domingo, 30 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Quem não é contra nós, é por nós... (Mc 9,38-43.45.47-48)
Resultado de imagem para (Mc 9,38-43.45.47-48)               Já sabemos que o Espírito sopra onde quer. (Jo 3,8.) O Concílio Vaticano II reconheceu a existência de “sementes da Palavra” (cf. Ad Gentes, 11) em todos os povos e sociedades. Por isso mesmo, ninguém deve espantar-se de que Deus venha a agir por meio de pessoas de boa vontade que não pertencem à nossa Igreja, não professam a nossa fé e nem mesmo tenham sido batizadas.
               A tentação que nos assalta é a de assumir uma atitude “exclusivista”, apresentando nosso modo de ser como o “único caminho” e, ao mesmo tempo, condenando à exclusão (ou ao inferno!?) todos os diferentes que não têm a carteirinha de nosso clube. Trata-se de uma atitude tipicamente sectária, que não admite nenhum bem fora de seu próprio quintal...
               Este lamentável partidarismo pode ser agravado a ponto de sentirmos ciúmes quando Deus age através de outros grupos, movimentos ou pessoas. Em lugar de nos alegrarmos com o bem realizado, assumimos atitudes de crítica, apontamos falhas e defeitos, zombamos acidamente daquilo que não temos possibilidade (ou coragem) de imitar!
               Um caso concreto, em nossos dias, diz respeito aos movimentos e comunidades novas, onde o dedo de Deus se faz visível quando eles assumem diaconias, cuidam dos moradores de rua, alimentam os pobres, acolhem menores abandonados, reavivam a adoração ao Santíssimo Sacramento, pregam um Evangelho exigente. Se nosso grupo, paróquia ou Instituto está morno, será ainda maior o risco de apontar um dedo acusador contra estes irmãos que se esforçam por dar uma resposta a Deus que chama a amar...
               Jesus não poderia ser mais claro: “Quem não é contra nós, é por nós”. Se temos sensibilidade eclesial, perceberemos que a Igreja se enriquece com a diversidade dos carismas, por mais estranhos que eles tenham sido na História, como os estilitas (que passavam a vida sobre uma coluna), os eremitas do deserto (como Charles de Foucauld em pleno Séc. XX) ou os “loucos de Deus”, andarilhos que palmilhavam continuamente as estradas da estepe russa.
               Os contemplativos, no silêncio, rezarão pelos missionários das aldeias indígenas. Os agentes que fazem a animação das associações de bairro darão graças a Deus pelo louvor barulhento de seus irmãos carismáticos. E o Reino de Deus crescerá no meio de nós...
               Somo ou divido? Reconheço o dedo de Deus no meio dos meus irmãos diferentes de mim? Ou cedo à crítica, à calúnia e à maledicência?

Orai sem cessar:Oh! Como é bom e agradável irmãos unidos viverem juntos!” (Sl 133,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 29 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Os anjos de Deus... (Jo 1,47-51)
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Com a vulgarização de obras inspiradas nos modismos da Nova Era, assistimos a uma inundação de lendas e superstições a respeito de anjos. Na prática, era como se fossem duendes ou sílfides da floresta medieval, flanando aqui e ali, como seres brincalhões e independentes, em total discordância daquilo que a Bíblia nos revela.
Que nos ensina a Santa Igreja sobre a natureza dos anjos? Primeiro, eles existem. “A existência de seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição.” (Catecismo, 328.)
Que tipo de criatura são os anjos? Santo Agostinho explica: “Anjo [do grego “angelos”, mensageiro] é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, enquanto é anjo por aquilo que faz”. Os anjos estão permanentemente a serviço de Deus. “Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam ‘constantemente a face de meu Pai que está nos céus’ (Mt 18,10), são “poderosos executores da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra” (Sl 103,20). (Cf. Catecismo, 329.) “Enquanto criaturas puramente espirituais, os anjos são dotados de inteligência e vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis.” (Id. 330.)
Folheando as páginas dos Evangelhos, vemos a presença dos anjos na Anunciação a Maria, nos sonhos de José de Nazaré, no nascimento de Jesus em Belém, na tentação de Cristo no deserto, em sua agonia no Getsêmani e junto ao túmulo, após a ressurreição. Reaparecem os anjos na hora da Ascensão (At 1,10-11), garantindo aos apóstolos que Cristo voltará. Quando Pedro é aprisionado, é um anjo que o liberta das cadeias (At 12,6ss).
A Bíblia ainda se refere a uma “queda” sofrida por um grupo de anjos que rejeitaram em definitivo a Deus e a seu Reino. Estes são os demônios, que buscam afastar-nos da vida com Deus e de sua amizade. Evidentemente, seu poder é limitado, pois são criaturas, não estão à altura de Deus. No entanto, continua sendo um mistério que Deus permita, por enquanto, sua atividade no mundo criado.
Apenas três anjos são citados nominalmente na Santa Bíblia: Miguel, Gabriel e Rafael, exatamente os três arcanjos que a Liturgia de hoje celebra.
Orai sem cessar: “Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos!” (Sl 103,20)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


O Filho do Homem tem de sofrer muito... (Lc 9,18-22)
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Ao menos por três vezes, de forma antecipada, Jesus anunciou aos discípulos que sabia muito bem o que estava à sua espera. Esse “destino” incluía sofrimento, rejeição, morte e ressurreição. Obviamente, os discípulos não compreenderam a extensão desse anúncio. No caso de Pedro, chegaria a se opor a tal desfecho para a missão do Senhor, dele merecendo uma áspera reprimenda.
Nossa carne adâmica tem repulsa pelo sofrimento. Prefere o prazer e as facilidades. A simples ideia de uma vida sóbria, simples, ascética, já nos deixa um tanto assustados. Não admira que faltem vocações consagradas em uma sociedade hedonista!
A escolha da cruz infamante como instrumento de nossa salvação será escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (cf. 1Cor 1,23). Além do mais, os judeus contemporâneos de Jesus andavam à espera de um Messias triunfante. Foi indizível a sua decepção com o Servo sofredor, suspenso no madeiro, como alguém que se fazia maldição. (Gl 3,13.)
A poesia pode ajudar a contemplação. Por isso, ofereço-lhe meu soneto “Diante da Cruz”:
Ó vivas fontes a jorrar das Chagas
Para inundar de vida o Universo,
Vinde afogar-me em vós, bem fundo, imerso
No abismo sacrossanto dessas vagas!

Ó vivo Sangue a escorrer em bagas
Para lavar o pecador perverso,
Se andei distante, em meu errar disperso,
As marcas do meu crime logo apagas!

Ah! Quem me dera fossem muitas vidas
Para curar a dor dessas feridas,
Com beijos apagar a cicatriz...

E o Amor eterno diz, neste momento:
- Já não me faz sofrer o sofrimento.
Quem ama sofre e pode ser feliz!
Orai sem cessar: “Fomos curados graças às suas chagas...” (Is 53,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Herodes estava perplexo... (Lc 9,7-9)
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Quando o poder de Deus se manifesta à luz do dia, as pessoas reagem diferentemente. Diante da notícia de algum milagre, o povo simples se alegra e dá glória a Deus. Os doutores racionalistas torcem o sábio nariz e prontamente sacam da algibeira alguma interpretação baseada nos princípios da lógica cartesiana. Os profundos psicanalistas recorrem ao inconsciente coletivo para “explicar” o fenômeno.
Herodes, o rei, não sabia o que pensar diante dos relatos de curas e sinais excepcionais realizados por Jesus de Nazaré. Vivendo vida escandalosa aos olhos do povo, denunciado publicamente pelo Profeta, Herodes mandara decapitar João Batista na fortaleza de Maqueronte, junto ao Mar Morto. Por mais petrificada que fosse sua consciência, o tetrarca não se libertava do peso dessa culpa. Ouvindo os rumores das curas e milagres, Herodes chega a temer que João Batista tivesse ressuscitado...
Mas Herodes não é o único a ficar perplexo. Nem o único a duvidar. O próprio Jesus andava se queixando da incredulidade de seu povo: “Se em Tiro e Sidônia (terra de estrangeiros!) se tivessem feito os milagres que se fizeram entre vós, há muito tempo teriam feito penitência em cilício e cinza”. E refletia com uma dose de amargura: “Um profeta só é desprezado em sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa”. (Mc 6,4.)
Também entre os discípulos houve hesitações e dúvidas. Não apenas Tomé, que só cria no que via. Na madrugada da ressurreição, quando Madalena trouxe a nova de que o túmulo estava vazio, eles depreciaram o testemunho da mulher. Mesmo na ascensão de Jesus Cristo, quando os discípulos o viram ressuscitado, “alguns ainda hesitavam” (cf. Mt 28,17).
Em nossos dias, Deus continua manifestando “sinais” diante de nossos olhos. Deixando de lado coisas extraordinárias, como imagens que choram, o sol que gira, padres com dons de cura ou locuções interiores, o grande sinal de nosso tempo são santos e mártires. Gente que vive para os pobres, como Teresa de Calcutá, e estende pontes entre as Igrejas, como o Ir. Roger Schutz, de Taizé. Gente que percorre o planeta para evangelizar, como o Papa João Paulo II. Gente que dá a vida para que o outro não morra, como Gianna Beretta Molla e Maximiliano Kolbe. Gente que ama os párias, como Dom Bosco e o Cottolengo. E uma incontável multidão de mártires que, em pleno Séc. XX, foram alvo do ódio contra Deus e a Igreja de Jesus Cristo.
Jesus Cristo nos deixa perplexos?
Orai sem cessar: “Senhor, vem em socorro à minha falta de fé!” (Mc 9,24)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Anunciar a Boa Nova! (Lc 9,1-6)
Resultado de imagem para (Lc 9,1-6)               Os apóstolos são enviados por Jesus em direção ao povo. Isto é, eles são portadores de uma “boa notícia”. Tal como o anjo do Natal que, quando Jesus nasceu em Belém de Judá, foi até os pastores acampados para lhes dizer: “Eu vos anuncio uma grande alegria, para todo o povo: nasceu-vos hoje... um Salvador!” (Lc 1,11.) A palavra Evangelho significa literalmente Boa Notícia, Boa Nova. E a boa notícia que os apóstolos levam ao povo é o próprio anúncio de Jesus, o Filho de Deus que desceu do Pai e armou sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14). Para um povo que esperava há séculos, pacientemente, pela vinda do Messias de Deus, não podia haver notícia melhor.
               Claro que nem todos veem assim. Uma vez, quando Jesus expulsou uma legião de demônios de um possesso e os maus espíritos impeliram 2000 porcos para o abismo, à beira-mar (cf. Lc 8,33ss), os moradores da região imploraram a Jesus que deixasse logo a região para evitar que lhes desse maiores prejuízos. Para muita gente, ainda hoje, Jesus e seu Evangelho continuam sendo uma péssima notícia, pois atrapalham os seus projetos pagãos de acumulação material, dominação política e escravidão social.
               No momento do envio em missão, Jesus confere aos apóstolos “poder e autoridade”; isto é, como eles vão “em nome de Jesus Cristo”, são também portadores dos sinais que Jesus realizava: curar os enfermos de suas doenças e expulsar os possessos de seus demônios. Sua ação englobava o físico (enfermidades) e o espiritual (infestação demoníaca).
               A onda racionalista que assola o Ocidente se insurge contra ambas as realidades: por um lado, alega que doença é assunto para o médico; por outro, jura que os demônios não existem. De uma só tacada, os racionalistas ignoram os dons de cura e libertação manifestados na vida de numerosos santos e santas.
Ora, a Igreja de Jesus Cristo tem dois sacramentos de cura (unção dos enfermos e confissão) e seu Ritual inclui o exorcismo (ministério típico dos sacerdotes, observa o Código de Direito Canônico). Por outro lado, como ficariam os apóstolos diante do povo se fizessem este anúncio: “Temos uma Boa Notícia para vocês: se estiverem doentes, vão ao posto de saúde; se estiverem perturbados, deve ser imaginação de vocês...”
Gostaria de ouvir um desses sábios doutores a respeito deste assunto: se Jesus não cura nem liberta, onde está a Boa Nova???

Orai sem cessar: “É o Senhor quem sara as tuas enfermidades!” (Sl 103,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Por causa da multidão... (Lc 8,19-21)
Imagem relacionada    Deixo de lado o aspecto central deste Evangelho. Fiquemos em um detalhe: Maria e os “irmãos” de Jesus procuram por ele, mas não podem fazer contato “por causa da multidão”...
    Se utilizamos o método “alegórico” – tão ao gosto dos Padres da Igreja primitiva – podemos ver a “multidão” como um obstáculo entre Jesus e aqueles que pretendem encontrá-lo. A multidão é ruidosa e tende ao caos. Quem conhece o burburinho de uma feira popular sabe que ali não é o melhor lugar para um encontro íntimo e profundo. A multidão distrai: a cacofonia dos pregões, os veículos que buzinam, o colorido das mercadorias, o perfume das flores e das frutas – tudo ocupa e desvia os sentidos humanos. É impossível não lembrar a Canção III do Cântico Espiritual, de São João da Cruz:
Buscando meus amores,
Irei por estes montes e ribeiras;
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e fronteiras.
“Não colher as flores” – é o próprio Autor quem interpreta – significa abrir mão dos contentamentos e deleites que se apresentam em nossa vida, e que se tornam obstáculos, impedindo que passemos adiante para o encontro com o Senhor. Eles ocupam o coração, impedem o despojamento e a liberdade para caminhar em busca do verdadeiro amor.
               Assim é a multidão, com seus atrativos. Da multidão vêm os aplausos (quando temos sucesso material) e os apupos (se seguimos o Evangelho). É a turba que acena com seus “produtos”, tornados indispensáveis pela propaganda que induz ao consumismo. A multidão é a dona da “opinião pública” – o IBOPE -, que impõe a todos a sua ditadura, a ponto de exigir verdadeiro heroísmo de quem pretende ser autêntico e seguir seu próprio caminho.
               O contrário da multidão é o deserto. Ali Jesus se recolheu, em jejum e oração, preparando-se para vencer a tríplice tentação. O contrário da multidão é a montanha, aonde Jesus sobe para ouvir o Pai e realizar o difícil discernimento. O contrário da multidão é o Calvário, onde Jesus entrega sua vida, acompanhado apenas por João e umas poucas mulheres...
               Queremos encontrar Jesus? Onde? No deserto ou na multidão?

Orai sem cessar: “O Senhor me erguerá sobre um rochedo!” (Sl 27,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Nada oculto que não venha à luz... (Lc 8,16-18)
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De tempos em tempos, a vida política do Brasil é dominada por uma onda de CPIs. Dirigentes viram réus. Reputações rolam na sarjeta. Acordos firmados na sombra da noite são revelados abertamente à luz do sol. A Operação Lava Jato é bom exemplo. E confirma-se a palavra de Jesus: nossos pecados – ainda que no dia do Juízo Final – serão todos revelados. Inútil o esforço de simular uma fachada de bem quando o vício e o pecado vicejam em nós. Mais cedo ou mais tarde, as máscaras cairão...
Mas esta passagem é inseparável da imagem da lâmpada de azeite, que a dona da casa acende, ao entardecer, e deposita sobre o candelabro, bem no alto, para que toda a casa fique iluminada. Em Nazaré, durante 30 anos, esta cena se repetia todas as noites. E Jesus, desde menino, devia contemplar o rosto de sua Mãe e pensar no significado de seu gesto: “É ela quem ilumina a nossa noite. Quando eu crescer, também quero iluminar o mundo inteiro. Quero ser a luz do mundo!”
Também José era contemplado por Jesus. Esse homem justo (cf. Mt 1,19) também iluminava o Menino com seus exemplos. A presença paterna, sua dedicação ao trabalho, sua ternura com Maria, sua retidão nos negócios – tudo era uma lâmpada acesa diante de Jesus. Além de aprender a profissão de seu pai nutrício, Jesus aprenderia seu jeito de andar, a música de sua voz, sua vida de oração.
Quando, mais tarde, o Mestre da Galileia ordenar que nossa luz brilhe diante dos homens, é claro que não nos impele a “fazer farol”, a assumir uma atitude exibicionista. No fundo, ele nos alerta para a importância fundamental dos bons exemplos, para o seu notável poder de contágio e de irradiação. Muito mais que as palavras etéreas, os gestos concretos arrastam o mundo. Menos discursos, mais atitudes...
Em várias ocasiões, o saudoso Papa João Paulo II nos lembrava que “o homem contemporâneo acredita mais nas testemunhas do que nos mestres, mais na experiência do que na doutrina, mais na vida e nos fatos do que nas teorias”; e que “o testemunho da vida cristã é a primeira e insubstituível forma de missão”. (Cf. Redemptoris Missio, 42.)
Como anda a nossa lâmpada? A luz do Espírito Santo arde em nós? Estamos ajudando a iluminar as trevas de nosso século?

Orai sem cessar: “Senhor, sabeis tudo de mim!” (Sl 139,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 23 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Pôs uma criança no meio deles... (Mc 9,30-37)
Imagem relacionada        As coisas não eram nada fáceis para Jesus... Cercado de inimigos, ele acabara de anunciar - pela segunda vez! – a Paixão cruenta que estava à sua espera, e seus discípulos, como se fossem surdos, caminham discutindo qual deles seria o maioral quando o Mestre implantasse o seu Reino... O Mestre fala de sua prisão e morte e os seguidores ainda sonham com cargos e poderes, posição de destaque e eventuais honrarias.
               É quando Jesus pega uma criancinha que estava ali por perto e a abraça, apertando-a contra a alva túnica sem costuras tecida por sua Mãe. Qual terá sido a sua intenção? Apenas um gesto de carinho? Um derramamento emocional? Deixamos a resposta com o monge beneditino François C.- Trévedy:
               “Jesus nos convida a assemelhar-nos às criancinhas por causa da semelhança de suas capacidades de silêncio, de maravilhamento, de abandono e de brincadeira com aquelas que abrem o acesso ao Reino. Ele nos impele a crescer na direção de que as crianças, na graça mitigada de sua condição contingente, são apenas os indicadores.”
               Bem entendido, alerta o mesmo Autor, a criança de que Jesus nos fala não é o homem imperfeito, nem sua miniatura, nem sua pré-história, mas o seu cerne; não o seu anterior, mas seu íntimo: aquele centro sob a casca que, por toda a sua vida, ela vai percebendo e trata de fazer crescer.
               É assim que Jesus toma uma criancinha e a coloca bem no meio dos discípulos como uma profecia de valor escatológico, pois aponta para o futuro a ser alcançado. O adulto pensa que já está pronto. O ancião sente que está murchando. Mas a criança olha para o futuro, pois há um ponto a ser atingido, uma dimensão a ser conquistada.
               A doutrina do Evangelho de Jesus é uma escola de “crescimento”: sementes que vão brotando, grãos que se multiplicam, ramos que se estendem para o céu. Nada parecido como tronos para pessoas assentadas e realizadas. Por isso Jesus aponta para a criança, esse mistério oculto aos olhos do mundo, tal como o Reino de Deus.
               Não admira que Nicodemos, o fariseu adulto, ficasse perplexo com a ideia de “nascer de novo” (cf. Jo 3,4). Por certo, ele se julgava homem feito, pronto, acabado, quando o Reino exige o impulso vital da criança, sua prontidão, sua elasticidade.
               Corremos o risco de ficar petrificados, mumificados, incapazes de crescer na graça...
Orai sem cessar: “Israel era ainda criança, e já eu o amava!” (Os 11,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 22 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA

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Em geral, os comentaristas da “parábola do semeador” distinguem em detalhes a natureza dos “quatro terrenos”, como se o resultado da semeadura fosse mera reação automática, natural, devida simplesmente às qualidades do terreno. Boa terra, muitos frutos; terra ruim, esterilidade. Até seria bom, se assim fosse. Se não déssemos fruto, poderíamos justificar-nos por nossa “natureza”, nossa “genética”: eu sou assim. Pedregoso. Espinhento. Deserto sáfaro. Logo, nós não teríamos qualquer culpa nem responsabilidade pelo fracasso da colheita. “Afinal, eu não pedi para alguém investir em mim!”


E dão fruto com sua perseverança... (Lc 8,4-15)
Mas não foi bem isto que Jesus ensinou. Além do “coração reto e bom”, que ouve e acolhe a palavra, o Mestre fala da “perseverança”. E isto não é “natural”. É sobrenatural! Depende de um esforço disciplinado da pessoa que decide cooperar com a graça de Deus, com sua Palavra, com a “semente” depositada em nosso coração. Os frutos da graça de Deus em nós exigem tempo, permanência, continuidade.
A perseverança é uma virtude fundamental. O próprio Senhor já nos havia alertado: “Sereis odiados de todos por causa de meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, será salvo”. (Mt 10,23.) E ainda: “Diante do progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos se esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo”. (Mt 24,12-13.)
Quando o Mestre afirmava que “eram muitos os chamados, mas poucos os escolhidos”, por certo não pensava em algum tipo de predestinação, com pessoas previamente selecionadas por Deus para a perdição eterna. Devia, ao contrário, ter em mente a nossa volubilidade em relação às coisas do Reino, nossa inércia em dar continuidade à missão iniciada, a prontidão em desanimar diante dos obstáculos oferecidos pelo Mal.
A perseverança, por incrível que pareça, é inseparável da confiança. Em outra parábola (cf. Mc 4,26-29), Jesus nos fala do homem que lança a semente à terra e, em seguida, vai dormir. E enquanto ele dorme, a semente brota e cresce. Isto é, feita a sua parte, ele confia em Deus e a ele se abandona, sabendo que o Reino traz em seu interior um dinamismo que garante seu crescimento. Não precisa, todos os dias, cavar em volta da semente lançada à terra (como fazem as crianças a quem a professora mandou plantar um feijão no potinho de iogurte!), para ver se o grão está brotando.
Todo desanimado é um desconfiado. Por isso, não persevera. Não dá fruto...
Orai sem cessar: “Senhor, onde passastes, ficou a fartura!” (Sl 65,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Vieram pôr-se à mesa com Jesus... (Mt 9,9-13)
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Quando participamos da Eucaristia, nós fazemos parte da mesa de Jesus. E isto é uma honra para todos nós.
Quando os publicanos e pecadores se sentaram à mesa com Jesus, sua presença foi considerada uma desonra para o Mestre de Nazaré.
É que sentar-se à mesa com alguém significa situar-se no mesmo nível que ele. Entrar em comunhão com ele. Dize-me com quem comes, e te direi quem és...
Ora, os publicanos eram judeus que, sob a ocupação romana na Palestina, prestavam-se ao servicinho sujo de cobrar os impostos que seriam repassados aos dominadores. Não é preciso grande esforço de imaginação para adivinhar os apelativos com os quais eram tratados por seus compatriotas. Além do mais, pelo fato de estarem em permanente contato com os “cães” romanos, os publicanos eram considerados ritualmente “impuros”, isto é: anátemas, intocáveis...
Pior ainda: No Evangelho de hoje, está registrado que Jesus chegou ao extremo de convidar um deles – Levi-Mateus – para integrar o seleto grupo dos Doze. Mal ouviu aquele imperativo convite – Segue-me! -, o publicano abandonou seu telônio e seguiu o Mestre. E achando que a ocasião merecia uma comemoração, organizou um banquete em sua casa, com a presença de seus colegas de profissão.
Os judeus mais “religiosos” – aqueles fariseus que se julgavam superiores, traziam fragmentos da Lei em suas filactérias e rezavam de pé nos portais do Templo (onde poderiam ser vistos em sua piedade por todos os passantes) – aproveitaram a ocasião para condenar em alta voz o comportamento nada canônico do Galileu.
Novidade? Creio que não. Ainda hoje os cidadãos mais honestos sentem grande dificuldade em entrar em diálogo e se aproximar dos decaídos do sistema, como os presidiários, os mendigos, os drogados e os que exercem outras atividades menos nobres... Também nós corremos o risco de considerar que somos melhores que os demais, ignorando que qualquer coisa boa em nossa vida é, no fundo, pura graça de um Deus bondoso.
Por isso mesmo, foi imediata a resposta de Jesus: quem precisa de médico são os doentes. Quem precisa de salvação são os pecadores.
Talvez seja útil lembrar a frase de um santo: “Se eu pequei, Deus me perdoou. Se eu não pequei, Deus me sustentou.”
Orai sem cessar: “É o Senhor que perdoa as tuas faltas.” (Sl 103,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Ela muito amou... (Lc 7,36-50
Resultado de imagem para (Lc 7,36-50               Os honestos certamente não vão gostar. Paciência... A cena é de um banquete. A mulher da rua entra sem ser convidada. Aliás, pecadora pública, não caberia em um convívio exclusivamente masculino, como era o costume. Lava com lágrimas os pés de Jesus. Enxuga-os com seus cabelos e os beija. Unge a cabeça de Jesus com nardo do Egito (cf. Jo 12,3), uma preciosidade. Tudo para escândalo do dono da casa, que despreza o convidado por seu contato físico com uma mulher “impura”.
               Pobre Simão! Triste fariseu! Tão honesto, tão ignorante do pensamento de Deus! Quando Jesus chegara, como convidado, um servo da casa deveria ter lavado seus pés com água. A hospitalidade oriental saudava o visitante com o ósculo da paz, que Jesus não recebera. Costumava-se igualmente perfumar a visita com aromas especiais. Nada disso tinha ocorrido... A recepção dada a Jesus não fora nada calorosa!
               Assim, diante da crítica muda de Simão, o fariseu, Jesus pode responder com o triplo contraste: ali onde faltara a água, a mulher trazia lágrimas; onde faltara o beijo na face, ela vinha com os beijos nos pés; onde faltara o aroma comum, ela derramava o precioso nardo. Tudo demais! Tudo fora da medida! Tudo em excesso, como só faz quem ama...
               No clímax da sequência, Jesus declara alto e bom som que os pecados da mulher estavam perdoados. E nós, modernos fariseus, julgamos que o perdão foi dado como retribuição por seu tríplice gesto. Erramos! É o contrário! De algum modo, antes deste encontro (isto fica bem claro no filme de Franco Zefirelli) ela havia experimentado o amor de Jesus, manifestado por um olhar na esquina. Agora, sim, sentindo-se amada e perdoada, ela é capaz dos gestos que fez. O perdão recebido antecede os gestos de amor...
               O fariseu honesto tinha como seu catecismo a certeza de que só os “puros” merecem a atenção de Deus. Para os “impuros”, o inferno! É quando Jesus quebra as tábuas da lei farisaica e demonstra que é o amor que salva, não a honestidade. O mesmo Jesus que tantas vezes afirmara: “Eu não vim para os justos, mas para os pecadores... São os doentes que necessitam de médico...” (Mt 9,12-13.)
               Deus nos livre do moralismo afetado. Deus nos permita a experiência de ser perdoado e, livres da culpa, nos tornemos capazes de muito amar...

Orai sem cessar: “Eu te amo, Senhor, minha força!” (Sl 18,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


São como crianças... (Lc 7,31-35)
Imagem relacionada      Em outra passagem do Evangelho, Jesus manda que imitemos as crianças em sua simplicidade e ternura filial, chamando a Deus de “Abbá”, “paizinho”. Desta vez, porém, o comportamento infantil (ou melhor, infantilizado) é alvo da censura do Mestre. É que Jesus de Nazaré não correspondia à expectativa de muitos, e estes se punham a reclamar, a achar defeitos em Jesus, a ponto de lhe dar o rótulo de endemoninhado.
               Não sem humor, Jesus compara seus críticos às crianças imaturas e insatisfeitas que vivem chorando e reclamando. Na Palestina de seu tempo, havia duas ocasiões que marcavam profundamente a vida do povo: os casamentos e os funerais. Nestes, as mulheres faziam o importante papel de carpideiras, chorando estrepitosamente o falecido, diante dos lamentos proferidos pelos homens. Já nos casamentos, os homens eram encarregados da música, enquanto as mulheres dançavam.
               Assim como em nossa sociedade, as crianças gostam de brincar imitando o procedimento dos adultos. Na Palestina, brincavam exatamente de casamento e de enterro. E acontecia que alguém propunha um brinquedo e o outro discordava, provocando o mau humor (e até o choro) da criança que fizera a proposta. Esta é a imagem usada por Jesus para denunciar a má vontade dos fariseus e doutores da lei, que não quiseram “jogar o jogo” que Deus lhes oferecia em Jesus... “Tocamos flauta, e não dançastes... Entoamos queixumes, e não chorastes...” Adultos que agem como crianças emburradas!
               Seria também esse o nosso caso? Temos queixas e reclamações contra o Espírito de Deus que nos fala através da Igreja? Será que nosso Deus nos tem decepcionado quando faz propostas que não correspondem a nossos comodismos e preferências? Continuamos incapazes de “dançar conforme a música”? Faremos como Simão Pedro, o pescador que achou prudente dar um puxão de orelhas no seu Mestre?
               Talvez seja esta a explicação para muitas “conversões” (com aspas, por favor!), quando trocamos de paróquia ou até de Igreja porque as coisas não correram como nós esperávamos... Tínhamos um mapa mental e a receita ideal para a religião. Aí, a realidade destoou de nossos projetos e não fomos capazes de dar uma resposta ao desafio que nos era oferecido. Saímos chorando – imaturos e infantis – como os menininhos da velha Palestina...

Orai sem cessar: “Na minha noite, me fazes conhecer a sabedoria.” (Sl 51,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Não chores! (Lc 7,11-17)
Resultado de imagem para (Lc 7,11-17)               Lá estava a viúva, acompanhando o enterro de seu filho único. Logo enterraria sua única razão de viver. Quem conhece os costumes do Oriente, sabe que os cortejos fúnebres não eram silenciosos como costumam ser os nossos. Havia mulheres profissionais do choro – as carpideiras -, pagas para chorar o morto. E a mãe-viúva deveria fazer coro com elas.
               Quando o cortejo passa por Jesus, às portas da cidade (os mortos eram enterrados fora dos muros!), o alarido impressiona o mestre. Notável por sua compaixão com os que sofrem, Jesus se volta para a viúva e ordena: “Não chores!” Neste imperativo, já está incluída a decisão de devolver à vida o tesouro que ela perdera. Acabou-se o motivo do pranto.
               A atitude de Jesus mostra uma das facetas de sua divina missão: ser um consolador. No Antigo Testamento, Deus já se mostrara assim: “Consolai! Consolai meu povo!” (Cf. Is 40,1.) Enquanto o Baal de Samaria permanecia mudo (cf. 1Rs 18,26.29), o Deus de Israel respondia, pois não era uma divindade típica dos povos pagãos, indiferente à dor humana. O Senhor estava atento à história de seu povo: “Eu vi a aflição de meu povo... Ouvi os seus clamores... Conheço seus sofrimentos... Desci para o livrar...” (Ex 3,7-8.)
Em sua vida terrena, Jesus fez exatamente isto ao anunciar que o Reino se aproximara e estava ao alcance de todos. Depois de descer do Pai e nascer de Mulher, acolheu as crianças, purificou os leprosos, moveu os paralíticos, deu luz aos olhos dos cegos, ressuscitou os mortos. Quando enviou seus discípulos em missão, fez deles homens que levavam a paz às casas por eles visitadas (cf. Mt 10,12).
Ao se despedir dos discípulos, Jesus, falando a respeito do Espírito Santo, promete que enviará um “outro Consolador” (cf. Jo 14,16). Em seu último mandato, ao lado da Evangelização e do Batismo, Jesus ordena à Igreja que imponha as mãos e cure os enfermos (cf. Mc 16,18). Essa presença consoladora – não a riqueza, nem o sucesso! - é o sinal indicativo de que Deus está no meio de seu povo.
No Novo Testamento, as Cartas de Paulo, Pedro e Tiago fazem frequentes referências a esta missão consoladora da Igreja, que se deve voltar sobre os mais fracos, os mais abandonados dos poderes deste mundo.
Quando a Igreja consola, ela imita seu Mestre...

Orai sem cessar: “Por amor da casa do Senhor, pedirei para ti a felicidade.” (Sl 122,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Nem em Israel! (Lc 7,1-10)
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O povo de Deus sempre foi um povo privilegiado. Israel sempre merecera um tratamento preferencial do Senhor Yahweh. Naturalmente, favor puxa favor. Amor com amor se paga. Assim, exatamente de Israel é que o Senhor deveria esperar uma resposta mais pronta, um “amor de noivado” (cf. Jr 2,2).
Parece, porém, que esse povo acabou mimado... Acostumou-se a grandes milagres, como o Sol parado em sua órbita, o Mar Vermelho esgotado para que os hebreus passassem a pé enxuto, 40 anos de maná no deserto, matando a fome do povo.
Quando viesse Jesus, possível Messias, eles condicionariam sua adesão na fé à demonstração espetacular de sinais, milagres e portentos. Jesus, entretanto, não se dobrará às pretensões deles. O único “sinal” seria o do Profeta Jonas: após uma descida ao abismo da morte, voltar à vida “ao terceiro dia”.
Enquanto isso, os estrangeiros (quer dizer, os goyim, os de fora, os não-povo) iriam surpreender a Jesus com seus atos de fé: a siro-fenícia que se satisfaz com as migalhas que caem da mesa hebraica / o leproso estrangeiro, o único dos dez, que voltou para agradecer a cura / e este centurião romano, que sequer exige a presença de Jesus em sua casa, mas crê que o Rabi tem o poder de curar à distância.
Em todos estes casos, o Rabi da Galileia manifesta sua admirada surpresa diante dos atos de fé algo inesperados em estrangeiros, que não podiam apoiar-se na experiência multissecular dos israelitas. Mesmo assim, esses estrangeiros apostavam todas as fichas em Jesus e... obtinham aquilo que imploravam!
Contudo, não critiquemos o antigo Israel. Cristãos que somos, nós fomos ainda mais agraciados com as preferências do Senhor. Temos o santo Evangelho e os sacramentos. Temos a Tradição e a Doutrina. O exemplo dos santos e o sangue dos mártires. Apesar de tudo isto, não sei se tal preferência já nos moveu a uma adesão perfeita na fé... Pode ser que ainda estejamos à espera de “sinais”, aparições, milagres no varejo...
Hoje, há pessoas de boa vontade e coração sensível que se dedicam a salvar vidas e melhorar as condições dos mais pobres. Nós, os privilegiados, podemos viver de ritos e ignorar os que sofrem. Com certeza, mais uma vez, Cristo contemplará esses novos “estrangeiros”, admirado de sua capacidade de amar...
Orai sem cessar: “A caridade supre todas as faltas.” (Pr 10,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

domingo, 16 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Negue-se a si mesmo! (Mc 8, 27-35)
Resultado de imagem para (Mc 8, 27-35)        Não admira que tanta gente “estranhe” o Evangelho de Jesus Cristo! Negar a mim mesmo?! Nós somos todos pós-freudianos. Aprendemos que não se deve traumatizar as crianças com proibições. É proibido proibir! Os doutores nos disseram para não reprimir nossos instintos, nossas pulsões. Os sábios conselheiros garantem que nós temos o direito de ser felizes (o que, na prática, significa a liberdade irrestrita de fazer sempre o mais fácil, o mais cômodo, o mais “gostoso”, mesmo que isto venha a fazer alguém infeliz e sangre muitos corações...). E eles são “especialistas” em humanidade...
               No polo oposto, vem Jesus Cristo e declara: “Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo...” É que Jesus sabe muito bem qual será o último passo de sua missão: a cruz do Calvário. E ninguém pode subir tão alto se conserva seus apegos, alimenta seus comodismos, sustenta seus interesses.
Com Jesus, subir é perder. Na hora da cruz, todo o corpo se revolta. Na prova da humilhação, o orgulho protesta. Na noite da solidão, a mente se revolta. E quem tinha iniciado o caminho movido apenas por um entusiasmo juvenil, logo desanima e protesta, arremessando ao solo a cruz insuportável...
               A não ser, é claro, que o seguidor de Jesus Cristo tenha previamente aceitado a negação de si mesmo. Tenha decidido abrir mão das aparentes seguranças humanas. Tenha optado por rejeitar o tentador apoio dos poderosos. Recusar as conveniências e as vantagens oferecidas pelo “sistema”. Abandonar-se inteiramente nas mãos de Deus. E tudo isto, claro, bate de frente com os “valores” do mundo pagão.
               S. Josemaría Escrivá, um santo de nossos dias, comenta com sua proverbial sabedoria: “Há no ambiente uma espécie de medo da Cruz, da Cruz do Senhor. Tudo porque começaram a chamar de cruzes a todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida, e não sabem aceitá-las com sentido de filhos de Deus, com visão sobrenatural. Até tiraram as cruzes que nossos avós levantaram nos caminhos!”
               Ainda tenho medo da cruz? Minha religião ainda é um sistema para facilitar a minha vida? Continuo na pretensão de “usar” a Deus em meu benefício? Ou já me dispus a abraçar Jesus e, com ele, a cruz que me salva?

Orai sem cessar: “Confia ao Senhor a tua sorte. Espera nele e Ele agirá!” (Sl 37, 5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sábado, 15 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Uma espada de dor... (Lc 2,33-35)
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A contemplação das dores de Maria é bem mais que uma piedosa tradição do povo católico. Trata-se de um remédio para muitos males de nosso tempo, como a doença de buscar a felicidade a todo preço, em qualquer circunstância, como se fosse possível passar pela Terra sem sofrer.
Maria de Nazaré é uma Mulher, escolhida por Deus para a missão única de ser a Mãe do Salvador. Mas esta escolha não faz dela um anjo, puro espírito, vacinado contra a dor. Não lhe dá nenhum privilégio neste vale de lágrimas onde vivemos. Ao contrário, profundamente humana, Maria participa em tudo de nossa humanidade, com suas angústias e inquietações, até o clímax do Calvário.
E exatamente por conhecer na sua própria carne a dor humana, Maria sabe fazer o papel de nossa intercessora junto a Jesus, sempre terna e compadecida diante de nossas dores, nossas perplexidades, nossas angústias... e até mesmo de nossos pecados...
Certo exagero em ver a Mãe de Deus como rainha coroada, cercada de anjos, pisando em nuvens, revestida de tons dourados, pode nos dar uma visão falsa de Maria. Não podemos esquecer a jovenzinha de Nazaré, a mãe que amamenta o filho, a dona de casa que cozinha, lava roupa e varre a casa. Esta é a Maria real. Esta é a Maria que sofre.
Vem deste Evangelho o costume de retratar N. Sra. das Dores com uma espada no coração. A dor que ela experimenta neste episódio brota da profecia de que seu Filho será um “sinal de contradição”, isto é, levará as pessoas a tomar uma decisão: ser a favor ou ser contra Jesus Cristo.
Assim como a espada separa a carne que ela atinge, assim também a pessoa de Jesus exige um corte radical entre o pecado e a salvação, entre o erro e a verdade, entre as trevas e a luz. “Simeão define Jesus como o sinal colocado por Deus, que obriga inevitavelmente todo homem a se decidir: para a morte ou para a vida. Embora ele seja sinal de salvação, sempre encontrará oposição. E aqui serão reveladas as perplexidades, as dúvidas e as maldades ocultas no coração do homem.”
Assim, as palavras de Simeão a Maria já antecipam o anúncio da Paixão de Cristo: “Uma espada transpassará a tua alma”. E como ninguém está tão unido a Jesus quanto Maria, a rejeição contra o Filho há de ferir também o coração da Mãe. Apesar da dor, Ela permanecerá sempre fiel a seu Filho, sem se fazer de vítima, sem fazer do sofrimento uma desculpa para compensações.
O sofrimento de Maria é uma COM-PAIXÃO. Ela sofre a Paixão de seu Filho. Somos chamados a sofrer a mesma dor. Sofrer ao ver que Jesus é rejeitado, agredido, caluniado. Sofrer quando o mundo recusa a salvação por ele oferecida. E ao ver desperdiçado o sangue derramado por todos nós.
Orai sem cessar: “Completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo... (Cl 1,24)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Deus amou o mundo... (Jo 3,13-17)
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“Cristo me amou e se sacrificou por mim”, reconhece o Apóstolo Paulo (cf. Gl 2,20). Esta “descoberta” parece comum a muita gente. Ao contemplar o Crucificado, muitos fiéis pressentiram que tinham sido o alvo de um grande amor. E São João vem confirmá-lo: “E como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.” (Jo 13,1.) Mas o Evangelho de hoje vai muito além. Não apenas amou “os seus”, mas amou o “mundo”! E muitos cristãos aprenderam uma lição no mínimo ambígua, que mandava odiar o mundo, fugir do mundo, desprezar as coisas do mundo. Como desprezar aquilo que Deus ama?


Bem, é preciso distinguir duas coisas diferentes: de um lado, o “mundo” enquanto espaço fechado à graça e à luz divina, uma “sociedade” oposta a Deus (esse mundo, de fato, tem o seu próprio Príncipe, o demônio – cf. Jo 12,31); e do outro, o “mundo” enquanto criação amada por Deus, o conjunto da humanidade e seu ambiente vital.
Ora, o mundo experimentara uma decadência mortal. O Capítulo 3º do Gênesis fala de uma intervenção maligna que induziu a humanidade a se afastar de Deus e sofrer uma “degeneração” que se reflete em toda a Criação. O caos substitui a ordem que emanava do Logos criador. Essa des-organização interfere na relação homem/mulher, vicia as relações sociais, ameaça o próprio mundo material.
Natural, Deus não ficaria indiferente à perversão de sua Obra. Demonstrando infinito amor ao Pai, seu Filho, cheio do Espírito Santo, aceita assumir a carne dos mortais e, experimentando toda a nossa natureza, exceto o pecado, se oferece no Calvário em sacrifício de expiação. Sua obediência dilui a rebeldia do início e “tira” de modo radical o pecado do mundo. Foi assim mesmo que o Precursor o identificou: “Eis o Cordeiro (leia-se, a vítima) de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1,29.)
Os santos comungaram desse amor e, por isso mesmo, dedicaram toda a sua vida a participar da obra de salvação realizada por Jesus Cristo. Os missionários da linha de frente e os enclausurados da retaguarda, todos se oferecem COM Cristo, porque entenderam que Deus ama o mundo. Por isso mesmo, não ficariam neutros diante de sua corrupção.
E quanto a nós? Amamos também o mundo que Deus criou? Estamos dispostos a trabalhar por sua salvação?
Orai sem cessar: “O Senhor é bom para com todos,
e sua misericórdia se estende a todas as suas obras.” (Sl 145,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Oferece a outra face... (Lc 6,27-38)
Resultado de imagem para (Lc 6,27-38)        Mais uma vez, a doutrina do Senhor pode nos escandalizar. Então, eu sou agredido em uma face e Ele me pede para apresentar também a Outra?! Não tenho o direito legítimo de me defender do agressor? Bem, de fato, estamos aqui diante de uma situação que permite gradações de comportamento.
        No tempo das cavernas, o agredido costumava revidar além da conta. Quase sempre, a vingança ia muito além da ofensa. Tanto que foi dada aos antigos a lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente” (cf. Mt 5,38). Permitia-se a vingança, mas proporcional à ofensa sofrida. Sim, já era um progresso, pois, se dependesse de nossa capacidade de odiar e revidar, a quem nos furasse um olho, vazaríamos os dois; a quem nos quebrasse um único dente, arrancaríamos a dentadura inteira. Somos assim... Então, a “nova lei” de Moisés ao menos estabelecia certo equilíbrio entre o crime a punição.
Veio Jesus Cristo e corrigiu o velho adágio: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau”. (Mt 5,39.) E não só ensinou assim, mas agiu de acordo com sua lição: cravado na cruz, rezava ao Pai em favor de seus agressores: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34.) Estevão, o protomártir, repetiria a mesma atitude (cf. At 7,60. Maria Goretti, apunhalada seguidas vezes pelo jovem que tentava estuprá-la, perdoou-o antes de morrer.
               Não deveríamos escandalizar-nos muito mais com esses exemplos do que com a lição do Mestre? Ou, quem sabe, escandalizar-nos com nossa facilidade em odiar e pedir vingança, com nossa dureza de coração?
               Sim, existe o direito de defesa. O “Catecismo da Igreja Católica” (nº 2265) ensina: “A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros. Preservar o bem comum da sociedade exige que o agressor seja impossibilitado de prejudicar a outrem. A este título os legítimos detentores da autoridade têm o direito de repelir pelas armas os agressores da comunidade civil pela qual são responsáveis”.
               Este é o direito reconhecido. Mas não é forte o suficiente para nos levar a esquecer que Jesus recusou defender-se, aceitando a prisão e a morte injustas. Não sem, antes, ordenar a Pedro que embainhasse a espada, alertando-o: “todos os que tomam da espada morrerão pela espada”. (Mt 26,52.)

Orai sem cessar: “Procura a paz e vai atrás dela!” (Sl 34,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Ai dos ricos! (Lc 6,20-26)
Resultado de imagem para (Lc 6,20-26)      Ameaça? Cominação? Uma espada erguida no ar? Ou antes uma urgente advertência? Será que Deus não ama os ricos e, ao optar pelos pobres, condenou irremediavelmente todos aqueles ao inferno?
               Não. Claro que não. Deus ama a todos, inclusive os ricos. Por isso mesmo, alerta-os a se deixarem amar, proteger e cuidar. Deus quer que sua providência amorosa seja sentida também pelos ricos.
               E aqui está o problema deles. Na condição de ricos, são tomados pela ilusão de que nada lhes falta. Facilmente acabam com o coração preso a suas riquezas, afinal, “onde está o teu tesouro, aí está o teu coração” (cf. Mt 6,21). Iludidos com sua aparente segurança, tendem a se esquecer de Deus e a centrar-se em si mesmos: “Descansa, come, bebe e regala-te”. (Lc 12,19.)
               Se tenho tudo, de nada preciso. Se tudo conquistei graças a meu próprio esforço, a quem eu seria grato? Se conto apenas com minhas capacidades, meu saber, minha conta bancária, não sou eu mesmo o meu próprio Deus?
               Pior, anestesiados pela própria fartura, tendem igualmente a se distanciar do próximo, como aquele rico que se banqueteava enquanto Lázaro, o mendigo, passava fome à sua soleira, as feridas lambidas pelos cães. (Lc 16, 19ss.) Distraídos de Deus, indiferentes ao próximo, como experimentar o amor?
               Claro, nem todo rico é assim tão louco! No Evangelho, há gente poderosa que decide contar com o poder de Jesus, como aquele centurião que pediu a cura do servo enfermo (cf. Lc 7,1-19). Havia gente rica que ajudava a Jesus com suas posses (como Joana, mulher do administrador de Herodes – cf. Lc 8,3), e foi também um homem rico que fez o enterro de Jesus (cf. Lc 23,50; Jo 19,38-39).
               Enfim, o mal não está na riqueza em si, mas no apego aos bens materiais, que escravizam o coração humano. Sem liberdade, como seguir a Jesus? Como amar o próximo? Por isso mesmo, quando o jovem rico se dispôs a seguir o Mestre, ouviu dele qual seria o primeiro passo: “Uma só coisa te falta... Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu!” (Mc 10,21.)
               Claro, o tesouro é o próprio Jesus. E, como escreveu a Pequena Teresa, “quem tem Jesus, tem tudo...”
Orai sem cessar:Graças a mim é que produzes fruto!” (Os 14, 8b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

PALAVRA DE VIDA


Passou a noite a orar... (Lc 6,12-19)
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Jesus Cristo não era um homem “comum”. Homem verdadeiro, sim, mas também verdadeiro Deus. Por isso mesmo, somos inclinados a imaginar que, para ele, as coisas fossem mais fáceis do que são para nós.
Em sua natureza divina, Jesus de Nazaré teria – imaginamos - uma visão completa da situação, perceberia logo a saída para os impasses e teria resposta pronta para todos os problemas. Ledo engano. Ao se encarnar, o Filho de Deus abrira mão, voluntariamente, de suas prerrogativas divinas: humano como nós, deverá “crescer” como todo filho do homem. Crescer no físico, no psíquico, no espiritual.
Por isso mesmo, não admira que, na iminência de escolher o primeiro grupo de seus apóstolos, tenha passado em vigília toda uma noite de oração, buscando aquelas luzes interiores necessárias a toda escolha. Ao recorrer ao Pai, em busca de luz e entendimento, Jesus manifesta sua total dependência em relação Àquele que o enviara a este mundo.
Sim, a oração é sinal de “dependência”. Quem reconhece seus limites de criatura, acode ao Criador. O filho obediente não age sem antes obter a aprovação do pai. E Jesus Cristo é esse Filho submisso, obediente aos desígnios do Pai.
Aliás, aqui mesmo está o nosso grande problema. Nós vivemos cheios de impulsos personalistas, preferências próprias, gostos pessoais. Pior ainda, ousamos chamar tudo isso de “inspiração”. Nós costumamos tomar sérias decisões que determinarão todo o nosso futuro (casar? / ter filhos? / assumir uma profissão? / mudar de emprego?) sem um tempo suficiente de oração, discernimento e orientação.
Bem, é que nós nos sentimos muito seguros, não é? Nós nos bastamos. Confiamos em nosso taco... Assim sendo, não precisamos rezar, não é? E lá vamos nós por caminhos tortuosos, dando trombadas e atropelando pessoas, fundamentados apenas em nosso infalível instinto de... pecadores...
O exemplo de Jesus deve animar-nos a corrigir diariamente a nossa rota. Abrir mão de nossa autossuficiência. Reconhecer nossa extrema dependência. Orientar de novo nossa vida para Deus e buscar as luzes do Espírito Santo. Este Espírito de sabedoria é quem pode ensinar-nos todas as coisas, mostrar-nos toda a verdade (cf. Jo 16,13).
Quanto tempo de nosso dia temos dedicado à oração?
Orai sem cessar: “O Senhor preservará teu pé de toda cilada.” (Pr 3,26)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.