem sua
autoridade como um serviço aos irmãos.
As crianças querem
afagos, elogios, atenções especiais. Se isso falta, emburram, amarram a tromba
e iniciam sua ação deletéria, feita de críticas, acusações, formação de
partidos. Se um desses imaturos acaba em posição de governança, será a vez de
reclamar da má qualidade de seus governados, além de abusar do poder e da
autoridade.
Os imaturos são
eternos insatisfeitos. Jamais serão felizes. E semearão à sua volta uma
enxurrada de amargura. Pior ainda: verão passar em vão a graça de Deus e
acabarão perdendo o bonde da história. Foi assim no tempo de Jesus. Continua
assim em nossos tempos.
Quando atingiremos a
estatura do homem perfeito? (Cf. Ef 4,13.) Quando deixaremos de lado nossas
mamadeiras? (Cf. Hb 5,12.) Quando assumiremos a missão que Deus colocou em
nossas mãos?
Orai sem cessar: “Eis que vim para fazer
a tua vontade!” (Hb 10,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
PALAVRA DE VIDA
Não surgiu quem fosse maior... (Mt 11,11-15)
Estamos falando de João
Batista, o precursor [em grego, pródromos,
isto é, “o que corre na frente”]. E esta avaliação que ele mereceu de Jesus de
Nazaré é um elogio notável, pois o coloca acima de todos os patriarcas e
profetas da Primeira Aliança.
E qual será a razão
deste elogio excepcional? Até onde posso ver, trata-se de sua escolha para ser
a “voz imediata” no anúncio do Reino que se avizinhava na pessoa do Messias,
Jesus Cristo. Cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc 1,44),
cumpriria sua missão ao preço da própria vida.
E isto me faz pensar que não temos
dada a devida consideração nem o devido valor às pessoas que também assumem a
mesma missão: ser uma voz que anuncia o Senhor. Ao mesmo tempo, ajuda a
compreender por que os tiranos de todos os quadrantes, de todas as épocas, se
apressam a calar as vozes que repetem o Evangelho...
Hoje, no deserto das
grandes cidades, somos chamados a assumir missão semelhante à do Batizador.
Quem nos fala sobre isso é o Bispo do Saara argelino, Claude Rault:
“Nossa vocação é a de
ser como João Batista: traçadores de estradas, humildes caminheiros do Bom
Deus! O Batista tem consciência disso: ele abre a estrada para aquele que vem
depois dele, ele caminha por um Outro. Isto exige fidelidade, confiança e
gratuidade nas relações. Assim se traça um caminho, e outros continuarão a
assumi-lo. Invisível, Jesus pisa sobre nossos passos.
João Batista traça um
caminho, ele é um caminheiro cujas passadas acabam por nos deixar uma trilha. É
a figura que ainda hoje nos inspira. A seu modo, somos chamados a deixar uma
esteira na vida deste mundo, como estradeiros infatigáveis. A rota que deixamos
atrás de nós será tomada por outros. É isto que fazemos no grande deserto da
vida...”
Mas o mesmo profeta nos
deixa outra lição: apagar-se, distanciar-se, sair do foco. Quando cercam João
Batista, inquirindo-o se seria o Messias esperado, ele não só o nega, mas se
põe em segundo plano: “Não sou digno de lhe desamarrar as sandálias”. E
arremata o lema que devemos assumir nas missões da Igreja: “Importa que ele
(Jesus) cresça, e eu diminua...”
O arauto corre o risco
permanente de se confundir com o Rei. Sua missão é apenas tocar a trombeta e
perder-se na multidão que espera pelo Senhor.
Orai sem cessar: “Quero ensinar teus
caminhos aos que erram... (Sl 51,15)
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