Eu
não sou digno...
(Mt 8,5-17)
Um centurião romano, chefe de cem
soldados, está acostumado a dar ordens e a vê-las cumpridas sem retardos nem
desculpas. Uma só palavra e basta! Por certo, o militar já está bem informado
sobre Jesus, o estranho Rabi da Galileia que cura os enfermos, devolve a visão
aos cegos e liberta os possessos. Mesmo sendo um estrangeiro na Palestina, ele
reconhece a autoridade de Jesus sobre os males físicos e espirituais. Este
reconhecimento (uma modalidade de fé?) é que o anima a rogar pelo servo doente.
Ao ver que Jesus faz menção de ir
à sua casa, o soldado romano se espanta, atrapalhado: não precisa tanto, basta
uma palavra! Afinal, um judeu que entrasse no ambiente “impuro” do estrangeiro,
ficaria também ele ritualmente impuro. E o centurião tem um argumento
invencível para que Jesus de Nazaré não visite seu lar, a casa de um
estrangeiro, invasor e “pagão”: “Senhor, eu não sou digno!”
Como não pensar naquele publicano
da parábola (cf. Lc 18,9ss), que sequer se aproximava do altar e – tão
diferente do fariseu contador de vantagens - lá do fundo do Templo, olhos no
chão, batia no peito e se rebaixava diante do Senhor: “Tem piedade de mim, que
sou pecador”?
Não é sem motivo que nossas
Eucaristias começam sempre por um ato penitencial. É, talvez, uma tentativa
desesperada da Igreja para nos recordar nossa condição de pecadores. Espera-se
que, batendo no peito, examinando a própria consciência, nós desistamos da
impropriedade de cobrar alguma coisa de Deus, ou de apresentar-lhe nossos
méritos (aliás, inexistentes...) ou mesmo reclamar asperamente do Senhor pela
má qualidade dos serviços que Ele nos presta...
Como faz falta a todos nós este realista
sentimento de indignidade! Aquele mesmo sentimento do pródigo que está voltando
para casa com um discurso ensaiado: “Já não sou digno de ser chamado teu
filho... Podes tratar-me como um dos empregados...” (Lc 15,19.) Para ouvir,
surpreso, a resposta do Pai: “Não tem jeito, meu filho! Enquanto eu for Pai, tu
serás meu filho!”
É assim que se descobre a verdade
fundamental em nossa relação com Deus: não somos amados porque somos bons;
somos amados porque somos filhos... Não é por mérito nosso. É pelo amor do
Pai...
De que maneira eu costumo
apresentar-me diante de Deus? Desfio o longo rosário de minhas boas ações e
cobro retribuição? Ou confesso humildemente os meus pecados e recebo o seu
perdão?
Orai sem cessar: “Junto ao Senhor se acha a misericórdia!” (Sl
130,7)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.