quinta-feira, 20 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 E achareis repouso... (Mt 11,28-30)
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               Esta passagem do Evangelho, exclusiva de Mateus, chega a ser comovente pela sua candura. Jesus faz um convite a “todos vós que sofreis, que estais sobrecarregados”, seguido de uma promessa: “e eu vos descansarei”.

               Ora, seria difícil encontrar alguém que não se enquadrasse como destinatário deste convite, desde a criança síria vitimada pelo gás Sarin, ao migrante sudanês que atravessa o Mediterrâneo num bote inflável, até a mãe da menina brasileira atingida pela bala perdida em plena sala de aula. Todos sofrem, todos estão esmagados pela vida, todos clamam por descanso e paz.
O teólogo Hans Urs von Balthasar comenta:
               “São convidados todos os aflitos e todos os que estão sob o peso seja lá do que for. É para estes que o repouso é prometido. (Os outros não precisam disso...) Note-se, porém, a oposição: aqueles que vêm a Jesus carregam ‘pesados fardos’, mas o ‘jugo’ de Jesus é ‘fácil de carregar’, seu ‘fardo é leve’.
               Entretanto, o fardo dele, a cruz, é o mais pesado que existe. E não podemos dizer que sua cruz só é pesada para ele, e não para aqueles que a carregam junto com ele. A solução se encontra na atitude de Jesus, que se designa como “manso e humilde de coração”, que não geme sob os fardos que lhe são impostos, não se lamenta, não protesta, não os mede nem os compara às suas próprias forças. ‘Ponham-se em minha escola’, e em seguida vocês farão a experiência de que o seu pesado fardo é, afinal, verdadeiramente ‘leve’.
               Não é em vão que o Messias vem, na profecia de Zacarias (9,9-10), montado em um burrinho completamente humilde. E não é sem razão que Paulo nos recorda termos em nós o ‘Espírito de Deus’ (do Pai) e o ‘Espírito de Cristo’ (do Filho), para nos deixar determinar por ele. O homem carnal geme debaixo de seu fardo, entretanto, ‘não somos devedores da carne para vivermos segundo a carne’ (Rm 8,9.11); ao contrário, nós podemos rejubilar-nos segundo Espírito divino que habita em nós, o Espírito de amor entre o Pai e o Filho, por Jesus nos permitir carregar com ele um pouco de seu jugo, de sua cruz. Assim é que nos é dado experimentar, no Espírito, o repouso de Deus.”
               Até quando vamos ignorar este ponto central da Boa Nova? Jesus veio para os fracos, para os vencidos, para os sem esperança aos olhos do mundo. E sua maneira de vir foi a Encarnação, quando ele mesmo assume plenamente a nossa condição, sem regalias, sem honrarias, sem descanso. E, por isso mesmo, ele compreende as nossas dores...
Orai sem cessar: “Eram as nossas dores que ele carregava...” (Is 52,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

...e as revelaste aos pequeninos. (Mt 11,25-27)
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                Um vaso cheio não pode receber mais água. A ciência pode “inchar”, como adverte São Paulo (cf. 1Cor 8,1b). Quem se julga muito sábio arrisca-se a desprezar o que lhe parece muito simples ou incompatível com seus hábitos racionais. Já os “pequeninos” – um diminutivo que se aplica normalmente às crianças – mostram-se abertos à revelação dos mistérios de Deus.

               Impossível, aqui, não recordar S. Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, com sua “pequena via”, o caminho simples e humilde para a santidade. Quem leu “História de Uma Alma”, seus preciosos manuscritos autobiográficos, há de lembrar-se de suas palavras:
“Jesus sente prazer em mostrar-me o único caminho que leva para essa fornalha divina, e esse caminho é a entrega da criancinha que adormece sem receio no colo do pai... ‘Quem for criança, venha cá’ (Pr 9,4), disse o Espírito pela boca de Salomão, e esse mesmo Espírito de Amor disse também que ‘a misericórdia é dada aos pequenos’. Em nome dele, o profeta Isaías revela que, no último dia, ‘o Senhor leva à pastagem o seu rebanho, com seu braço conserva-o reunido; traz no seu regaço os cordeirinhos, e tange cuidadosamente as ovelhas que aleitam.” (Man. B, 242.)
Ao proclamar a Pequena Teresa Doutora da Igreja, a Igreja reconhecia: a grande sabedoria espiritual está na simplicidade da criança que se abandona e se deixa guiar pelo Espírito de Deus. Santidade não se confunde com heroísmos. Faz-se de coisas ordinárias vividas com um amor extraordinário. Teresinha ensinou: o modo como apanhamos do chão um alfinete pode salvar almas...
Os soberbos e autossuficientes torcem o nariz para a Pequena Via. Preferem conquistar a santidade como um pódio de vencedores. Apostam no “crescimento espiritual”, buscam pelo “controle da mente”, pela aquisição de poderes e pela posse de dons extraordinários. Ao final da maratona, seriam conhecedores de uma Gnose – um conhecimento reservado a poucos – que lhes permitiria galgar o Olimpo e nivelar-se a Deus...
E Deus se alegra em dar de graça aos seus pequenos tudo que a mente humana jamais alcançaria. O abandono da teologia mística nos institutos de teologia revela o profundo desgosto dos “doutores” pelo “caminito” próprio dos “anawim”, os pobres de Deus. Estou disposto a abandonar-me no colo de Deus?

Orai sem cessar: “Como uma criança no seio materno,

                                            Assim está minha alma em mim mesmo.” (Sl 131,2)

terça-feira, 18 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

O dia do julgamento... (Mt 11,20-24)
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               A compreensão deste Evangelho pede auxílio à geografia. Sem panos quentes, Jesus contrasta duramente três cidades do Povo Escolhido – Corozaim, Betsaida e Cafarnaum – e três cidades pagãs – Tiro, Sidônia e Sodoma.

               As três primeiras eram conhecidos centros de estudos rabínicos, aqueles “sábios e entendidos” aos quais o Pai ocultou seus mistérios (vide v. 25). Jesus se lamenta por ter “desperdiçado” tantos milagres nestes centros de doutores, ao ver que os “sinais” não os haviam despertado para a conversão.
               Situadas no entorno do Lago de Tiberíades, experimentaram progresso e desenvolvimento econômico devido às obras romanas na região, no tempo de Jesus.
               As três últimas cidades eram símbolos acabados da “impureza” dos não-povo (os goyim), detestados por Israel e desprezados como “cães”. Tiro e Sidônia eram cidades da Fenícia (atual Líbano), dedicadas ao comércio marítimo e exportadoras da preciosa tintura de púrpura. Este pigmento era produzido a partir de um molusco abundante na região, o “múrex”, cujas carapaças apodreciam no litoral e empestavam os ares.
               Os fenícios adoravam um ídolo: a deusa Astarte, filha de Baal e irmã de Camos, deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da guerra. Para os judeus, uma detestável abominação. Alguns dos cultos fenícios incluíam vítimas humanas. Por tudo isso, um israelita fiel jamais se aproximaria desses estrangeiros.
               A cidade de Sodoma, por sua vez, era desde o Gênesis o símbolo máximo de uma sociedade corrupta e prostituída, da qual Lot teve de fugir com sua família. Juntamente com Gomorra, acabou destruída por um castigo do céu, ardendo sob uma chuva de fogo e enxofre (Gn 19).
               Em suma, é fácil adivinhar a reação de ódio dos ouvintes de Jesus diante desta comparação. Era demais para o orgulho nacional dos judeus! E não foi a única ocasião em que Jesus elogiou os estrangeiros por suas demonstrações de fé e de abertura à graça de Deus (cf. Mt 8,10; 15,28; Lc 7,9; 11,31; 17,18-19 etc.), em contraste com a falta de fé de seus compatriotas.
               Deixando a geografia e a história antiga, voltemos ao presente: de que maneira estou preparando o dia de meu julgamento? Merecerei o “ai de ti” dirigido às cidades de Israel? Ou abro meu coração como as cidades pagãs?

Orai sem cessar: “O Senhor é a minha defesa!” (Sl 94,22)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

Vim separar o homem de seu pai! (Mt 10,34-11,1)
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               Lembram-se de Francisco de Assis, que se apaixonou pela pobreza e pelo pobre? Seu pai, rico mercador de tecidos, não entendeu a atitude do filho que distribuía seus bens aos pobres. Como o pai ameaçasse deserdá-lo, Francisco despe até mesmo a roupa do corpo e, nu, na presença do bispo, abre mão de sua herança para seguir a Jesus de modo radical.
               Um de meus professores, Pe. Carlos Morra, pertencia a uma família da antiga nobreza espanhola. Seu avô e seu pai eram destacados arquitetos. Quando o jovem Carlos manifestou seu desejo de ser padre, encontrou a recusa de seu pai. “Teu avô era arquiteto. Eu sou arquiteto. Tu serás arquiteto!”
Obediente, Carlos estudou arquitetura. No dia da formatura, recebeu o canudo e dirigiu-se ao pai: “Aqui está o seu diploma. Hoje, às 18 horas, entro para o seminário.” Entre os meus professores, Pe. Carlos foi um dos mais sábios e mais santos... Entre o desejo humano do pai e o chamado que Deus lhe fazia, ele teve a coragem de fazer uma dolorida ruptura e seguir sua vocação.
Neste Evangelho, Jesus contrapõe os verbos “achar” e “perder”. Hoje, em pleno clima de capitalismo, diríamos “ganhar” e “perder”. O mundo pagão dedica-se a ganhar, acumular, fazer sucesso. O seguidor de Jesus aceita perder-se pelo bem do outro, como a mãe que “gasta” a vida pelos filhos.
Certa vez, fiz uma palestra na Universidade de Viçosa, MG. Logo na entrada da Universidade, destacam-se quatro grandes colunas, cada uma delas com um verbo latino: EDISCERE, SCIRE, AGERE, VINCERE. Isto é: aprender, saber, agir, vencer.
Ao final, manifestei aos ouvintes a minha intenção de dinamitar a quarta coluna, edificando outra em seu lugar. Trocaria o verbo “vencer” (típico de uma mentalidade capitalista, utilitarista, quando o saber é acumulado como uma forma de poder sobre os outros) pelo verbo SERVIR. Assim, a oportunidade de cursar uma Universidade assumiria objetivos inteiramente novos... A ciência adquirida reverteria no bem comum, no serviço ao próximo. Para minha surpresa, o auditório, na maioria universitários, aplaudiu minha proposta...
E você? Aplaudiria também?
Orai sem cessar: “Senhor, vós sois a minha parte de herança!” (Sl 16,5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 16 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

Por que em parábolas? (Mt 13,1-23)
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                O capítulo 13 do Evangelho de São Mateus é conhecido como o “sermão das parábolas”. Nele encontramos uma série de “histórias” de conteúdo simbólico, com as quais o Mestre Jesus quis abrir nosso entendimento para os mistérios do Reino de Deus.

               É nítida a dificuldade de os ouvintes captarem o nexo profundo das parábolas, tanto que o próprio Jesus se viu levado a interpretar algumas delas (cf. Mt 13,18ss; 13,36ss). Bem ao gosto oriental, as parábolas são um recurso pedagógico que consiste em uma breve narrativa que põe lado a lado duas realidades – uma imediata, outra “misteriosa” -, exigindo do ouvinte um esforço de penetração nem sempre fácil, mas que viria como fruto de uma reflexão mais profunda ou mesmo de uma mudança de vida...
               No caso, Jesus fala do “Reino de Deus” ou “Reino dos céus”. Por sua própria natureza, este Reino supera de longe todas as realidades terrestres, todos os âmbitos do mundo material, de tal modo que é impossível “falar abertamente” sobre o Reino com a utilização de nossas palavras ressecadas, utilizadas para designar objetos (substantivo), aspectos físicos (adjetivo), quantidades (numerais) e ações palpáveis (verbo).
               Daí, o recurso ao conhecido (terra, semente, joio e trigo, farinha e fermento, tesouro e pérolas) para falar do desconhecido – o próprio Reino. Na verdade, ainda hoje os senhores teólogos se engalfinham e discutem o que seria o Reino: a própria Igreja? Um mundo perfeito aqui no planeta? O próprio Jesus Cristo?
               Entretanto, nós já sabemos alguma coisa sobre ele. Sua (im)plantação é iniciativa de Deus, o semeador. Seu crescimento depende em parte de nós (a terra). Ele cresce subterraneamente (como a semente) e só se percebe por seus efeitos (como o fermento na massa). Seu valor supera toda expectativa humana (como o tesouro encontrado). Vale a pena trocar tudo por ele (como a pérola especial). Parece insignificante, mas promete crescer (como o grão de mostarda).
               Sim, o Reino gosta de se esconder. Não sairá nas manchetes. Não busquem por ele no noticiário da TV. Mas pode ocultar-se em uma enfermaria de hospital, no silêncio de um asilo, na agitação de uma creche. Pequeno, discreto, imperceptível ao olhar das quantidades e das estatísticas, o Reino desafia o nosso olhar.
               Mas vale a pena procurar por ele. Quem sabe, o Reino estará bem dentro de nosso coração?

Orai sem cessar: “E vós sereis para mim um Reino de sacerdotes...” (Ex 19,6)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 15 de julho de 2017

Palavra de vida

Apregoai sobre os terraços! (Mt 10,24-33)
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               Neste Evangelho, Jesus utiliza um duplo contraste: escuridão X luz do dia; ao pé do ouvido X sobre os telhados. Ele nos fala de “exposição”. Uma exposição da Boa Nova que expõe igualmente aquele que a anuncia. Isto é, evangelizar inclui sempre um risco pessoal. O Evangelho de Cristo não combina absolutamente com o medo e a prudência humana. Basta ler os Atos dos Apóstolos e verificar a que ponto chegou a ousada imprudência dos primeiros cristãos.

               Em sua homilia de 14 de abril de 2013, 3º Domingo de Páscoa, o Papa Francisco pregava:
“Encontramo-nos sobre o túmulo de São Paulo, um Apóstolo humilde e grande do Senhor, que O anunciou com a palavra, testemunhou com o martírio e adorou com todo o coração. É precisamente sobre estes três verbos que queria refletir à luz da Palavra de Deus que escutamos: anunciar, testemunhar, adorar.
1. Na primeira Leitura, impressiona a força de Pedro e dos outros Apóstolos. À ordem de não falar nem ensinar no nome de Jesus, de não anunciar mais a sua Mensagem, respondem com clareza: ‘Importa mais obedecer a Deus do que aos homens’. E nem o fato de serem flagelados, ultrajados, encarcerados os deteve. Pedro e os Apóstolos anunciam, com coragem e desassombro, aquilo que receberam: o Evangelho de Jesus.
E nós? Somos nós capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A fé nasce da escuta, e fortalece-se no anúncio.
2. Mas, façamos mais um passo: o anúncio de Pedro e dos Apóstolos não é feito apenas com palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a sua vida, que se modifica, recebe uma nova direção, e é precisamente com a sua vida que dão testemunho da fé e anunciam Cristo. [...] Não se pode apascentar o rebanho de Deus, se não se aceita ser conduzido pela vontade de Deus mesmo para onde não queremos, se não estamos prontos a testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas nem cálculos, por vezes à custa da nossa própria vida.
Mas isto vale para todos: é preciso anunciar e testemunhar o Evangelho. Cada um deveria interrogar-se: Como eu testemunho Cristo com a minha fé? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apóstolos para pensar, decidir e viver como cristão, obedecendo a Deus?”
E, passando do discurso à ação, Francisco defende os pobres, acusa os poderosos, dorme no presídio e repete os gestos de Jesus Cristo.
Orai sem cessar: “Eu te louvarei entre os povos, Senhor!” (Sl 57,10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Ovelhas entre lobos... (Mt 10,16-23)
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               Ao instruir os apóstolos que saíam em sua primeira missão evangelizadora, Jesus não promete facilidades, mas alerta sobre os lobos à espera dos cordeiros. Em nenhum momento, porém, o Mestre ensina que, diante do ataque furioso das alcateias, os cordeiros devam assumir o papel de lobos. Assim sendo, a legião de mártires das Igrejas cristãs que ornam a história da humanidade não deve ser motivo de espanto nem de reclamações contra Aquele que os envia, mas apenas a certeza de que o anúncio da Boa Nova se faz ao custo da própria vida.

               Santo Efrém de Nisíbia [+373] reflete sobre o tema:
               “Ao lado da perseguição aberta, existe uma perseguição oculta. Se a perseguição aberta não existe em todos os tempos, a perseguição oculta sempre existe, e esta trabalha em ti.
               Se o ódio te persegue, mostra a caridade.
               Se a inveja te persegue, mostra a doçura.
               Se a concupiscência te persegue, sê perfeitamente casto.
               Se a injustiça te persegue, mostra a justiça.
               Se o dinheiro te persegue, confessa nosso Senhor, o Senhor de todos.
               Todos estes perseguidores perseguiram os confessores em períodos de paz, e é porque eles se distinguiram, graças a estes perseguidores ocultos, que eles foram coroados abertamente.
               Exercita-te contra os perseguidores que não se veem, a fim de que possas resistir àqueles que se veem.
               Se os perseguidores que estão em ti levam vantagem, como pensas vencer aqueles que estão fora?”
               Esta lição de Santo Efrém mostra que é impossível fazer frente aos perseguidores externos quando já nos deixamos vencer pelos perseguidores internos. O martírio apenas vem coroar uma guerra surda realizada antes no coração do homem.
               Se não vencesse previamente os demônios internos do medo e do desânimo, o Arcebispo Van Thuan, de Saigon, que passou 13 anos nos cárceres comunistas do Vietname, não teria permanecido fiel à sua missão.
Já é hora de parar com reclamações e lamentos. Jesus nunca disse que seria fácil...

Orai sem cessar: “O Senhor é minha força e meu escudo!” (Sl 28,7)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

Nem ouro, nem prata... (Mt 10,7-15)
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               Ao comentar este Evangelho, o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, mártir da fé sob a perseguição do regime nazista, traduziu assim as instruções de Jesus aos discípulos enviados em missão:

               “Mostrai claramente que, com toda a riqueza que tendes a distribuir, não desejais para vós nem a posse, nem a consideração, nem a aprovação e nem mesmo o reconhecimento! Aliás, sobre que poderíeis fundamentar vossas pretensões a tais coisas? Toda honra que recai sobre nós, nós a roubamos daquele a quem, na verdade, ela pertence: o Senhor que nos enviou. A liberdade dos enviados de Jesus deve manifestar-se em sua pobreza.”
               Como é consolador ler as palavras de alguém que foi encarcerado, teve sua tarefa precocemente amputada, mas permanece fiel ao Evangelho de Jesus, um Evangelho de simplicidade e pobreza!
               Bonhoeffer prossegue: “O estado daquilo que os discípulos possuem está regulamentado em seus mínimos detalhes. Eles não devem fazer-se notar como mendigos vestidos de farrapos, nem ficar ao encargo dos outros como parasitas. Mas é revestidos da libré da pobreza que eles devem ir adiante. Devem também ter poucas coisas consigo, como aquele que atravessa uma região com a certeza de, ao cair da noite, encontrar-se entre amigos, na casa que o acolherá é lhe fornecerá o alimento necessário. Por certo, não precisam depositar esta confiança nos homens, mas naquele que os enviou e no Pai celeste que deles cuidará”.
               Parece ingênuo? Parece infantil? Se parece, deve andar bem raquítica a nossa fé. Se me permitem um testemunho pessoal, quando deixei o magistério para me dedicar à evangelização em tempo integral, nossa família experimentou um tempo de dez anos inteiros sem salário e sem nenhuma renda fixa. E em todo esse período, nada nos faltou e os dois filhos cursaram a universidade. A serviço do Evangelho, aprendemos que a Providência divina não é uma lenda infantil, mas uma realidade palpável nos pequenos eventos de cada dia, o que incluía anônimas sacolas de alimentos na varanda e as doações mais imprevistas em viagens missionárias.
               Como conclui Dietrich Bonhoeffer, “é assim que eles [os discípulos em missão] tornarão digna de fé a mensagem que anunciam, esta mensagem da soberania de Deus que faz irrupção sobre a terra”.

Orai sem cessar: “Em Deus confio, não temerei!” (Sl 56,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 O Reino está próximo! (Mt 10,1-7)
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                Será que Jesus Cristo iria nos enganar? Acender em nós uma falsa esperança? Dizer que o Reino está próximo, quando vemos o mal que se infiltra por todos os poros da humanidade?

               Depois de escolher seus doze apóstolos e dotá-los de notável poder sobre o mundo físico e espiritual, Jesus dá-lhes o tema de sua pregação: “Está próximo o Reino dos Céus”. Aliás, homens simples e sem diplomas, não precisam perder seu tempo falando de parusias e escatologias, hermenêuticas e perícopes. Basta dizer que Deus se aproximou e está ao alcance de todos!
               E é isto que nosso povo ainda quer saber... Neste início de milênio, entre sombras e ameaças, como ir ao Senhor? Como entender sua Palavra? Como se libertar dos vícios? Como experimentar a liberdade dos filhos de Deus? Como edificar o novo reino? Como viver em paz?...
               Muitas vezes, entendemos mal o anúncio de um Reino que está “próximo”. Pensamos que ele está chegando, que não demora a vir. Mas a proximidade não é temporal. É espacial. O Reino é a própria pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou, nasceu de Mulher e, agora, pode ser visto, ouvido, tocado por nós.
               Ele cruza nossas estradas, prega em nossas praças, bate à nossa porta. Vemos seu nome nas camisetas, sua cruz nas montanhas, seu Corpo nos sacrários. Cristo está em toda parte, como não o encontrar? Disfarça-se de pobre, veste-se de mendigo, finge de doente terminal... Basta estender a mão, ele aí está!
               Tendo ouvido o imperativo do Mestre, os Doze saíram pelas aldeias. Curaram os doentes e limparam os leprosos. Iam em nome de Jesus. E à medida que executavam sua missão, eles mesmos se espantavam ao ver que agia neles uma força que não lhes pertencia: Deus agia neles! Sabiam da própria incompetência, conheciam seus próprios pecados. Mas, uma vez abertos ao dinamismo do Espírito de Jesus, mudaram-se em instrumentos de um Amor que nada podia deter.
               E nós? Quando nos abriremos a esse Amor? Quando Jesus poderá contar com nossos pés para chegar aos que estão longe? Com nossas mãos para tocar os intocáveis? Com nossa voz para anunciar que a Paz já nos pertence? Quando o Reino de Deus estará próximo, porque deixamos que ele brotasse de dentro de nós?

Orai sem cessar: “Procurai o Senhor e sua força!” (Sl 105,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 11 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Operários para a messe... (Mt 9,32-38)
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               Conforme comenta Santo Agostinho [+430], “Cristo estava cheio de entusiasmo por sua obra e se dispunha a enviar operários. E vai enviar os ceifadores. ‘É verdadeiro o provérbio: Um semeia, outro ceifa. Eu vos enviei a colher ali onde não tivestes trabalho; outros assumiram o esforço, e vós vos aproveitais de seus trabalhos’. (Jo,37-38)”
               Não é interessante que Jesus veja a evangelização como um “trabalho” ? Algo que exige boa dose de esforço e cansaço... Algo inseparável de sofrimento e suor... Algo que não se faz por uma inclinação natural, mas movido por certa “necessidade”.
               Nós sentimos como “necessário” o trabalho de evangelizar? Ou nos parece algo opcional? Algo bom, sem dúvida, mas apenas uma atividade entre outras, que sinalizaria em nós um degrau mais elevado de santidade ou de vida beneficente? Algo importante, mas que não nos diz respeito?
               Não é isso que grita o apóstolo Paulo: “Ai de mim se não evangelizar!” (1Cor, 9-16) Paulo sabe que a revelação recebida na estrada de Damasco não poderia ser escondida do mundo sem o peso da culpa que recai sobre os indiferentes. Paulo sabe que foi alvo de um privilégio e, assim, deve ao Senhor uma resposta de amor.
               O mesmo aconteceu com os missionários de todos os tempos. Eles eram acima de tudo operários de uma construção inadiável: o Reino de Deus! Depois de experimentarem em suas vidas a invasão do Amor divino, eles não podem calar essa descoberta. Daí em diante, os apaixonados não podem ficar neutros e indiferentes à multidão que desconhece o mesmo amor...
               Contemplando as multidões, Jesus via a vasta seara a ser colhida. As sementes da Graça já haviam sido semeadas. O tempo da colheita já havia chegado. Era o tempo de enviar os ceifadores.
               Como reage o nosso coração diante da sociedade atual que se afasta da fé e dia a dia vai perdendo a esperança? Seremos espectadores neutros e indiferentes? Será que as espigas se perderão?

Orai sem cessar: “Enviai, Senhor, operários para vossa messe!”

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Não morreu, mas dorme... (Mt 9,18-26)
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                “A morte é a única barreira que não pode ser transposta”, observa Jean Valette [+1999], pastor e biblista da Igreja Reformada da França. Prossegue o mesmo Autor: “Até aqui, o poder de Jesus sempre derrubara as barreiras, mesmo aquelas da possessão, da loucura, da lepra, da paralisia, sem esquecer as mais temíveis: as barreiras da Lei e do pecado. Satã se viu despojado de todos os seus bens.

               Como um rio, Jesus revirou tudo o que se opunha à sua marcha salutar, para levar a vida por toda parte onde passava. E é ainda para levar a vida que ele avança para a casa de Jairo; e é tal o seu poder que, pelo caminho, ele cura uma mulher de improviso e sem ter tido a intenção. Seria impossível descrever com mais simplicidade o caráter irresistível e o poder superabundante desta caminhada.
               A morte, cuja barreira Jesus pretendeu forçar, impõe-se a ele e seus companheiros desde a chegada a casa. O triunfo supremo da morte está em não apenas fazer-se aceitar, mas celebrar! Os prantos e gritos que enchem a morada atestam, como sempre, que a morte não é simplesmente um acontecimento, mas uma potência cruel que obriga a honrá-la aqueles que ela esmaga. E os risos que recebem Jesus são como um eco da própria risada da morte, mostrando como ela sabe fazer com que suas futuras vítimas saúdem sua vitória.
               A este desafio que o recebe desde a soleira da porta, Jesus responde com a palavra dirigida a todos: “A menina não morreu, mas dorme”. Esta palavra não exprime apenas uma filosofia otimista ou serena a respeito da morte. Nem pretende que a morte seja um sono, com tudo o que esta palavra evoca de imagens pacíficas de repouso e de paz. É na perspectiva daquilo que irá fazer, e não do que é a morte, que a palavra de Jesus assume seu sentido. Não porque a morte fosse, em suma, apenas um sono. Jesus assim a define porque ele vai acordar a menina, para quem a morte não terá sido mais que um sono. O Senhor não apresenta nenhum ensinamento teórico sobre a morte e sua verdadeira natureza, mas nega o poder da morte ao afirmar o poder de Deus.
               O incontestável poder que a morte acabara de manifestar é agora contestado, não em virtude da ideia que Jesus faz sobre ela, mas pela virtude do ato que irá abolir a morte. Esta palavra nada nos ensina sobre a morte; ela nos assegura que Deus é também o Senhor desta potência.”
               Em plena cultura de morte, somos chamados a celebrar a vida e, se necessário, dar a vida pela fé na ressurreição.
Orai sem cessar: “Senhor, vós mudastes meu luto em dança!” (Sl 30,12)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 9 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Vinde a mim! (Mt 11,25-30)
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               Os Evangelhos estão cheios de imperativos: amai! Perdoai! Buscai! Mas nenhum deles me parece tão atrativo quanto este: - “Vinde a mim!” Mais que mero convite, este imperativo não se dirige a privilegiados, mas tem alcance universal: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados...”

               Vale a pena pausar e perguntar: - “De quem parte o chamado a VIR?” Ora, parte exatamente daquele que VEIO a nós: o Filho de Deus nascido de Mulher. Sim, primeiramente Jesus Cristo VEM a nós, revestido de nossas fragilidades, também ele capaz de se cansar e de sofrer. Só depois ele nos chama a VIR também. Então, por que não IR até aquele que VEIO a nós?
               O chamado de Jesus traz anexa uma promessa: “encontrareis descanso”. Se a caminhada humana é um êxodo permanente, se a condição do homem é árdua peregrinação (homo viator...), se muita gente passa pelo “sufoco” nosso de cada dia, é em Jesus que se faz possível o remanso e a paz.
               E por paradoxal que isto nos pareça, o descanso só se alcança ao tomar o mesmo jugo de Cristo, isto é, ao abraçar sua cruz, quando nos tornamos livres e abertos ao amor. Nas palavras de Hébert Roux, “em Cristo, manso e humilde coração, isto é, rebaixado, crucificado, humilhado, encontra-se o repouso da alma. Esta expressão, também ela tomada do Antigo Testamento (cf. Jr 6,16), designa aquilo que, em outra passagem, Jesus chama de ‘paz’ (cf. Jo 14,27)”.
               Claro que não se trata daquilo que o mundo pagão entende por “paz”: tranquilidade absoluta, segurança geral, celeiros abarrotados, férias na praia... Ao contrário, a paz do Evangelho é irmã da simplicidade e dos pardais que Deus alimenta. Ela anda ao lado daqueles que não precisam de cercas eletrificadas, pois nada têm a perder. Ela pulsa no coração alegre daqueles que saíram de si em direção ao outro, tecendo com ele uma teia universal de fraternidade.
               Um aspecto quase sempre esquecido é a imagem do jugo – isto é, da canga – que somos convidados a tomar sobre nós. Um boi de carro não carrega sozinho o peso de sua canga: ela é sempre repartida! E o imperativo de Jesus garante que jamais estaremos sozinhos debaixo deste peso, pois o Senhor estará conosco...
               Bem, esta paz pode ter um preço. Pode custar caro. Pode desaguar na cruz. Mas é a única paz verdadeira. Só ela permite dizer, ao fim: “Tudo está consumado...” (Jo 19,30)
Orai sem cessar: “O Senhor abençoará seu povo com a paz!” (Sl 29,11)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 8 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Vinho novo em odres novos... (Mt 9,14-17)
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                O odre (do latim uter) é uma espécie de cantil para o transporte de líquidos, entre os habitantes do Oriente. Mata-se um cabrito, retira-se sua pele, que é limpa e virada do avesso. Um nó em cada pata e uma tampa no lugar do pescoço: está pronto o odre.

               Um odre novo ainda mantém a elasticidade da pele; pode guardar vinho novo que, ao fermentar e produzir gases, não romperá a pele. Mas se o odre é velho, com a pele ressequida, os gases da fermentação de um vinho novo romperiam o cantil e tudo se perderia: vinho e odre.
               Trata-se de uma imagem muita rica sobre a vida humana, social e espiritual. Nossos avós já diziam: “Não se trocam chinelos velhos por chinelos novos”. Isto é, quem se acostumou a certos hábitos, tradições e soluções, terá enorme dificuldade em se adaptar a novidades da geração mais nova.
               Do ponto de vista espiritual, a herança do Velho Testamento pesava sobre Israel como um fardo. Além da Torá, os 613 preceitos acrescentados pelos doutores da lei sufocavam o povo. Valores como o Templo, o Sábado, o sacerdócio levítico, o rótulo de Povo Escolhido, as glórias do passado, o orgulho nacionalista – tudo conspirava para dificultar a acolhida do “vinho novo” do Espírito. É assim que a mensagem de Jesus parece romper com a Tradição e ameaça estourar o tecido encarquilhado dos velhos “odres”.
               Mesmo entre os discípulos, muitos se escandalizam com as proposta de Jesus, que chega a perguntar: “Vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67.) Somente após Pentecostes – quando o fogo do céu mudou odres velhos em odres novos – o vinho capitoso do Espírito pôde ser derramado naqueles corações renovados. Pescadores tornam-se poliglotas, covardes são heróis, bairristas acolhem o planeta.
               Em tempos de mudança, também nós corremos o risco de não ter sensibilidade diante dos novos apelos do Espírito Santo. Um exemplo foi a formação de grupos que rejeitaram em bloco o Concílio Vaticano II, por se sentirem ameaçados em suas tradições petrificadas. Hoje, o Espírito de Deus aponta novos caminhos. Madre Teresa de Calcutá no serviço aos pobres, João Paulo II de mãos estendidas aos irmãos separados, Mahatma Gandhi recusando toda violência...
               Somos odres velhos, mumificados? Ou permitimos que o Espírito Santo nos venha renovar?

Orai sem cessar: “Renova-me, Senhor Jesus!”

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Levantou-se e o seguiu... (Mt 9,9-13)
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               Neste Evangelho, o próprio autor nos relata a cena de sua vocação. E o faz com discrição, objetivo e sóbrio: um olhar... um chamado... um seguimento.

               Como observa Hébert Roux, “não se discute a obediência da fé”. E isto me faz lembrar tantas pessoas que buscaram aconselhamento vocacional, mas se mostravam avessas a obedecer, com um discurso cheio de conjunções adversativas: mas... porém... todavia... Queriam seguir a Jesus – diziam elas – mas sem riscos, sem aventuras, com a posse prévia de garantias e seguranças.
               Roux prossegue: “Doravante, o cobrador de impostos Mateus não se pertence mais. Ele nada nos diz sobre aquilo que tanto gostaríamos de saber, nada de circunstâncias pessoais, de suas disposições interiores quando Jesus o chamou. Isto não interessa. Ele não conta a si mesmo. E fala do acontecimento como se se tratasse de outra pessoa. Mateus se apaga para apontar apenas Jesus”.
               Não é curioso? No cenário da vocação, quem deve estar no centro: aquele que é chamado? Ou Aquele que chama? Enquanto o eventual missionário está centrado em si mesmo, enquanto sua pessoa não se con-centra no Cristo que chama, dificilmente dará o passo, desatando as amarras que o prendem ao próprio eu, com suas preferências e comodidades.
               E isto me lembra o seminário de certa congregação religiosa, onde cada seminarista ocupa sua própria “suíte”, com ar condicionado, TV e frigobar. E as estatísticas mostrando que, historicamente, a maioria dos padres e freiras é proveniente de famílias pobres, isto é, os que pouco têm a perder...
               Pois Mateus abre mão de tudo diante do chamado de Jesus. De imediato, vemos o Mestre em casa de Mateus, o publicano, o cobrador de impostos execrado pelos compatriotas judeus em tempo de dominação romana. Os fariseus – isto é, os “certinhos” – se espantam com essa con-vivência. Por que na casa do pecador? Por que não em nossa casa?
               A resposta é simples, devia ser óbvia: Jesus visita aquele que abre espaço em sua vida. Jesus visita aquele que se esvazia por ele. Jesus não encontra espaço em quem está cheio de si, de suas garantias e seguranças.
               De que adianta cumprir ritos e preceitos, se não estamos dispostos a obedecer à vontade de Deus?

Orai sem cessar: “Senhor, a minha alma te segue de perto!” (Sl 63,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Teus pecados são perdoados! (Mt 9,1-8)
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              Deus é assim: sempre exagerado! Só queríamos andar de novo, mas ele vem e perdoa nossos pecados. Hébert Roux, pastor da Igreja Reformada, observador junto ao Concílio Vaticano II, comenta este Evangelho:

               “Ao longo de toda esta passagem, corre um frêmito de alegria e de esperança. As testemunhas estão perturbadas e comovidas, e pressentem por trás da cura e da libertação a mão de Deus que faz novas todas as coisas e muda a face do mundo.
               Ao mesmo tempo, porém, diante desses sinais anunciadores, tudo aquilo que se sente ameaçado e questionado pela novidade do Evangelho se põe a reagir e se inquietar: reservas, objeções, acusações são formuladas, contestando a Jesus sua qualidade de Messias.
               Assim Deus age sempre: diante da manifestação de seu Reino e de seu poder, dividem-se os espíritos e os corações, entre a alegria e o medo, esperança e terror, fé e incredulidade. Há os que acolhem o Reino, há quem o rejeite; alguns são conquistados, para outros Jesus se torna ocasião de queda.
               Pela primeira vez, vemos Jesus proclamar o perdão dos pecados. Esta é a forma concreta e pessoal que assume a Boa Nova quando ela é dirigida a alguém. Aqui, Jesus ordena ao infeliz que “tenha coragem” porque seus pecados lhe são perdoados. E o chama “meu filho”.
               Esta palavra não é um encorajamento banal, como podem distribuir os médicos; nem é uma promessa para mais tarde. Jesus afirma como um fato que esse homem, por ele acolhido como um pai acolhe seu filho, já recebeu o perdão de seus pecados. E isso é verdade simplesmente porque Jesus o declara.
               Não se diz que o paralítico viera a Jesus para isso. Se ele pretendia algo, exatamente, era a libertação do mal que o mantinha preso ao leito. No entanto, é isto que Jesus lhe dá, de início, por sua palavra: o perdão dos pecados. E não acontece nada mais: o homem continua preso à sua enfermidade física.
               Diante de tal palavra, é preciso decidir-se: ou tomá-la como verdadeira ou rejeitá-la. Se não se crê que Jesus tem esse poder, só se pode recusar sua graça e tratá-lo como blasfemo. É o que fazem os escribas. Mas o milagre vem confundir sua incredulidade. À declaração do perdão dos pecados, Jesus acrescenta a cura física, a fim de que saibam que, ao duvidar de sua palavra, eles tinham duvidado de Deus.”

Orai sem cessar: “Em ti, Senhor, se encontra o perdão!” (Sl 130,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Os demônios foram para os porcos... (Mt 8,28-34)
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               Desde que a soberba onda racionalista saltou elegantemente das academias filosóficas para os institutos de teologia, virou moda negar a existência de anjos e demônios, logo transferidos para a estante da mitologia. Digamos a verdade: o tema tornou-se ocasião de risos e piadas.

               Com isso, nasceu uma nova “exegese” da Escritura Sagrada que atribui as referências a demônios ao primitivismo dos evangelistas e de sua época. Explicam esses doutos racionalistas que os povos antigos desconheciam os fenômenos parapsicológicos, e mesmo doenças mentais e neurológicas, a ponto de confundirem alucinações e casos de epilepsia com a manifestação de “espíritos impuros” [pneumata akathárta, no texto grego], como são chamados nos Evangelhos.
               Ora, enquanto os infelizes que rolavam pelo chão ou arrebentavam correntes de ferro eram apenas pessoas humanas, o argumento até que poderia ser justificado. Histeria? Alucinações coletivas? Quando, porém, a imaginada “epilepsia” se transfere aos suínos (sic), desafiando todos os conhecimentos da mais moderna ciência médica, fica bem difícil encaixar o fenômeno nos compêndios de parapsicologia, neurologia ou psiquiatria. Pobres dos porquinhos!
               Será que Jesus Cristo – que se apresenta como “a Verdade” (cf. Jo 14,6) – teria mantido seus contemporâneos na ignorância em matéria tão grave? Ele ainda falaria de “maus espíritos” ou “demônios” se aqueles fenômenos se reduzissem simplesmente a desequilíbrios do humano psiquismo?
               Por outro lado, o vocabulário dos evangelistas distingue claramente as doenças [nóson / astheneía] dos casos típicos de possessão demoníaca [daimonizômenoi]. Aliás, um é o verbo para “curar” as doenças [therapêuein, iáomai], outro é o verbo para “expulsar” demônios [ek-bállo].
               Por fim, já não é possível confundir exorcismos com tratamento médico, quando o próprio Jesus afirma aos 72 discípulos que voltavam, alegres, de sua primeira missão evangelizadora: “Eu vi Satã cair do céu como um relâmpago”. (Lc 10,18)
               Se os egrégios docentes de teologia trocassem suas assépticas salas de aula por um estágio nos confessionários ou nas equipes de aconselhamento, certamente seriam convencidos da existência dos demônios, já que não lhes basta a audiência dos noticiários da TV...
Orai sem cessar: “Senhor, tu és meu auxílio e meu libertador!” (Sl 70,6b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.