domingo, 31 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 E o menino crescia... (Lc 2,22-40)
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            No dia festivo da Sagrada Família, a Igreja chama nossa atenção para um fato que poderia passar despercebido: Jesus, o Filho de Deus que se encarnou, precisou de um “ninho” de proteção, a casa de José e de Maria. Foi ali que Jesus encontrou as condições de crescimento integral, pois, segundo São Lucas, ele “crescia em estatura, sabedoria e graça”, isto é, no corpo, na mente e no espírito.

            Admirável a colaboração de Maria e de José para a obra da salvação. Maria, além de lhe dar o abrigo de seu ventre sagrado, deu a Jesus o sangue e o leite, carinho e afeto; mas também ensinou o Menino a andar, cantou-lhe cantigas de ninar, rezou com ele.
            José, o justo, foi para Jesus o modelo masculino, viril, passando-lhe um timbre de voz, o ritmo da fala, o balanço no andar. Mais ainda: leu para Jesus a Escritura Sagrada, ensinou-lhe a profissão, proveu o seu pão de cada dia. O Papa João Paulo II comenta: “Com a autoridade paterna sobre Jesus, Deus terá comunicado também a José o amor correspondente, aquele amor que tem a sua fonte no Pai, ‘do qual toda a paternidade, nos céus e na terra, toma o nome’ [Ef 3,15].” (Exort. Apost. Redemptoris Custos, 8.)
            Reflete, ainda, o Papa João Paulo II sobre a família de Nazaré: “Uma vez que a essência e as funções da família se definem, em última análise, pelo amor, e que à família é confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja sua Esposa, é na Sagrada Família, nesta originária “Igreja doméstica”, que todas as famílias devem espelhar-se. Nela, efetivamente, por um misterioso desígnio divino, viveu escondido durante longos anos o Filho de Deus: ela constitui, portanto, o protótipo e o exemplo de todas as famílias cristãs.” (RC, 7.)
            Em nossos dias, a família tem sido alvo de poderosos ataques do mal. É verdade que nós temos colaborado com essas agressões, especialmente quando permitimos que o tempo de oração familiar e partilha da Palavra de Deus seja trocado pela TV e outras formas de diversão e desperdício de tempo precioso.
            Por isso mesmo, é inadiável a conversão de nossas famílias, reorientando para Jesus Cristo nossos projetos de vida. Não apenas a família de Nazaré, mas também a nossa é uma “sagrada família”. E não podemos lançar aos porcos aquilo que é sagrado para Deus...
Orai sem cessar: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor!” (Js 24,15b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 30 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 E o menino foi crescendo... (Lc 2,36-40)
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            Veio o Natal mais uma vez. Fomos até o presépio e vimos o Menino na manjedoura. Que lindo! Mas não podemos ceder à tentação de fixá-lo na condição de bebê, no colo da Mãe. O Menino precisa crescer...

            E ele crescia, diz o Evangelho. Crescia de modo integral: em estatura, sabedoria e graça. Crescimento somático, psíquico e pneumático. Se cresce apenas o corpo, mas não a mente, algo vai mal. Se cresce a mente, mas não cresce o espírito, ainda vai mal. É uma pena ver atletas que não sabem pensar. Ver pensadores que não sabem rezar. Não foi um crescimento integral...
            Devíamos dedicar mais tempo a meditar sobre esse Deus-que-cresce. “No estábulo de Belém - comenta François Trévedy – e, depois, na oficina de Nazaré, o Deus feito homem, o Deus aprendiz de homem é primeiramente aprendiz do tempo: ele se tece, ele se trama longamente, lentamente, na obscuridade, ou antes se deixa tecer por outras mãos às quais se confia.
            O pequeno Jesus – o imenso Jesus não é, no fundo, nem de cera, nem de gesso, nem de terracota; ele é de carne modelada na primavera (Marie-Noël). Ele é de Pai e de Mãe e de Espírito, cúmplices, e sua carne comum é sua única auréola.”
            Como nós temos sido incapazes de apresentar a nossos filhos o modelo oferecido por Jesus que cresce! Que bela colheita humana teriam nossas famílias depois de semear “Jesus-que-cresce” nos olhos e no coração de nossas crianças!
            Vazios desse modelo, nossos filhos adotam outros modelos: o atleta vencedor, o artista de sucesso, a atriz sedutora, o político poderoso – pobres ídolos com pés de barro, que ruirão na primeira crise e mergulharão seus “seguidores” na decepção.
            Voltando a F. Trévedy, “não nanifiquemos o Natal, pois o Menino se eleva ao Infinito. Não negligenciemos o Natal nem subestimemos sua dimensão e sua gravidade, pois o Infinito é e permanece Criança, em profundidades que lhe são proporcionais. Esse Menino singular é imensamente criança, e é como tal que ele cresce, e é como tal que ele é chamado a crescer em cada um de nós e no mundo, isto é, chamado a nos invadir. A nós e ao mundo.”
            Que desastre! Reduzir o humano ao nível da planície, quando os astros esperam por nós...
Orai sem cessar: “O Senhor dará força a seu povo!” (Sl 29,11)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Será consagrado ao Senhor... (Lc 2,22-35)
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           O povo da Aliança sabia que era pertença de Deus. Aos seus ouvidos, ecoava sempre a voz do Senhor: “Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.” (Ez 36, 28.) Por isso mesmo, a idolatria era comparada à prostituição: a esposa quebrar a aliança com o esposo e entregar seu coração a outro homem.

            A noção de ser “consagrado” inclui a experiência de ser “separado para” Deus e de “exclusividade” a seu serviço, sem concessões a outro senhor. A Nova Aliança, claro, iria aprofundar e sublimar ainda mais essa relação com a experiência da “filiação”, quando o amor filial elevasse os fiéis a altitudes até então impensadas...
            No entanto, desde os tempos da Primeira Aliança, Deus se apresentava como o Esposo fiel que não desiste jamais do amor da esposa (cf. Is 62, 3-5; Os 2, 16ss), apesar de suas infidelidades. O povo de Israel sabia que era diferente das outras nações politeístas, pois tinha um único esposo, o Senhor Yahweh.
            Na plenitude dos tempos, o Filho de Deus nasce de Mulher e, quarenta dias após o parto, é apresentado no Templo e consagrado a Deus. Fazia parte do ritual um “resgate” simbólico, quando um animal (novilho, cordeiro, para os ricos; um par de rolas ou dois pombinhos, para os pobres) era sacrificado em troca do primogênito.
            A liturgia nos recorda que Jesus Cristo foi o primeiro homem cuja vida significou uma “con-sagração” total a Deus, sem nada reservar para si mesmo. Veio para fazer a vontade do Pai (cf. Hb 10, 7-9) e apenas fazia aquilo que ouvia de seu Pai (cf. Jo 5, 19ss).
            Desde os primeiros tempos da Igreja, a perfeita imitação de Jesus Cristo atraiu numerosos fiéis à “vida consagrada”. Como ensinou João Paulo II, “a vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus – virgem, pobre e obediente – adquirem uma típica e permanente ‘visibilidade’ no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus.” (Vita Consecrata, 1.)
            E nós? Estamos levando a sério a consagração realizada em nosso batismo cristão?
Orai sem cessar: “Procuro aquele que eu amo.” (Ct 3,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 É Raquel a chorar seus filhos! (Mt 2,13-18)
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            Nesta página terrível do Evangelho, vem à luz o lado mais sombrio da pessoa humana: o ódio sem limites, o medo insuperável, a crueldade além da imaginação – tudo isto resumido em um só indivíduo, o Rei Herodes. Tentando eliminar o Menino que nascera, virtual competidor pelo trono da Judeia, pois fora anunciado como rei, Herodes não hesita em mandar assassinar todas as crianças da região que poderiam estar na mesma faixa etária de Jesus.

            Alguns “doutores” duvidam da veracidade histórica do fato narrado, mas eu me recuso a crer que o evangelista Mateus registrasse cena tão crua, se não estivesse convencido de sua autenticidade. Aliás, a dificuldade humana em olhar de frente o sofrimento extremado é, já, proverbial; preferimos fingir que não aconteceu ou tentamos apagar os registros históricos. Algo semelhante ao que aconteceu quando se pedia a demissão do Papa, pois não suportavam mais contemplar o seu esforço sobre-humano no cumprimento da missão.
            Na excelente Bíblia de Navarra, uma nota de rodapé comenta este episódio: “Ramá foi a cidade em que Nabucodonosor, Rei da Babilônia, reuniu os prisioneiros israelitas. Por estar situada na tribo de Benjamin, Jeremias põe na boca de Raquel, mãe de Benjamin e de José, as lamentações pelos filhos de Israel.” No Evangelho, o pranto de Raquel é aplicado à situação das mães que tiveram seus filhos mortos a mando de Herodes.
            Guardadas as proporções, o mesmo medo de Cristo que provocou a morte dos “Santos Inocentes” - os primeiros mártires “por causa de Cristo” – ainda permanece latente em nosso mundo. É numerosa a multidão das pessoas que têm medo de Jesus. Não medo de castigos ou vinganças, mas medo de suas exigências, medo de seus princípios e valores, medo de ter que fazer algum tipo de esforço ou sacrifício para acolher a Boa Nova.
            E mais: medo de que os filhos se deixem seduzir por Cristo e sigam uma vocação consagrada; medo de uma pregação exigente; medo de ter prejuízos por causa da mensagem cristã. Esse medo leva a críticas, a acusações de radicalismo, a tentativas de edulcorar e amaciar o conteúdo real do Evangelho.
            Permanece viva a tentativa de domesticar Jesus Cristo, adaptando-o a nossas comodidades e apegos pessoais. E se Ele começar a incomodar muito, não tenham dúvida de que surgirão novos Herodes bem à nossa frente...
Orai sem cessar: “Não esqueças para sempre, Senhor,
                                             a vida de teus pobres!” (Sl 74,19b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 A pedra tinha sido retirada... (Jo 20,2-28)
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            Mas no domingo de manhã – “quando ainda estava escuro” – Maria Madalena se antecipa a todos e vê que a pedra tinha sido retirada. O túmulo estava aberto. Mas o Evangelista não nos diz se ela olhou lá dentro. Diz apenas que ela saiu correndo e foi a Simão Pedro.
            Pedro e João iniciam uma corrida até o jardim onde o corpo de Jesus fora depositado. Uma prova de atletismo em plena madrugada. Enquanto correm, pensamentos e emoções nublam ainda mais as suas almas, já ensombrecidas pelo drama do Calvário. Eles mesmos não conseguem imaginar o que espera por eles. Não fazem ideia do que poderão ver...
            Quando Pedro e João chegam ao sepulcro, de fato a pedra fora rolada pelo anjo (cf. Mt 28,2) e era possível acessar o interior da gruta. Como observa André Scrima, tinha sido removido o último obstáculo para a “visão”. O Mestre não está ali, conforme se lê na inscrição atual da Basílica do Santo Sepulcro: “Non est hic”.
            As bandagens que tinham envolvido o corpo de Jesus permanecem ali, no solo. São tiras de linho, embebidas em 30 kg de mirra líquida e aloés em pó (cf. Mt 19,39), piedosa oferenda de Nicodemos. Já no terceiro dia após o sepultamento, o envoltório consolidado mostra-se como um casulo. Mas não há nada em seu interior. Sem desmanchar as bandagens que o envolviam, o Senhor venceu a morte e ressuscitou.
            Em seu Evangelho, João registra em duas palavras o impacto que o invadiu: “viu e creu”! As bandagens e o sudário falavam por si. Se o corpo tivesse sido roubado, como espalharam os adversários de Cristo (cf. Mt 28,13), não seria possível manter intactas as faixas de linho do embalsamamento. É este “casulo” que aparece nos ícones orientais da ressurreição, testemunhando aquilo que a mente humana não chega a compreender.
            Ainda hoje, porém, permanece para muitos a pedra da incredulidade, impedindo que os olhos da alma cheguem à visão do Ressuscitado. Aferrados à razão cega, não farão a experiência de João: ver e crer...
Orai sem cessar: “Vistes aquele a quem ama a minha alma?” (Ct 3,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Perseverar até o fim... (Mt 10,17-22)
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            O Evangelho fala de uma torre que foi iniciada, mas não foi concluída (Lc 14,28-30), expondo o construtor à zombaria do povo. A imagem se aplica a tantos que tiveram uma experiência de Deus e iniciaram uma caminhada espiritual, mas acabaram desanimando diante dos obstáculos e abandonaram a fé.

            Ora, as dificuldades que Deus permite deviam ser exatamente as ferramentas capazes de aprimorar a nossa fé. Como diz Olivier Clément, “o itinerário conhece ‘noites’ que não são apenas despojamento do sensível e do inteligível, mas provações de angústia e desespero. É então que importa cair não no nada, mas aos pés do Crucificado que desceu ao inferno. E identificar-se com Cristo agonizante, que diz, ao mesmo tempo: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’ e ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’”.
            “Estas provações – observa Clément – são o cadinho da humildade, o êxodo no deserto da fé única. Cada uma delas introduz em uma ‘consolação’ – isto é, uma presença experimentada do Consolador, do Espírito Santo – tanto maior quando o homem a recebe no mais pleno desnudamento.”
            Eis a lição do Papa Francisco: “Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma coisa procurar construir o mundo com o seu Evangelho em vez de o fazer unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa”.
            “É por isso que evangelizamos – prossegue o Papa. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma pessoa não O descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence ninguém.” (Evangelii Gaudium, 266)
Orai sem cessar: “Senhor, a tua mão direita me sustenta!” (Sl 63,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

Não havia lugar para eles... (Lc 2,1-14)
Resultado de imagem para (Lc 2,1-14)            Uma família pobre em trânsito. O homem que vem até Belém, obedecendo à ordem de César, para ser recenseado entre os membros do clã de Davi. A jovem mulher está nos últimos dias de sua gravidez. O bebê ignorado que vai nascer é... o Filho de Deus...
            E não há lugar para eles. A hospedaria está realmente lotada. O grande afluxo de viajantes ocupou todos os lugares. Entretanto, seria mesmo uma atitude falsa e farisaica de nossa parte lamentar que não tenha havido um lugar para eles, se também nós ainda não abrimos um espaço para o Menino em nosso coração...
            Sempre foi assim. Desde Belém até Washington, Jesus Cristo sempre se mostra um tanto apartado do mundo, um tanto deslocado no universo dos poderes e dos ganhos materiais. Afinal – ele mesmo garante – o seu reino não é deste mundo.
            O verdadeiro “lugar” que Jesus espera encontrar é completamente outro: o coração dos homens. Talvez, um espaço nas famílias. Quem sabe, um cantinho nas oficinas. Seria pedir demais: uma pequena brecha nas estruturas sociais e econômicas?
            Os pastores de Belém, malcheirosos e despenteados, acharam um lugar para Jesus. Ao convite dos anjos, acorreram com seus cães e seus cajados. Por isso mesmo, mereceram ouvir o coral celeste que oferecia paz à terra dos homens.
            “É ali que estão a hora de Deus e o lugar de Deus sobre a terra. Ali onde a terra se descentra em relação a si mesma, para abrir-se sobre um cantinho de céu, na exultação e no louvor, e na paz de um amor ao qual, enfim, ela consente abandonar-se.”
            Estas são palavras do monge cisterciense André Louf, que ainda acrescenta: “A noite de Natal descentra também a nós. Importa que, nesta noite, nos deixemos transformar pelo Menino que vem, para não sermos encontrados em outra parte, no momento em que Deus vem participar o seu Amor: aqui mesmo, onde um passado de 20 séculos se faz presente, onde a terra e o céu se tocam em uma noite: no Céu, glória a Deus; na terra, paz aos homens que Ele ama”.

Orai sem cessar: “O Verbo se fez carne e acampou entre nós.” (Jo 1,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 24 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Virá sobre ti o Espírito Santo... (Lc 1,26-38)
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           O Evangelho de hoje nos faz presentes ao momento sublime da Encarnação do Verbo de Deus. Narra o encontro do céu e da terra, o diálogo entre Deus e a Humanidade, representados pelo Arcanjo Gabriel e pela Virgem Maria. Diante da pergunta de Maria, o anjo acena com a intervenção direta do Espírito de Deus na vida dela, enquanto agente divino na Encarnação.

Transcrevo para você estas palavras de meu livro “Sonetos do Agradecido” (Ed. O Lutador, BH):
            “Quando Maria ouve de Gabriel estas palavras, não pode deixar de evocar a nuvem do Êxodo, que cobria de luz o caminho dos hebreus e, mais tarde, encheria todo o espaço interior da Tenda de Reunião, tornando-a impenetrável. E a Virgem sabe que é chamada a resumir em sua pessoa todo Sião, e dar – em nome da assembleia das 12 tribos – um primeiro SIM, pleno e cabal, diante da Vontade de Yahweh.
            Escolhida para esse momento ‘desde antes da fundação do mundo’ (CIC. 492), revestida (e in-vestida) de uma santidade ímpar, Maria é capaz dessa adesão total aos planos de Deus. Afinal, ‘os Padres da tradição oriental chama a Mãe de Deus a toda santa (Panhagia), celebram-na como ‘imune de toda mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo, formada como nova criatura’. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida’. (CIC, 493.)
            O Espírito de Deus se mostra em todo o seu dinamismo em cada momento-chave da história da salvação. Muitos ícones, para representar esta ‘atividade pneumática’, traçam do alto (da nuvem) uma parábola luminosa que recai sobre a personagem agraciada, como no caso da ‘Natividade’: na sombra da gruta, o raio luminoso recai sobre a cabeça do Infante, no colo de Maria.
            Assim, a revelação feita por Jesus a respeito de sua própria pessoa (cf. Lc 4,18-22, na sinagoga de Nazaré) enquanto ungida pelo Espírito Santo, diz respeito a uma realidade que remonta ao instante da Anunciação. Diante do assentimento da Virgem, ‘o Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele que é ‘o Senhor que dá a Vida’, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua’. (CIC, 485.)
            Tudo porque Maria disse SIM.”
Orai sem cessar: “Se enviais o vosso Espírito, renovais a face da terra!” (Sl 104,30)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 23 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Quem virá a ser este menino? (Lc 1,57-66)
Resultado de imagem para (Lc 1,57-66)            O nascimento de João Batista foi cercado de prodígios. Pais idosos, mãe estéril. O acontecimento fugia às possibilidades humanas. Natural que todos ficassem intrigados a respeito de seu futuro, de sua missão neste mundo.

            Ora, a mesma expectativa envolvida por respeitosa veneração deveríamos alimentar em relação a cada filho que Deus nos entrega. Cada vida nova corresponde a uma vocação única e pessoal. Cada criança abortada deixa na humanidade uma lacuna que nada e ninguém pode preencher. E se a pessoa a quem Deus encarregaria da cura do câncer foi abortada, impedida de nascer?...
            Quando os pais se debruçam sobre o pequeno berço, onde ressona o bebê recém-nascido, estão diante de um grande mistério que ultrapassa nossa capacidade de compreensão: o grande milagre repetiu-se mais uma vez. Deus chamou mais um ser humano à existência. Deveriam, pois, interrogar-se: Qual será a sua missão?
            A compreensão – ainda que parcial – deste sublime mistério muda por inteiro nossa atitude diante da vida humana. Jamais usaremos embriões como matéria-prima de pesquisa depois de compreender que aquele ser-em-processo é portador de tarefas intransferíveis, essenciais para o futuro do gênero humano. Jamais aprovaremos o aborto como um “direito” da mulher grávida. Amada, querida, sonhada por Deus, a nova pessoa traz em si algo de sagrado, que a torna intocável em seus direitos e nos impede de usá-la, comprá-la, escravizá-la.
            A alternativa é a “síndrome de Herodes” – aquele louco que pretendia matar o Menino Jesus e, para tal fim, não hesitou em assassinar centenas de recém-nascidos. Esta doença ainda se espalha em nossa sociedade, chegando até a ser adotada por governantes como tática de controle demográfico.
            O cristão que não luta pela vida dá seu aval ao ódio do Rei Herodes. Torna-se cúmplice dos inimigos de Deus. Contribui para que a humanidade fique mais pobre e desamparada.
            Ao contrário, são colaboradores de Deus aqueles que cuidam da infância desvalida, os que se dedicam à educação da juventude, os que pesquisam para curar as doenças e produzir mais alimentos. Todo o trabalho humano, lembrava o Papa João Paulo II. É uma participação na obra da Criação.
            Nosso Deus é um Deus da vida. Jamais ficará neutro diante dos servidores da morte.
Orai sem cessar: “O Senhor decidiu abençoar: é a vida para sempre!” (Sl 133,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

Conforme prometera... (Lc 1,46-56)
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           Em seu cântico de louvor e ação de graças – o “Magnificat” – a Virgem Maria realça a fidelidade de Deus manifestada na história dos homens: o Menino que ia nascer, e que já começava a ser formado em seu ventre imaculado, primeiro sacrário da História, era o cumprimento das antigas promessas do Senhor a seu povo.

            A promessa de enviar um “descendente” da Mulher (cf. Gn 3,15) que pisaria a cabeça da serpente. A promessa de conceder uma “descendência” a Davi (cf. 2Sm 7,12). A promessa de um filho-Deus conosco, isto é, enxertado na carne dos humanos (cf. Is 7,14). A promessa de um poderoso Governante para Israel, que deveria nascer na humilde e pequena Bet-lehem Efrata (cf. Mq 5,1ss).
            Com a Nova Aliança, desde a Anunciação saltamos do tempo das promessas para seu cumprimento na “plenitude dos tempos”. Tudo o que foi dito e prometido aos patriarcas e profetas, tudo o que foi tipificado em Abel (o inocente sacrificado), em Isaac (o filho como oferenda), em José (o irmão entregue por moedas), no Servo sofredor de Isaías (cujas chagas nos salvam) – tudo isto se cumpre na Pessoa de Jesus, o Filho de Deus, o Filho de Maria.
            Referindo-se ao dom do Espírito Santo, que Deus prometera desde a Primeira Aliança, promessa que Jesus renovara mais de uma vez, o Apóstolo Pedro afirma em seu primeiro sermão após Pentecostes: “Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus.” (At 2,39.)
            Desde a manhã de Pentecostes, os apóstolos sabiam que eram testemunhas da fidelidade de Deus, do cumprimento das antigas promessas. Foram capazes, então, de reler o Antigo Testamento à luz dos fatos novos que estavam vivendo, conforme no-lo demonstra a leitura alegórica dos Padres da Igreja que chegou até nós.
            A Virgem Maria, ao cantar o “Magnificat”, é a Filha de Sião que guardara no coração as antigas promessas. Em outros termos, Maria resume em sua pessoa todo o povo de Israel, a quem Deus fizera as promessas de salvação a serem cumpridas nos tempos do Messias.
            Em nossa vida, temos assumido as promessas de Deus para seu povo? Nossa vida permite que Deus cumpra suas promessas de salvação?
Orai sem cessar: “Cantarei eternamente as bondades do Senhor!” (Sl 89,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

Saltou de alegria... (Lc 1,39-45)
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            São Lucas registra que a simples aproximação de Maria, já portadora do Filho de Deus em seu ventre sagrado, foi suficiente para que João Batista, ainda em sua vida pré-natal, reagisse com alegria. Estamos diante de uma verdade que parece esquecida: a experiência cristã é fonte de profunda alegria.

            Ao relatar a descoberta de Deus e sua conversão ao cristianismo, o escritor inglês C. S. Lewis intitulou seu livro “Surprised by Joy”, (surpreendido pela alegria). No livro dos Atos dos Apóstolos, logo após Pentecostes, São Lucas registra: “Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza.” (At 4,46.) Anotou também o efeito da pregação de Filipe em Samaria: “Por este motivo, naquela cidade reinava grande alegria.” (At 8,8.)
            Ora, pode ser que nossas reuniões, celebrações, e mesmo o “clima” geral de nossa vida como cristãos não estejam irradiando a mesma alegria. De fora, o pagão pode ter a impressão de que somos um povo triste, sem ânimo e vibração. E assim, afastamos as pessoas de Jesus, que tinha intenção completamente diferente: “A vossa tristeza há de se transformar em alegria”. (Jo 16,20b.) “E o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria”. (Jo 16,22.) “Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” (Jo 16,24.)
            É clássico o refrão: “Um santo triste é um triste santo.” Na verdade, quem conviveu com pessoas santas, sabe que elas são alegres, irradiantes, mesmo que sua alegria não lembre a alacridade das maritacas, mas seja antes uma espécie de letícia, a alegria serena, mas profunda, de quem vive mergulhado na paz de Deus, mesmo entalado em um mundo de problemas.
            Na verdade, a alegria é fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5,22), ao lado da paz, da paciência e da brandura. Quem se volta para Deus e busca seu perdão, vê-se livre de sentimentos negativos que já pareciam constituir na pessoa uma segunda natureza. Ao contrário, a vida vivida “na carne” leva à tristeza, à depressão e a impulsos de autodestruição, como obscura colheita do pecado.
            Marthe Robin, a fundadora dos “Foyers de Charité”, mesmo imobilizada em um pequeno divã por mais de 50 anos, alimentada exclusivamente por uma comunhão semanal, notabilizou-se por uma alegria infantil que contagiava a todos que faziam contato com ela. Mais ainda: Marthe assumia em sua oração a tristeza e as cruzes de seus visitantes, que saíam dali libertos e transfigurados.
            Que tipo de cristão queremos ser?
Orai sem cessar: “Transformaste meu luto em dança!” (Sl 39[29],12)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

O nome de Jesus... (Lc 1,26-38)
Imagem relacionada           Na Bíblia, o nome está ligado à missão. Ao receber a missão divina, a pessoa recebe um nome novo. Assim, Abrão passa a ser chamado Abraão [pai de uma multidão], conforme a promessa de Deus de lhe dar uma descendência incontável, apesar de casado com Sara idosa e estéril. Igualmente, Jacó, após o combate noturno com Deus, é rebatizado de Israel: “Que Deus se mostre forte”.

            Na Anunciação, o Anjo Gabriel informa à Virgem Maria que seu filho será chamado Jesus (Ye-shua, “Javé salva”). Em seu nome está explicitada sua missão: salvar os homens. Por analogia, podemos dizer que, caso Gabriel fosse enviado a uma jovem de língua portuguesa, o nome do filho seria “Salvador”.
            Na Igreja do Oriente, desenvolveu-se a tradição que conhecemos pelo nome de “Oração de Jesus”, praticada em mosteiros, como os do Monte Athos e do Monte Sinai, mas também pelos fiéis leigos. No Ocidente, São Bernardo de Claraval e S. Bernardino de Sena também propagaram este “método” de rezar.
            O conhecido relato do “peregrino russo” registra como um andarilho aprendeu com um monge a repetir indefinidamente o nome santo de Jesus, em uma fórmula curta, à maneira de jaculatória: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!” Na prática, podemos reduzi-la a poucas palavras, repetidas no ritmo da respiração, repassando, ou não, as contas de um rosário: “Senhor Jesus” ou, apenas, “Jesus”.
            Não se trata de nenhum procedimento “mágico”, mas um processo de saturação que nos coloca em crescente intimidade com o Senhor, ao mesmo tempo que nos une em comunhão com todos aqueles que oram da mesma maneira, em todo o mundo. Em qualquer ambiente – lar, escola, trabalho, em viagem – esta oração é possível e frutuosa, reconduzindo o coração do orante à presença (tantas vezes esquecida!) de nosso Salvador.
            Nome e pessoa são inseparáveis. Rezar “em nome de Jesus” é rezar em sua Pessoa. No livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos sinais dessa prática: “... estende a tua mão para que sejam operadas curas, sinais e prodígios pelo Nome de teu santo servo Jesus”. (At 4,29-30.) E ainda: “... o temor invadiu a todos e celebravam a grandeza do Nome do Senhor Jesus.” (At 19,17.)
            E Jesus anunciara: “Em meu Nome, expulsarão demônios, falarão novas línguas, pegarão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; imporão as mãos aos enfermos e estes serão curados”.
Orai sem cessar: “Ó Deus, salva-me pelo teu Nome!” (Sl 54,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Será cheio do Espírito Santo... (Lc 1,5-25)
Resultado de imagem para lc 1 5-25           No Evangelho de hoje, estamos diante de uma “anunciação”. O mensageiro divino manifesta ao sacerdote Zacarias, bem junto do altar, que lhe seria dado um filho em plena velhice. Entre outros traços desse menino, diz o Anjo que ele será “cheio do Espírito Santo”.

            Como em toda vida humana, o nascimento de João corresponde a uma vocação necessária. Deus “precisa” de alguém que prepare o povo para a vinda do Messias. João foi o escolhido. Mas o esforço humano, habilidades e dedicação são insuficientes para o cumprimento de nossa missão. Por isso mesmo, o menino será dotado da plenitude do Espírito de Deus. É com tal dinamismo que ele exercerá o seu papel na história dos homens.
            A mesma expressão aparece após Pentecostes, em várias situações registradas nos Atos dos Apóstolos, seja na vida de Pedro (At 4,8), de Estevão (At 7,55), de Paulo (At 9,17; 13,9), de Barnabé (At 11,24) ou dos discípulos em geral (At 2,4; 4,31; 6,3; 13,52). A cooperação entre o Espírito e a Igreja (cf. At 9,31) permite a expansão do Evangelho e o crescimento da Igreja de Cristo. A Igreja primitiva tinha a consciência de que não realizava tarefa humana, mas agia impelida pelo Espírito de Deus, sem o qual se veria incapaz para a missão.
            Na Carta aos Romanos, Paulo insiste nessa evidência: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele.” (Rm 8, 9.) Nemmesmo a oração – que pode parecer tarefa bem fácil – conseguiremos levar adiante sem esta mesma sustentação: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus.” (Rm 8,26-27.)
            Em nossos tempos, é comum o engano de iniciar projetos – mesmo dentro da Igreja – quando se conta apenas com as forças e recursos humanos. Como resultado, muita agitação, muito cansaço, muitos fracassos. Os santos, ao contrário, mesmo sem dinheiro e sem o apoio dos poderosos, ergueram obras admiráveis para servir em especial aos pequeninos deste mundo.
            E nós? Com quem estamos contando para cumprir a nossa missão?
Orai sem cessar: “É o espírito de Deus no homem e um sopro
                                do Todo-poderoso que torna inteligente.” (Jó 32,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Despertando do sono... (Mt 1,18-24)

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          Quando Maria de Nazaré voltou de Ain Karim, onde assistira a Isabel em uma gravidez de risco, pois a mãe de João Batista tinha idade avançada, certamente já se percebia que a noiva de José estava grávida...

          Entre os hebreus, o noivado era coisa séria. Tanto que, se o noivo morria, a noiva passava a se vestir como as demais viúvas e com elas convivia. Uma noiva adúltera era apedrejada após a denúncia feita pelo noivo. Não admira que José, o justo, sem poder conciliar a evidência de gravidez com a íntima certeza de que sua noiva era pura e fiel, pensasse em se afastar dela, em silêncio (isto é, sem a acusar!), certamente por intuir que o dedo de Deus estava naquela história...
          É quando ocorre a “Anunciação do anjo a José”. Uma experiência profunda, ligada ao inconsciente (esse sabidinho!...), tantas vezes usado por Deus para iluminar nosso caminho. E a mensagem do Anjo é clara: “Não temas! É obra do Espírito de Deus...”
          Despertando do sono, José põe em prática aquilo que “ouvira” com o ouvido do coração e toma por esposa a noiva grávida de Deus. Pode parecer um detalhe insignificante. Penso que não. Na prática, não basta ouvir a voz de Deus. É preciso “despertar do sono”. Enquanto cochilamos, não entramos em ação conforme manda a voz de Deus.
          Não é à toa que, em suas cartas, o apóstolo Paulo tantas vezes insista no mesmo imperativo: “Eis a hora de despertar do vosso sono: hoje, com efeito, a salvação está mais próxima de nós do que no momento em que abraçamos a fé. A noite está adiantada, o dia está bem próximo” (Rm 13,11-12a) “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti o Cristo resplandecerá.” (Ef 5,14)
          O Advento, todo o tempo, representa um insistente convite a sair do marasmo, a despertar da sonolência e ficar de olhos acesos para o Cristo que vem. Rotinas sem alma, anestesias da TV, relacionamentos mornos – tudo isto é incompatível com a expectativa da iminente chegada do Senhor. Se o velhinho de vermelho não nos distrair do essencial, quem sabe estaremos acordados quando o Menino chegar...
          Como assegura a Antífona de Laudes, “o Senhor vai chegar sem demora; trará à luz o oculto nas trevas, vai revelar-se a todos os povos. Aleluia.”
Orai sem cessar: “Jamais deixarei que meus olhos se fechem!” (Sl 132,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 17 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Dar testemunho da Luz... (Jo 1,6-8.19-28)

Imagem relacionada            João Batista, o precursor de Jesus, veio ao mundo com uma missão específica: apontar para o Cordeiro de Deus, o Cristo Senhor. Identificá-lo como o Messias esperado. E de fato, logo após reconhecer Jesus, às margens do Jordão, o Batizador é preso por Herodes e sai de cena para sempre.

            A figura de João Batista tem sido habitualmente des-figurada, quando o veem como um lobo ululante a proferir maldições e ameaças. Ora – comenta o Ir. Éphraim, fundador das Beatitudes -, um homem que se alimenta de mel só pode proferir doçuras... Aquele que deve apontar o Cordeiro não pode uivar como um coiote do deserto, mas deve ser impregnado da mesma suavidade.
            Nada disto, no entanto, impede que João [em hebraico, “Deus me fez graça” – reconhece Isabel!] realize sua tarefa: dar testemunho da Luz. Luz que é um dos nomes de Cristo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5). É assim que João prepara as veredas do Salvador e, ao mesmo tempo, ensina que o evangelizador deve desempenhar o mesmo papel: abrir caminho para o Salvador.
            O trabalho educativo dos pais é este: apontar para a luz. Insistentemente, sem cansaço, orientar os filhos. (Note que o verbo “orientar” liga-se ao Oriente, o lado de onde nasce o Sol!) Claro, isto supõe que os pais estejam “orientados” e sua vida seja mergulhada na luz pascal de Cristo. Que os próprios pais não caminhem nas trevas do erro e nos atalhos do mundo pagão. Os filhos têm direito a ver a luz de Cristo refletida na face e nos gestos de seus pais...
            A legião de jovens que perambulam pela noite, sem rumo e direção, denuncia as trevas de seus lares. Ali, os pais não se reúnem para rezar, não buscam a graça dos sacramentos, não se alimentam com a Palavra de Deus. Sem a luz diurna que emana do Ressuscitado, resta aos jovens o luar sombrio do néon, a luz negra das casas noturnas, as sombras dos becos e dos corações.
            Pobres filhos! Pobres pais! Cegos e guias de cegos! Fecharam os olhos à Fonte de Luz e vagueiam sem norte, sem ter aonde ir... A droga letal e o sexo sem amor são amargas compensações para quem não descobriu a Vida...
            Mas, lá no fundo da noite, ainda brilha uma chama: é a Luz de Cristo, acesa na Vigília Pascal, a irradiar cintilações para todos os quadrantes. E nós, cristóforos [portadores de Cristo], temos a missão do Batista: testemunhar ao mundo que a Luz ainda brilha e quer iluminar todos os desvãos da sociedade.
            Quando o faremos?
Orai sem cessar: “Em tua luz vemos a luz!” (Sl 36[35],10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 16 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 O Filho do Homem há de padecer... (Mt 17,10-13)

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           Este Evangelho deixa claro que Jesus Cristo não foi surpreendido por sua Paixão. Sabia muito bem o que esperava por ele. Sua Paixão e Morte não foram acidentes de percurso. Afinal, o martírio de João Batista, como recusa de sua mensagem profética, já alertara a Jesus acerca de seu próprio fim.

Nos Evangelhos, Jesus anuncia por três vezes que a cruz estava à sua espera... Em uma delas, o Mestre teve de repreender asperamente a Simão Pedro, que se manifestava contrário a tal rebaixamento, assumindo o papel de Satã, o adversário. Não foi com passiva resignação que Cristo carregou sua cruz, mas abraçou-a com uma atitude ativa e amorosa, pois sabia dos frutos de salvação que brotariam da rocha do Calvário.
            Por isso mesmo, é fundamental para nós que os sofrimentos de Cristo sejam traduzidos como sinal de seu amor por nós, sem nada que lembre masoquismo ou inútil flagelação. Mais que infamante instrumento de tortura, a Cruz sinaliza que Deus nos ama com amor sem limites.
Talvez ajude a leitura de meu soneto “Exclamações”:

Pensar que meus pecados e meu crime
Transpassaram no Gólgota os teus braços!
E mesmo tropeçando, os membros lassos,
Carregas tua Cruz que me redime!
Pensar que teu Amor jamais se exime
Da culpa semeada por meus passos!...
E contemplando a dor de meus fracassos,
Levas também o fardo que me oprime!...
Pensar que és a Vítima inocente,
O Cordeiro que morre pela gente
Para que a Vida, em nós, supere a Morte!...
Pensar que, na amplidão do céu sem brilho,
O Pai entrega à morte o próprio Filho!...
Onde encontrar, Jesus, amor tão forte?!

Orai sem cessar: “O Senhor me esconde no segredo de sua tenda
                                   e me levanta sobre um rochedo.” (Sl 27[26],5b)


Texto e soneto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Semelhante a crianças... (Mt 11,16-19)

Imagem relacionada           Na Bíblia, a mesma imagem pode ter valor positivo ou negativo. É o caso do “fermento” – em geral, com valor negativo (Ex 12,15; Mt 16,6), conotando corrupção e pecado, mas também usado por Jesus como imagem do Reino de Deus que cresce em silêncio, sem sinais exteriores (cf. Mt 13,33).

            No Evangelho de hoje, são as crianças – que Jesus apontara como ideal a ser imitado (cf. Mc 10,15; Lc 10,21) – a imagem dos discípulos imaturos que vivem entre queixas e reclamações, tal como os judeus do tempo de Jesus, que recusavam ao mesmo tempo o Batista, por sua vida sóbria e ascética, e a Jesus de Nazaré, por gostar de uma boa mesa e de um bom vinho.
            Ainda hoje, nas paróquias e comunidades, há muitas “crianças” eternamente insatisfeitas. Criticam o padre que celebra a missa muito depressa, mas reclamam do outro que faz a missa comprida. Fazem críticas se o padre não prega, manifestam seu desagrado se a homilia se estende. Se o coordenador é exigente, brotam queixas; se ele é democrático, cobram mais rigidez. Crianças insatisfeitas...
            Os santos não são assim. Os santos são muito realistas. Partem da realidade que lhes é dada e se dedicam de alma e coração a cumprir a missão inadiável. Eles não pensam na Igreja ou em sua comunidade como um lugar onde se recebem favores e regalias. Sabem que sua tarefa consiste em imitar a Jesus, que lavou os pés de seus apóstolos. Mesmo que sejam elevados a posições de mando, eles entendem sua autoridade como um serviço aos irmãos.
            As crianças querem afagos, elogios, atenções especiais. Se isso falta, emburram, amarram a tromba e iniciam sua ação deletéria, feita de críticas, acusações, formação de partidos. Se um desses imaturos acaba em posição de governança, será a vez de reclamar da má qualidade de seus governados, além de abusar do poder e da autoridade.
            Os imaturos são eternos insatisfeitos. Jamais serão felizes. E semearão à sua volta uma enxurrada de amargura. Pior ainda: verão passar em vão a graça de Deus e acabarão perdendo o bonde da história. Foi assim no tempo de Jesus. Continua assim em nossos tempos.
            Quando atingiremos a estatura do homem perfeito? (Cf. Ef 4,13.) Quando deixaremos de lado nossas mamadeiras? (Cf. Hb 5,12.) Quando assumiremos a missão que Deus colocou em nossas mãos?
Orai sem cessar: “Eis que vim para fazer a tua vontade!” (Hb 10,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Não surgiu quem fosse maior... (Mt 11,11-15)

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            Estamos falando de João Batista, o precursor [em grego, pródromos, isto é, “o que corre na frente”]. E esta avaliação que ele mereceu de Jesus de Nazaré é um elogio notável, pois o coloca acima de todos os patriarcas e profetas da Primeira Aliança.

            E qual será a razão deste elogio excepcional? Até onde posso ver, trata-se de sua escolha para ser a “voz imediata” no anúncio do Reino que se avizinhava na pessoa do Messias, Jesus Cristo. Cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc 1,44), cumpriria sua missão ao preço da própria vida.
E isto me faz pensar que não temos dada a devida consideração nem o devido valor às pessoas que também assumem a mesma missão: ser uma voz que anuncia o Senhor. Ao mesmo tempo, ajuda a compreender por que os tiranos de todos os quadrantes, de todas as épocas, se apressam a calar as vozes que repetem o Evangelho...
            Hoje, no deserto das grandes cidades, somos chamados a assumir missão semelhante à do Batizador. Quem nos fala sobre isso é o Bispo do Saara argelino, Claude Rault:
            “Nossa vocação é a de ser como João Batista: traçadores de estradas, humildes caminheiros do Bom Deus! O Batista tem consciência disso: ele abre a estrada para aquele que vem depois dele, ele caminha por um Outro. Isto exige fidelidade, confiança e gratuidade nas relações. Assim se traça um caminho, e outros continuarão a assumi-lo. Invisível, Jesus pisa sobre nossos passos.
            João Batista traça um caminho, ele é um caminheiro cujas passadas acabam por nos deixar uma trilha. É a figura que ainda hoje nos inspira. A seu modo, somos chamados a deixar uma esteira na vida deste mundo, como estradeiros infatigáveis. A rota que deixamos atrás de nós será tomada por outros. É isto que fazemos no grande deserto da vida...”
            Mas o mesmo profeta nos deixa outra lição: apagar-se, distanciar-se, sair do foco. Quando cercam João Batista, inquirindo-o se seria o Messias esperado, ele não só o nega, mas se põe em segundo plano: “Não sou digno de lhe desamarrar as sandálias”. E arremata o lema que devemos assumir nas missões da Igreja: “Importa que ele (Jesus) cresça, e eu diminua...”
            O arauto corre o risco permanente de se confundir com o Rei. Sua missão é apenas tocar a trombeta e perder-se na multidão que espera pelo Senhor.

Orai sem cessar: “Quero ensinar teus caminhos aos que erram... (Sl 51,15)